
O levantamento foi divulgado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas Econômico Sociais (Nepes), da Faculdade Una Divinópolis nesta quarta-feira (13/10).
Em setembro, o conjunto de alimentos passou a custar R$ 478,84, R$ 13,50 a mais do que em agosto, quando valor da cesta chegou a R$ 465,34.
A pesquisa foi realizada entre os dias 20 e 26 de setembro e seguiu a metodologia sugerida pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
O preço da carne é o que mais pesa. Só ele representa 40,82% da composição da cesta. Para a pesquisa foram considerados os valores dos cortes de chã de dentro e chã de fora.
Entre os itens que puxaram o preço da cesta estão:
- Banana prata (48,64%%)
- Óleo de soja (21,93%)
- Manteiga (9,23%)
- Açúcar (3,09%)
Por outro lado, houve queda no preço da farinha (15,23%), da batata inglesa (9,82%) e do pão francês (6,22%).
Regrando
Aposentada com um salário mínimo e com quase oito décadas de vida, dona Zeni diz ter vivido algo semelhante apenas na década de 1980. A aposentadoria que era dividida entre as despesas e a poupança, hoje é regrada para não deixar faltar o básico.
“Não se compra nada. É o arroz, feijão, o óleo, um fubá e vem embora para a casa. Está um absurdo. Um salário mínimo apenas pra mim era suficiente, eu ainda depositava um dinheirinho. Hoje não dá mais, tem que regrar”, relata.
A sorte da aposentada é o cultivo da horta. “No sacolão compro cebola e alho, o resto planto tudo”, conta. Do sítio ela também retira os ovos.
Pressão inflacionária
Os consecutivos aumentos são explicados pela pressão inflacionária dos últimos meses. “E a causa disso foi a redução da oferta em função da seca e do tempo frio dos últimos meses. Isto comprometeu o plantio, além também do aumento de outros itens, como a energia e o combustível, que encarecem o custo de se produzir”, explica o coordenador do Nepes, o professor universitário Wagner Almeida.
A inflação teve alta de 1,16% em setembro, a maior para o mês desde 1994, quando o índice foi de 1,53%. Os dados foram divulgado na última sexta-feira (8/10) pelo Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE).
O indicador acumula alta de 6,90% no ano e de 10,25% nos últimos 12 meses.
Renda encolhe
O custo com os alimentos básicos que em agosto comprometia 42,3% do salário mínimo, fixado em R$ 1,1 mil, hoje representa 43,5%. A alta é sentida, principalmente, pelos mais pobres, que veem, mês a mês, com a pressão inflacionária, o poder de compra encolher.
“Principalmente os menos favorecidos, que tendem a ter uma sensibilidade maior às alterações nos preços dos produtos. Quanto mais os itens da cesta básica sobem - assim como a alta no preço da energia, da gasolina e afins -, mais dificuldade o trabalhador terá para comprar e se manter”, explica o professor.
Com o mesmo salário e produtos mais caros, é preciso recorrer ao “malabarismo”.
“Pesquisar preços mais baixos, trocar por marcas mais em conta, reaproveitar, mudar hábitos, focar no que é essencial e deixar o supérfluo de lado”, orienta o coordenador.
A pesquisa estima que o salário mínimo necessário deveria ser equivalente a R$ 3.340,74, valor que corresponde a 3,04 vezes ao piso nacional vigente.
“O cálculo é feito levando em consideração a uma família de quatro pessoas, composta por dois adultos e duas crianças, que, por hipótese, consomem como um adulto, conforme orienta o Dieese. Pode-se inferir que este seria o orçamento total capaz de suprir, também, as demais despesas com habitação, vestuário, transporte e outros”, explica.
Com base no valor médio da cesta básica em setembro deste ano, o trabalhador divinopolitano remunerado pelo piso nacional precisou trabalhar 95 horas e 46 minutos.
*Amanda Quintiliano especial para o EM