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Estado de Minas XÍCARAS VALORIZADAS

Venda direta de grãos é alternativa para produtores mineiros de café especiais

Os clientes são cafeterias e o mercado internacional; remuneração pode ser até 40% superior


postado em 29/08/2016 00:12 / atualizado em 29/08/2016 11:14

(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Foi-se o tempo em que aprovar ou desaprovar um cafezinho se limitava a observar a quantidade de açúcar ou amargor que ele trazia ao paladar.

De uns anos para cá, o brasileiro tem aprendido a questionar e exigir muito dessa bebida, e os “culpados” por essa mudança de comportamento são os promissores cafés especiais.

Em expansão no Brasil, principalmente em Minas Gerais, a delícia – com a qualidade dos grãos como diferencial –  é promissora como negócio: a produção cresce em média 3% ao ano no país.

Rindo à toa, muitos produtores mineiros optam pela venda direta do grão, que remunera em até 40% a mais do que a venda do tradicional café como commoditie.


Regiões produtoras
Tradicionalmente, Minas conta com cinco regiões produtoras de cafés especiais: Cerrado, Sul, Chapada de Minas, Mantiqueira e Matas de Minas.

Por ano, sem distinção do tipo cafeeiro (especial ou não), Minas produz 28,5 milhões de sacas e, de acordo com a analista de agronegócio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Ana Carolina Gomes, até 20% dessa produção corresponde aos cafés especiais.

“Minas é o maior produtor de cafés do Brasil, pois tem clima e altitudes favoráveis para esse tipo de plantação. Estima-se que o tipo especial corresponda de 15% a 20% do total produzido”, comenta.


No ano passado, das 36,5 milhões de sacas exportadas pelo Brasil, quase 7 milhões foram de cafés especiais.

O segmento representa, hoje, cerca de 12% do mercado internacional da bebida e, conforme informações da Associação Brasileira de Cafés Especiais, os atributos de qualidade cobrem uma ampla gama de conceitos, que vão desde características físicas, como origens, variedades, cor e tamanho, até preocupações de ordem ambiental e social, como os sistemas de produção e as condições de trabalho da mão de obra cafeeira.

A entidade estima que o valor de venda atual para alguns cafés diferenciados tem um sobrepreço que varia entre 30% e 40% a mais em relação ao café cultivado de modo convencional. Em alguns casos, pode ultrapassar a barreira dos 100%.

Sem atravessadores

Para as vendas, há produtores que ainda contam com as cooperativas para os negócios. Porém, boa parte dos empresários do ramo está seguindo o caminho da venda direta.

“A venda de cafés como commodities era insustentável, porque sofre a variação da bolsa de valores”, comenta uma das sócias da Café Américo, Juliana Miari.

Ela conta que sua família está no ramo há mais de 100 anos, com produção em Três Pontas, no Sul de Minas. “O meu bisavô foi o primeiro a trabalhar com os grãos, depois foi meu avô e todos eles trabalhavam com o cultivo tradicional. Porém, desde a morte do meu avô, em 2003, começamos a estudar a dinâmicas dos cafés e passamos a compreender o cultivo do especial”, conta Miari, que hoje tem seu pai, Robson Cunha como mentor.


Ao fazer a venda direta do grão – hoje o Café Américo é vendido a cerca de 50 estabelecimentos em Minas –, Miari diz que o produto ficou menos suscetível às variações das commodities.

A empresa também vende o grão para clientes de outros países, como Japão, Estados Unidos e Portugal. “Começamos a vender para cafeterias em Belo Horizonte e, como vimos um bom retorno, investimos. No ano passado, abrimos uma torrefação e loja de distribuição, no Bairro Floresta. A demanda foi aumentando e, atualmente, vendemos para cafeterias, restaurantes e empórios.”


Uma saca de 60 quilos de café convencional custa hoje em torno de R$ 450. Porém, o valor praticamente dobra quando o café é especial, chegando a uma média de R$ 800 a saca. “Tem esse valor mais alto pelos custos agregados ao processo do café especial. A nossa intenção é sempre valorizar a cadeia inteira do processo, que vai desde a logística de entrega, funcionários que fazem a avaliação do grão, entre outros”, comenta Miari.

