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Estado de Minas CATAR 2022

Confronto entre escassez e fartura

Ao contrário da torcida argentina, que não sente o sabor de um título mundial desde 1986, no México, os franceses usufruem do momento mágico da seleção europeia


18/12/2022 04:00

Torcedor argentino no Catar
Torcedor do Boca Juniors, Horácio Granelli acredita que "chegou a hora" de comemorar novamente um título mundial da Argentina (foto: Fotos: João Vítor Marques/EM/D.A Press)

Torcedor francês no Catar
Nicolo de Manzini está confiante na vitória da seleção da França, mas não arrisca um resultado para a grande final

Enviado especial ao Catar

As ruas de Doha estão bem menos movimentadas que antes. Mas, na contramão da maioria que já deixou a capital do Catar, muitos torcedores de Argentina e França chegam ao Oriente Médio para a grande decisão da Copa, hoje, às 12h, no Estádio Icônico de Lusail. De um lado, a vontade feroz de voltar a ganhar o mundo após mais de três décadas fez milhares de alvicelestes saírem da América do Sul e atravessar o oceano. Do outro, a minoria francesa desfruta o momento mágico, com duas finais seguidas, feito sem precedentes na história do futebol do país. Na véspera do confronto, o Estado de Minas/Superesportes conversou com um argentino e um francês sobre o jogo que se aproxima.

“Noite para ser lembrada”

“Acho que esta é minha 30ª entrevista hoje”, sorriu Nicolo de Manzini, de 29 anos. A descendência italiana explica o nome e o sobrenome do francês, que pacientemente atendeu repórteres de todo o mundo no Souq Waqif, mercado tradicional de Doha e ponto de encontro de torcedores ao longo da Copa. Ontem, até a ex-presidente croata, a conservadora Kolinda Grabar-Kitarovic, visitou o local antes de ir ao Estádio Internacional Khalifa para a decisão do terceiro lugar contra Marrocos.

A missão de entrevistar torcedores dos finalistas um dia antes da decisão certamente foi dada a jornalistas de todo o mundo. Poucos no Catar, os franceses se viram em minoria em relação a marroquinos, croatas e argentinos, que coloriram os principais pontos turísticos da capital catari nos últimos dias. Isso explica por que Nicolo foi tão requisitado pelos repórteres: era um dos raros representantes da França no Souq.

Entre uma entrevista e outra, ele busca algo para comer. Está feliz pela performance da Seleção Francesa no Catar e animado pela decisão em Lusail, onde estará neste domingo.

“É um grande jogo, muito desafiador. Vai ser incrível, com Messi versus Mbappé. Uma noite para ser lembrada”, disse.

Nicolo não parecia tão ansioso ou preocupado com o que acontecerá na decisão. O francês saiu de Estrasburgo para desfrutar da primeira Copa do Mundo in loco da sua vida com a tranquilidade de quem comemorou o título quatro anos antes, no Mundial da Rússia. “Não tenho motivo nenhum para reclamar”, afirmou.

Ele justifica: não esperava alcançar a final mais uma vez. Afinal, a França iniciou a trajetória no Catar baqueada por uma série de lesões em jogadores importantes, como Kanté, Pogba e Benzema. Durante o Mundial, Lucas Hernández se juntou à lista. Mesmo assim, o time comandado por Didier Deschamps encontrou o caminho e fez valer o favoritismo.

“Eu acho que entramos mais pressionados nesta Copa. Na última, a França era outra no futebol. Claro, teve o vice-campeonato na Euro de 2016, mas acho que agora a pressão no ombro dos jogadores está ainda maior. Mas nós todos estamos superfelizes por eles terem chegado na final. Mesmo se eles perderem, estaremos superfelizes”, disse.

“São muitas emoções. Nós temos a Eurocopa, mas a Copa do Mundo, a cada quatro anos, é um momento para deixar os problemas do dia a dia de lado e pensar só sobre futebol, aproveitar”, completou Nicolo, que apostou na vitória francesa sobre os argentinos, mas preferiu não arriscar um placar.

“Temos fé que seremos campeões”

“Desfrutar”, palavra usada por Nicolo, talvez não seja a melhor para descrever o que sente Horácio Granelli, de 59. Não que o argentino de Buenos Aires não esteja aproveitando os dias no Catar, mas a emoção é bem diferente, um tanto mais visceral. Enquanto os franceses ainda sentem o sabor da taça conquistada há quatro anos, a torcida da Argentina precisa recorrer à memória para reviver o título mundial mais recente.

Torcedor fanático do Boca Juniors, Horácio estava em trio ao lado de Juan Moadeb, de 21, e Tomás Moadeb, de 15. De todos, só ele viu o último título mundial da seleção, em 1986, com Diego Maradona. Depois de tanto tempo de espera, crê que, enfim, chegou a hora de voltar a celebrar. “Este é o Mundial, não há outro”, disse. “O rival é difícil, mas temos muita fé que vamos ser campeões do mundo”, prosseguiu o argentino, ao demonstrar a ansiedade que parece contagiar a todos os que viajaram a Doha. Na conversa, os três falam da final contra a França como se fossem jogadores e tivessem que se preparar. “O foco agora é total no jogo de domingo”, disse Juan.

Toda a ansiedade se justifica. Afinal, são 36 anos desde o bicampeonato. Tempos de angústia, que forjaram novas gerações de torcedores que aprenderam que o amor pela camisa vale mais que os títulos. Mas creem que chegou a hora de voltar a ganhá-los, especialmente em um momento tão importante para o principal jogador da seleção. Soa como a última chance não apenas para que Messi alcance a glória máxima, mas também para que toda a nação o veja feliz pela conquista.

“Messi sabe que é a última grande chance que tem e focou nisso. Creio que toda essa energia e a equipe… Porque se formou, como nunca antes, uma equipe. Há muitas individualidades, mas há uma equipe para além de Messi”, analisou Horácio.

E ele tem razão. Apesar do protagonismo máximo do 10, o time do técnico Lionel Scaloni tem contado com grandes atuações de Dibu Martínez, Otamendi, Enzo Fernández, De Paul e Julián Álvarez.

Com eles em campo e a maioria nas arquibancadas, a Argentina espera acabar com a espera. Para isso, aceitam também uma ajudinha dos irmãos sul-americanos. “Nós acabamos de chegar, assistimos à Copa pela televisão. Encontramos no aeroporto muitos brasileiros que também compraram entradas para a final, pensando que o Brasil estaria. Eles me disseram que vão torcer para a Argentina. Espero que seja assim, que seja uma partida linda e possamos trazer a Copa para a Argentina”, pediu Horácio.

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