
As vendas para o exterior do principal polo calçadista de Minas Gerais, Nova Serrana, no Centro-Oeste do estado, somaram US$ 14 milhões entre janeiro e setembro deste ano, crescimento de 93,7% frente ao mesmo período do ano passado e de 68,14% em relação a 2019.
Os dados foram divulgados pelo Sindicato Intermunicipal das Indústrias do Polo de Nova Serrana (Sindinova) e integram o banco de dados da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).
Quando analisados os índices do polo formado por Nova Serrana, Araújos, Divinópolis, Perdigão e São Gonçalo do Pará, o número sobe para US$ 16 milhões, crescimento de 88,1% em relação a 2020.
Maio e junho foram os meses que tiveram maior destaque, com variações de 301,8% e 352,7%, respectivamente. Os calçados fabricados com material têxtil foram os mais vendidos, com faturamento de US$ 11.177.153, seguido por plástico/borracha (US$ 3.892.975) e couro (US$ 664.616).
Impacto da pandemia
Na contramão de boa parte do mercado interno, que amargou a crise ao longo dos últimos meses, a expansão é reflexo de dois fatores, ambos puxados pela pandemia da COVID-19: qualificação dos produtos e dificuldade logística com a Ásia.
Para justificar os preços impactados pelo aumento do valor dos insumos, as fábricas foram forçadas a investir em qualidade e designer. “Os produtos ganharam mais qualificação e puderam entrar para o hall de exportação”, citou o presidente do Sindinova, Ronaldo Lacerda. Os calçados ficaram até 30% mais caros.
A dificuldade logística com a Ásia, principalmente devido a elevação do preço do frete, foi o outro fator fundamental para países, principalmente os vizinhos, enxergarem o Brasil como parceiro econômico.
“Não fosse a pandemia, o resultado não teria sido tão bom como foi”, afirmou Lacerda. A projeção é de crescimento de 100% na exportação até o final de dezembro deste ano e de 30% em 2022.
Em 2019, cerca de 2% do que era produzido no polo chegavam às prateleiras dos países vizinhos, como Argentina, Peru e Bolívia. A previsão é deste índice saltar para 4%, caso se confirme a previsão de dobrar o crescimento.
O boom, segundo o presidente, começou há dois anos com a criação do Núcleo de Exportação. “Fizemos um trabalho de atrair para o polo compradores internacionais. Eles vêm aqui para o polo, no centro de negócios, e fazemos agendamentos com as fábricas para que elas negociem diretamente com os importadores”, explicou. Das 830 empresas que compõem o polo, 50 exportam.
“Uma grande parte das empresas é beneficiada, porque algumas indústrias fazem parte do processo para outras. Temos algumas que fazem o solado, algumas a terceirização da costura, é um grande aglomerado”, completou.
Além de intermediar as vendas, o sindicato atua como um avalista. Ele faz a inspeção de toda a carga antes de enviar para fora do país. O núcleo foi responsável pelas vendas de 122.063 pares de calçados, o que gerou movimentações de US$ 817.300,18, somente este ano.
No acumulado de junho de 2019 a setembro de 2021, o setor intermediou a negociação de 187.982 pares de calçados e gerou um resultado de US$ 1.195.726,66.
Acima da média
A empresa de Cristiano Moreira registrou crescimento acima da média do polo. Em 2021, comparado com o ano passado, as exportações aumentaram 150%.
Cerca de 5% da produção vai para países como Portugal, Emirados Árabes, Estados Unidos, Colômbia e Paraguai, para citar alguns. Em média, são produzidos 150 mil pares de calçados voltados para a moda feminina.
Há quatro anos exportando, o boom fez com que o empresário se preparasse mais vislumbrando crescimento. “Coloquei uma equipe interna para cuidar apenas desta parte”, contou. Antes da pandemia, de 2019 para 2020, a empresa ampliou em 67% a venda externa e para 2022 a expectativa é de ficar no mesmo patamar.
*Amanda Quintiliano - Especial para o EM
