(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas ENTREVISTA

'Medidas populistas vão fracassar', garante presidente da Acrefi

O empresário Luís Eduardo da Costa Carvalho critica proposta do governo de tentar controlar preços, vê inflação em queda e crescimento do PIB


13/06/2022 04:00 - atualizado 13/06/2022 07:49

Luís Eduardo da Costa Carvalho, presidente da Acrefi
Presidente da Acrefi não vê problema na inadimplência e prevê aumento do volume de crédito este ano (foto: Divulgação/Acrefi)
A tentativa do governo federal de reduzir a inflação com represamento de reajustes, como no caso da gasolina, que está há mais de 90 dias sem aumento, ou adiamento de correções, como na energia elétrica, está fadada ao fracasso na avaliação do presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Luís Eduardo da Costa Carvalho.

“A gente já viu isso algumas vezes e nunca funcionou, nunca deu certo. Com certeza não vai dar certo. Todas as medidas populistas de tentar controlar o preço vão dar com os burros n'água, fracassar”, afirma o fundador da Lecca Financeira que foi reeleito este ano para novo mandato à frente da Acrefi. Luís Eduardo lembra das tentativas frustradas nos governos José Sarney e Dilma Rousseff

Para ele, a inflação, embora ainda alta, começa a dar sinais de que recuará no segundo semestre como efeito da política monetária que elevou a taxa básica de juros a 12,75% ao ano. A previsão da entidade é de novo aumento na Selic está semana, com a taxa subindo para 13,25%. Essa queda da inflação, no entanto, pode ser freada pelo aumento dos gastos públicos em ano eleitoral.

“A expectativa de que a inflação venha a sofrer alguma queda por ação da política monetária não será tão acentuada exatamente porque a injeção de recursos na economia, com os gastos eleitorais, aumenta ainda mais o consumo e dificulta o combate à inflação”.

Sem arriscar previsões para o resultado das urnas este ano, Luís Eduardo critica a polarização e vê com bons olhos a possibilidade de ascensão de um nome da terceira via. “O jogo está começando ainda, tem 90 minutos ainda de jogo pela frente, fora a prorrogação. Então acho que ainda é cedo para se fazer um prognóstico sobre resultado da eleição”.

Em relatório divulgado na sexta-feira, a Acrefi elevou suas projeções de inflação e crescimento econômico para este ano. A previsão do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passou de 7,89% no fim de abril para 8,20% agora, enquanto a expectativa em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) passou de 0,7% para 1,5%.

“A reabertura da vida pós pandemia trouxe um crescimento do segmento de serviço e isso surpreendeu favoravelmente. Então tem se hoje uma perspectiva de fechar o ano de 2022 com um crescimento maior do que aquilo que se estimava no início do ano”, explica Luís Eduardo. Leia abaixo a entrevista concedida por ele ao Estado de Minas.


Nós estamos praticamente na metade do ano. O que se previa no início e o que se pode esperar a partir de agora para o fechamento do ano?
O ano começou de uma forma pouco animadora, com a inflação batendo níveis muito altos e muito acima das metas estabelecidas pelo Banco Central e isso vem forçando o Banco Central a periodicamente rever as taxas de juros, o que evidentemente traz consequências para a atividade produtiva. Então o crescimento econômico esperado para o ano foi bastante prejudicado em função dessa combinação de uma inflação alta e uma política monetária muito restritiva, com elevação da taxa de juros a níveis já há muito tempo não praticados no Brasil. Então isso afeta o consumo e consequentemente a atividade econômica fica prejudicada. Por outro lado, a reabertura da vida pós pandemia trouxe um crescimento do segmento de serviço e isso surpreendeu favoravelmente. Então tem se hoje uma perspectiva de fechar o ano de 2022 com um crescimento maior do que aquele que se estimava no início do ano, muito provocado pelo setor de serviço que retomou um ritmo de atividade que em alguns setores vem voltando aos níveis pré pandemia. Então isso é o lado bom. O segundo semestre, a gente já espera um início da queda da inflação como consequência da mudança da política monetária e espera-se que no próximo ano, em 2023, a inflação já esteja dentro da faixa definida pelo Banco Central mais próxima do teto do que na parte inferior da faixa, mas já é uma expectativa positiva. Do ponto de vista da atividade econômica, a gente pode ter no segundo semestre também algum impacto por ser um ano eleitoral, de gastos públicos em todos os níveis, municipais, estaduais e em nível federal, dos políticos em busca de suas reeleições. Então é sempre um período em que há um aumento do gasto público, daqueles que estão em busca de suas reeleições ou buscando eleger os seus sucessores. Eu diria que as incertezas vão criar uma instabilidade, uma volatilidade nos mercados que é o que a gente já vem sentindo hoje no dia a dia. Basicamente, e essa é a maneira como eu estou vendo o final desse ano.