 

De acordo com o presidente do Centro do Comércio de Café de Minas Gerais, Archimedes Coli Neto, essa preocupação dos produtores com o manuseio dos grãos se reflete no produto final, sendo cada vez mais cobrado pelo mercado. “São cafés com uma pontuação altíssima, por isso é promissor. Embora diante da safra brasileira os diferenciados ainda não tenham uma participação maior, há sinais de uma tendência para a demanda por esse tipo especial. O consumidor está mais exigente e as produções estão correspondendo a isso”, afirma.


Segundo Rodrigo Campos, empresário em Goiânia da cafeteria Atelier do Grão, o potencial da venda direta de grãos está no controle de qualidade que o empresariado passa a ter. “Há três anos faço a compra direta, vou para Minas Gerais, São Paulo e Paraná e, nesses lugares, vejo o que estou levando. Com as cooperativas, não se sabe a qualidade nem a procedência”, afirma, dizendo que há empresários que chegam a pagar R$ 1,5 mil por uma saca.

“O importante nessa cadeia é que você compra algo de qualidade e paga por isso. Meus clientes adoram os produtos que trago e valorizam o estabelecimento por isso”, conta.


Ana Carolina Gomes diz que, além de os hábitos dos consumidores mudarem ao longo do tempo, eles estão cada vez mais preocupados com a origem dos grãos.

“Hoje, as pessoas querem a qualidade do café, saber onde foi produzido, em qual altitude, entre outras informações.” Ela justifica o valor mais alto da saca dos diferenciados pelo processo cuidadoso que os produtores do ramo têm. “Há um cuidado especial que passa pelo manuseio da colheita, secagem dos grãos, ponto de maturação correto, entre outras medidas que vão garantir o sabor e a qualidade da bebida. Não é necessária uma tecnologia mais avançada para isso, mas há muito trabalho”, afirma.

Uma semana só para o café

Um público de cerca de 15 mil pessoas deve participar da quarta edição da Semana Internacional do Café (SIC 2016), que vai ocorrer entre 21 e 23 de setembro, no Expominas, em Belo Horizonte.

Na oportunidade, os cafés especiais estão entre as atrações do evento, principalmente para os empresários estrangeiros que virão a Minas para apreciar a bebida.

“Quem vem conhecer o café brasileiro vem conhecer os especiais. É uma oportunidade para os produtores apresentarem seus produtos e fazer bons negócios”, comenta Ana Carolina Gomes, analista da Faemg.

Uma das ações do evento dura um mês e começou na última semana. Trata-se do projeto Café da Semana – circuito com 16 cafeterias e espaços que oferecem cafés especiais na capital.

Esses locais vão apresentar aos clientes bebidas elaboradas com grãos cultivados nas cinco grandes regiões produtoras de Minas Gerais, além dos diferentes métodos de preparo (espresso, aeropress, hario V60, prensa francesa e kalita wave). O projeto é uma parceria com a Liga dos Baristas, fundada pelo barista e mestre torrador do Café das Amoras, Felipe Brazza.

“Nesta edição, haverá mais casas. Além de focar no público da feira e visitantes, vamos envolver a cidade neste conceito de café de qualidade, indicando os lugares que oferecem bons cafés”, comenta Brazza, explicando que cada casa vai apresentar um café da região mineira.

Brazza está à frente do Café das Amoras junto com a sócia Gabriela Mendonça. Para ele, o café especial está em expansão e eles buscam novos nichos para a marca. Entre os clientes, eles têm também grandes empresas e instituições, como o Centro de Artes Contemporânea Inhotim, em Brumadinho, na Grande BH.

“Antes, ninguém conhecia os diferenciados. A Academia do Café, em BH, foi quem começou com isso na cidade. Atualmente, o mercado está muito mais maduro e o Brasil vive uma terceira onda do café”, afirma Brazza, dizendo que o terceiro momento trouxe novos métodos e os diferenciados não são iguais àqueles vendidos em supermercados.

“O Café das Amoras, produzido na Serra da Mantiqueira, torra duas sacas por semana. Antes, era uma saca a cada dois meses. Tem muita estrada ainda, mas estamos em ascensão”, afirma, dizendo que a seleção de grãos é o que deixa a bebida mais cara que a convencional. (LE)

 


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