Os showrooms das marcas do bairro Prado estão em movimento desde o final de janeiro, mas foi agora, após os feriados do carnaval, que a maioria delas concentrou os lançamentos para o inverno 21. Sob o impacto do momento, em um mercado oscilante, as labels demonstram que continuam acreditando na retomada dos negócios, mesmo com todos os percalços encontrados, como a ausência das feiras e o temor dos lojistas de virem a Belo Horizonte devido à Covid-19.
Mais do que isso, investiram em coleções mais comerciais sim, mas bonitas e robustas, com várias opções de modelos e, ponto comum em todas elas, a presença de cores, que vão dos tonss apastelados aos vibrantes. “É um inverno colorido, sem variantes do preto e sem a gama dos terrosos, de uma maneira geral”, confirma o estilista Virgílio Andrade.
Sabe-se que essa cartela vem das inspirações internacionais para a estação, mas metaforicamente funciona como um convite à alegria, sobrepondo-se ao período por que o mundo inteiro está passando. Uma espécie de positividade na moda. “Os compradores estão gostando da proposta de tons que remetem ao verão, principalmente os lojistas do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que se abastecem na cidade. Combina bem com o clima dessas regiões”, analisa. Na família dos verdes, o esmeralda continua imperando, mas a novidade é a chegada do verde néon, com sua explosão de luz.
Uma pitada de romantismo bucólico invade a moda, assim como os apelos da vida simples do campo, tema que foi desdobrado em várias histórias e contado por várias confecções mineiras. O que significa que as mangas bufantes e os babados, looks fluidos e leves, seguem inverno adentro como oferta para os consumidores. “Outra novidade é o comprimento, que está sendo chamado de over mídi, que nada mais é que o antigo longuete, fazendo companhia para os mídis e para os longos”, pontua Virgílio. Como diferencial, ele aponta os bordados em linha e em richelieu para ornar as peças.
Na coleção da Kalandra, por exemplo, os vestidos e saias longas e mídis ocupam grande parte das araras. Ela foi uma das marcas que tiveram que mudar de rota com o advento da epidemia. Especializada em festa e casual chic, a ausência das comemorações importantes, particularmente casamentos e formaturas, a levaram a uma guinada completa, passando a ofertar roupas mais casuais e urbanas.
Para conseguir seu objetivo, as irmãs Ana Flávia e Carol Castro convidaram o estilista Antônio Diniz para comandar a transformação com a recomendação de que não se perdesse de vista o DNA segundo o qual a grife sempre foi reconhecida. “Estou surpreendida com o resultado do trabalho e recebendo aprovação dos lojistas, que compreenderam a transição e a adequação ao momento atual. O efeito foi impactante. Além do mais, abri novos clientes, embora a venda esteja muito difícil”, confessa a empresária.
Mas ela está ciente de que esse é um problema de mercado no qual o presencial está sendo substituído pela tecnologia. A comercialização envolve envio dos pdfs das coleções, vídeos e muita troca de whatsapp com os compradores em detrimento do tête à tête e todas as suas vantagens. “É muito bom olhar no olho nas pessoas, verificar suas reações, propor alternativa na hora certa, argumentar. A venda on-line é mais racional”, enfatiza.
Outra novidade na Kalandra é a pronta-entrega. A empresa sempre apresentou suas coleções nas feiras de pedidos. Sair da venda programada para ofertar roupas já prontas foi outro grande desafio. “Estamos vivendo essa experiência pela primeira vez e ela exige agilidade. Para os que querem fazer pedido dos modelos que não estão na pronta-entrega naquele momento, oferecemos entrega rápida, no máximo 30 dias”, ressalta Ana Flávia. Para completar, a marca, que ficou conhecida pelo estilo plus size, agora se concentra também em grades menores.
O que continua em voga é a vocação para a qualidade, particularmente observada nos tecidos, como a tricoline, algodão com seda, têxteis com toques de seda, tules especiais. Dois florais delicados surgem na estamparia junto a um animal print estilizado em combinação de verde com lilás. A mistura de duas ou três nuances de tons em uma mesma peça também está presente na coleção.
Dresses “Como estamos passando por muitas mudanças, desta vez privilegiamos os vestidos, que sempre foram o carro-chefe da Kalandra. Fizemos também algumas saias, mas deixamos as calças, por exemplo, para uma próxima etapa, assim como a alfaiataria, os tecidos mais encorpados. Escolhemos os mais leves e fluidos, próprios para serem usados no dia a dia, com uma sandália rasteira. À noite, um salto já muda o look.” Entretanto, checando bem, alguns modelos são bem chiquezinhos, carregam uma certa pompa e circunstância e atravessam ocasiões bem elegantes sem fazer feio.
Não é à toa que a coleção se chama Essência: ao mesmo tempo em que traduz a necessidade de escapismo e reflexão, incitando a busca para se viver o momento, a Kalandra mergulhou na sua origem para efetuar a profunda mudança em seu mood. Segundo a label, testar fronteiras, buscar o equilíbrio, consumir experiências e viver o agora são os sentimentos essenciais a serem contemplados.
A verdade é que, depois de um ano de pandemia, novos comportamentos do consumidor já podem ser observados: a casualidade é o caminho desse tempo, o que não exclui o desejo de celebrações. A história demonstra que, após as catástrofes, as mulheres adoraram as novidades das novas estéticas e as adotaram num piscar de olhos. Que o diga monsieur Dior. Ana Flávia não exclui a possibilidade da volta das roupas de festas mais trabalhadas em bordados e outros ornamentos no futuro, como contrapartida das incertezas e sofrimentos por que a humanidade está passando agora.