Mas não há o risco de o aumento nos gastos públicos fomentar o consumo e pressionar a inflação que já está muito alta. Por outro lado não gera um descontrole nas contas públicas?
Esses dois aspectos devem ocorrer. Quer dizer, por um lado a expectativa é de que a inflação venha a sofrer alguma queda por ação da política monetária, mas essa queda não será tão acentuada exatamente porque a injeção de recursos na economia com os gastos eleitorais aumenta ainda mais o consumo e dificulta o combate à inflação. Certamente esse fator nós vamos enfrentar. Do ponto de vista do gasto público, nós vamos ter algumas circunstâncias: em nível de municípios e estados nas quais não necessariamente os gastos venham a comprometer os limites, estourar os limites estabelecidos. Em nível federal é que a situação é diferente e é mais complicada porque os números já estão bem altos, então com relação a gastos do governo federal a preocupação é maior.

Como senhor vê essas medidas que o governo vem buscando de redução de impostos para baixar preços e de represamento de reajustes na Petrobras, que está há mais de 90 dias sem mudar o valor da gasolina, e na tarifa de energia?
Vejo com grande tristeza. Grande tristeza, porque pessoas que como eu estão há mais tempo no mercado, já viram isso algumas vezes e nunca funcionou, nunca deu certo. Com certeza não vai dar certo. Todas as medidas populistas de tentar controlar o preço vão dar com os burros n'água, fracassar. Então, você tem o exemplo aí do Plano Cruzado, do ministro (Dilson) Funaro querendo correr atrás dos sonegadores, correr atrás do boi no pasto porque alegava que os fazendeiros estavam boicotando e não queriam botar o boi no frigorífico para conseguir preços melhores. Você tem o caso da Dilma (Rousseff), que subsidiou a tarifa de energia elétrica e desorganizou todo o mercado de energia. Exemplos assim gritantes e ainda assim hoje ouvi-se declarações do Bolsonaro e do Lula fazendo demagogia para pessoas humildes que não conseguem entender como funciona a economia de mercado.  É uma tristeza, Muito triste.

Hoje o Brasil em uma inadimplência muito alta. Até que ponto esse quadro está afetando o crédito que seria uma mola para a atividade econômica?
Sem dúvida nenhuma que a combinação inflação alta e taxas de juros em ascensão provoca um aumento da inadimplência e isso certamente afeta o crédito. No entanto, eu diria que isso já vem sendo percebido pelo mercado há algum tempo, há alguns meses e muitas medidas e providências foram tomadas. Então, há uma revisão de políticas de crédito, revisão de concessão de crédito e isso são medidas que vem sendo praticadas pelo mercado e já trazendo os índices de inadimplência para baixo. Não vejo nenhuma preocupação com a piora da inadimplência, pelo contrário, acho que o mercado já reagiu e tomou suas medidas e os índices de inadimplência já começaram a ceder.

Mas essas restrições não pode afetar o volume de crédito tomado pelo brasileiro? O crédito vai ter expansão ou não este ano?
A previsão é de crescimento do crédito, entretanto, não tanto no crédito para pessoa física, mas para pessoa jurídica (a Acrefi prevê crecimento de 8,9% no crédito total este ano). Você tem alguns setores da atividade econômica, do setor industrial, principalmente, já com sinais de crescimento da sua atividade econômica e com isso aumenta a demanda por crédito e é onde exatamente você teve menos problemas de inadimplência. Problemas de inadimplência ficaram muito localizados no segmento de pessoas físicas, porque as famílias estão com seus orçamentos comprometidos pelo aumento da inflação e pela subida da taxa de juros. Então no segmento de pessoa física e você vê que no financiamento de veículo houve uma retração, exatamente pelo aumento da taxa, pelo aumento da inadimplência e pelo aumento do comprometimento da renda, então alguns setores estão tendo volume de créditos menores que estão sendo compensados por outros setores onde a demanda por crédito aumentou.

