Bono aproveita quando a 'mãe' não está por perto e pula em cima da mesa. Em dias de sorte, consegue até roubar docinhos de casamento – os preferidos são os de damasco. Donga e Mel aproveitam a ausência dos 'pais' para dormir quase o dia todo. Já Dory gosta de dar voltinhas no terraço para tomar um ar e depois volta para a escada, onde fica à espera de seu tutor. Em comum eles têm o fato de ter nascido cachorros e ficar sozinhos boa parte dos seus dias. A curiosidade sobre como passavam o tempo levou Sarah, Marcelo e Luiz Fernando, assim como outros tantos responsáveis por pets, a filmar seus animais, ao melhor estilo Big brother.
Nas cerca de nove horas que passa sozinha, Dory, uma golden retrievier de 1 ano e 4 meses, não para quieta. Ela se diverte com brinquedinhos, sobe para o terraço para correr um pouco, deita, brinca de novo e vai para perto da escada quando vai se aproximando a hora da chegada do tutor, o administrador de redes Luiz Fernando Piantino, de 34 anos. 'Vi esse tipo de vídeo na internet e também queria ver o que a Dory aprontava quando não estou em casa. O que me surpreendeu foi que ela está sempre explorando alguma coisa', conta Luiz Fernando, que mora em Passos, no Sul de Minas.
O administrador fez um vídeo em time-lapse, sistema que tira uma foto a cada três segundos, e condensou tudo em uma versão de 13 segundos. Em outra ocasião, ele também acoplou uma câmera na cadela para ver o mundo do ponto de vista dela. 'Saí correndo e ela veio atrás para brincar. É bem engraçado porque a visão é diferente', afirmou.
A economista Sarah Guimarães Guedes, de 30, resolveu filmar seu maltês Bono, de 7 anos, para tentar descobrir como o pequeno consegue subir na mesa. 'Acho que ele sobre no braço do sofá e pula, mas não consegue descer. Fica lá em cima sem comer, beber ou fazer xixi e quando chego em casa se desorienta.' Até o fechamento desta edição, as tentativas ainda não tinham sido bem-sucedidas, mas Sarah registrou momentos de sono e curiosidade do 'filho', que se mostrou atento à gritaria de crianças brincando no prédio, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Ele sobe e desce do sofá, derruba a almofada e cheira e olha quase enfeitiçado para seu alvo preferido: a mesa.
TEMPO REAL
'O Bono já desembrulhou e comeu bem-casado que deixei na mesa. Uma vez tinha um pote de damasco selado, ele destruiu e comeu. Ficou três dias vomitando', lembra a economista. Outra 'arte' do maltês foi tirar um iPod de dentro de uma mochila e mastigar seu fone. O aparelho sobreviveu. Em um dia típico, o cãozinho fica até 12 horas sozinho, já que Sarah trabalha e estuda.
A preocupação com o comportamento dos cães lhasa apso, que ficam sozinhos no apartamento em Juiz de Fora, na Zona da Mata, levou o casal Marcelo de Oliveira e Silva, de 37, e Daniele Novais da Silva, de 29, a acompanhar o dia dos dois em tempo real. O gerente de projetos Marcelo se conectou por skype aos 'filhos' Donga, mais conhecido como Don, de 4 anos, e Mel, de 5. 'Tinha medo do temperamento deles. Queria saber se ficavam tristes ou choravam, porque os vizinhos sempre disseram que são muito quietos e não latem. Descobri que ficam muito tranquilos, comportados, brincam entre eles quando acordados, mas a maior parte do tempo ficam dormindo', conta Marcelo. Mel gosta mais de ficar no sol e Don procura a sombra. Eles só latem quando o casal chega em casa.
Os bichos nas telinhas
A fantasia sobre o que os animais fazem na ausência dos donos inspirou o filme Pets, a vida secreta dos bichos, cujo trailer foi lançado recentemente pela Universal Pictures. A animação, com estreia prevista no Brasil para o segundo semestre de 2016, mostra as rotinas de cães, gatos, peixes e pássaros de uma forma bem-humorada. Veja trailer oficial (2016) HD no YouTube.
Separação pode causar traumas
Quem deixa seu pet muito tempo sem companhia em casa deve mesmo ficar atento. Se o cão começar a apresentar mudanças significativas de comportamento ele pode estar sofrendo de ansiedade da separação. Nessa condição, o animal pode ter diferentes reações, na tentativa de chamar a atenção do seu tutor. Pode passar a fazer as necessidades nos lugares errados, latir ou chorar muito, ficar prostrado ou mesmo manifestar excesso de euforia. Outra característica do estresse é a automutilação e o excesso de lambeduras.
Segundo a professora de terapêutica veterinária da UFMG Gilcinéa Santana, os bichos que sofrem da ansiedade da separação podem ainda ficar mais suscetíveis a doenças de pele ou respiratórias, apresentar imunidade baixa ou perda de peso. “Quando essa separação é muito extensa e, às vezes, a pessoa chega em casa e tem outras prioridades, sem dar atenção ao animal, isso gera ansiedade.”
passeios Pelo bem do seu pet, o ideal, segundo a veterinária, é evitar se ausentar por longos períodos e, quando sair, enriquecer o ambiente com brinquedos e objetos para ele morder. Deixe comida e água à vontade. Antes de sair e ao chegar em casa, é preciso sair com ele para passear.
Outra dica é tentar evitar os rituais que possam ser associados à separação: por exemplo, uma despedida dramática que muitos costumam adotar.