A Câmara dos Deputados aprovou mudanças nas regras para permitir que um imóvel dado em garantia de empréstimo possa ser executado pelo banco em caso de não pagamento da dívida. Até que ponto essa medida poderia aumentar o volume de credito reduzindo o custo?
Não houve propriamente uma mudança na regra da alienação fiduciária dos imóveis. Quer dizer, o governo tem procurado criar mecanismos que facilitem a retomada das garantias e isso é muito positivo. Por outro lado, o governo também tem incentivado e buscado criar regras que permitam que um mesmo imóvel possa ser dado em garantia a mais de um credor. Essa segunda hipótese ainda não está regulamentada, mas há uma perspectiva de que isso venha a ser definido até o fim do ano. Então, isso é positivo, quer dizer, toda e qualquer medida que torne a recuperação de garantias mais simples e mais rápida é benéfica ao mercado de crédito. Mas isso, eu diria que o efeito não é rápido, são medidas importantes e necessárias que terão efeito a médio e longo prazo.

Quais são os riscos que o senhor vê hoje para a economia brasileira, no momento em que há uma perspectiva de maior aumento da atividade a OCDE reduziu a projeção do PIB, por exemplo?
Em nível mundial o cenário não é muito favorável. Isso evidentemente não contribui para a situação do Brasil. A disputa vamos dizer polarização entre os dois candidatos que têm maior índice de aprovação, e de reprovação também, não é um fator favorável. Os jornais dão notícia de um acordo PSDB e MDB e a formação da chapa (Simone) Tebet e Tasso (Jereisatti) que eu vejo positivamente. Começa a surgir talvez um potencial candidato da terceira via. Então eu acho isso positivo. Se vai dar certo e se na prática vai ter resultado eu não sei. Ainda é cedo para a gente fazer um prognóstico, mas é um sinal positivo. O jogo está começando ainda, tem 90 minutos ainda de jogo pela frente, fora a prorrogação. Então acho que ainda é cedo para se fazer um prognóstico sobre resultado da eleição.

Como o senhor está vendo a volatilidade nos mercados, que continua. Há um teto para o dólar? Se por um lado o câmbio desvalorizado beneficia nossas exportações no mundo que está demandante, por outro encarece a importação.
Nós não estamos vendo nenhuma mudança radical no comportamento do dólar, na relação do real frente ao dólar. Acho que está num patamar que deve se manter até o fim do ano. Haverá uma especulação maior mais próximo da eleição se esse ou aquele candidato estiver aparecendo nas pesquisas um pouco melhor ou um pouco pior. Mas do ponto de vista macroeconômico eu diria que não há nenhum motivo para se imaginar a relação dólar e real muito diferente do patamar que está agora, de R$ 5 a R$ 5,50.

Qual a perspectiva do senhor em relação ao Brasil no médio prazo?
Olha, uma coisa que a gente sempre ouve falar é que o Brasil é o país do futuro, mas que é um futuro que nunca chega. Mas é um país com um mercado interno espetacular, que tem uma agricultura fantástica, que é o maior produtor de alimentos do mundo. Quando você começa a ter problemas de falta de produção de alimentos para tudo que é lado, o Brasil tem uma capacidade fantástica de produzir alimentos. Então o que falta realmente são políticos de boa qualidade, sensatos e que saibam fazer o básico. Ninguém quer milagres, o que a gente quer são políticos que tenham o pé no chão e que façam a coisa acontecer da forma mais natural e tranquila possível sem querer reinventar a roda. Porque quando você vai para o interior do Brasil você encontra um Brasil diferente daquele dos grandes centros urbanos, onde você vê pobreza, onde você vê o aumento no número de moradores de rua. Felizmente, quando você sai dos grandes centros e vai para o interior, você vê um país diferente, com perspectivas de crescimento, com níveis de evolução dos índices de educação. Enfim tem muita coisa positiva acontecendo ao mesmo tempo.

Qual o impacto das fintechs no crédito mais especificamente?
Acho que esse é um movimento que o Banco Central percebeu e apoiou desde o início e que é o aumento da competitividade e a necessidade de promover desconcentração do mercado financeiro e isso está acontecendo. Talvez não na velocidade que se gostaria, mas é um processo que está acontecendo e que vai aumentar pouco a pouco com mudanças como PIX, open banking e coisas do gênero que já tiraram da zona de conforto os grandes bancos brasileiros. Acho que o papel que as fintechs estão desempenhando é altamente benéfico para o país, para a sociedade e para o mercado financeiro, porque os próprios bancos, os grandes bancos, precisam entender que a situação não pode mais continuar do jeito que está.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)