(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas AUMENTOS NÃO PARAM

Inflação da carne ressuscita sobras em açougues e atinge até pés de galinha

Cortes de frango antes desprezados, assim como suã e miúdos de porco e cabeça de peixe, que passaram à mesa dos mais pobres, também encarecem


28/09/2021 14:30 - atualizado 28/09/2021 14:39

Aumentos puxaram consumo dos cortes baratos, e o quilo do pé de galinha passou de R$ 0,60 para 5,99, segundo Sérgio Santos
Aumentos puxaram consumo dos cortes baratos, e o quilo do pé de galinha passou de R$ 0,60 para 5,99, segundo Sérgio Santos (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Os seguidos aumentos dos preços das carnes forçaram as famílias de menor poder de compra, em Belo Horizonte, a buscar  cortes que eram desprezados, como alternativa para colocar a proteína à mesa . Pés de galinha, suã e miúdos de porco passaram a fazer parte do cardápio, mas com a demanda maior, nem mesmo esses produtos estão fora  da corrida dos preços. Açougues da capital oferecem também cabeça de peixe para caldos. A nova realidade, que aumenta a pressão sobre o orçamento do consumidor, é o retrato da inflação elevada, segundo levantamento divulgado ontem pelo site de pesquisa de preços Mercado Mineiro.

Na capital mineira, cortes pouco requisitados em outros tempos ganharam vez com o aumento geral do preço das carnes, a exemplo de pés de frango, dorso de frango, recorte de costela suína e cabeça de peixe. A oferta por até R$ 5,99 da cabeça de salmão para moqueca já pode ser vista anunciada em alguns açougues. Contudo, pesquisa de preços já se tornou necessária, diante das variações que o Mercado Mineiro encontrou.

O preço do quilo do pé de frango pode variar de R$ 5,98 a R$ 13,99 em BH e rmegião etropolitana, variação de 134%. A mesma quantidade da asa resfriada pode ser encontrada a custo variando de R$ 12,90 a R$ 23,95, diferença de 85%.  O dorso do animal é encontrado a partir de R$ 6,99.

As vendas de pé de frango cresceram de 40 quilos para 300kg por semana na Casa de Carnes Xavier, no Bairro Santa Efigênia, o que fez com que os preços também acompanhassem a corrida e passassem de R$ 2,99 para R$ 3,55 o quilo, explica o gerente Wanderson Edson Pereira da Silva. Na mesma proporção, as vendas de orelha de porco, asinha e coxa também subiram.

Gerente da Casa de Carnes Balinha, no Bairro Cabana, na Zona Oeste de BH, Fabrício dos Santos Borges, de 42 anos, conta que há quatro anos o quilo do pé de galinha era vendido a R$ 0,50. "Hoje, já está a R$ 8. E começa a encalhar, porque as pessoas estão sem dinheiro”, afirma. Quem comprava filé de peito de frango a R$ 12,90, agora compra coxa a esse preço. O custo do filé já chega a R$ 20 o quilo. O peito com osso no Açougue Balinhas encareceu de R$ 7,99 para R$ 13,99 o quilo.

''Humilhação pra gente, que quer dar o melhor para o filho ou o neto'' - Vera Fernandes, auxiliar de limpeza, que não consegue colocar carne à mesa
''Humilhação pra gente, que quer dar o melhor para o filho ou o neto'' - Vera Fernandes, auxiliar de limpeza, que não consegue colocar carne à mesa (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

A preocupação do gerente Fabrício Borges é compartilhada pelo açougueiro Sérgio Linhares dos Santos, de 28, da Casa de Carnes Vereda, instalada no Bairro Vista Alegre. “Os constantes aumentos da carne de boi fizeram os clientes passarem a consumir mais porco e frango. Com os cortes nobres mais caros, as pessoas mudaram para asinha, pé de galinha, miuúdos de porco”, afirma.

O pé de galinha, que custava cerca de R$ 0,60 o quilo e costumava sobrar no açougue, agora é tão demandado que a empresa comercializa 40 quilos por semana e o preço subiu a R$ 5,99 o quilo. “Alguns clientes chegam aqui pedindo doação de 'muxibinha' pra misturar com batata. A gente então doa, não dá pra vender”, destaca Sérgio Santos.

Outra carne incluída entre as opção mais baratas nos açougues é a salsicha. Na Região Metropolitana de BH, de acordo com a pesquisa do Mercado Mineiro, o preço do quilo do produto varia de R$ 8,98 a R$ 15, disparidade de 67%. Parte da mesma lista, o recorte de costela suína custa de R$ 8,49 a R$ 9,99, aumento de 18%.

'Tristeza' 


“Humilhação pra gente, que quer dar o melhor para o filho ou o neto", resume, sem esconder a revolta com a situação dos preços,  a auxiliar de limpeza Vera Fernandes, de 60. “Este será um Natal triste, talvez uma salada de ovos e alface. Pernil e chester, nem pensar. Tudo muito caro."

Vera recebe R$ 1.100 por mês, após descontos, e paga R$ 600 no aluguel. "Lá pelo dia 20, não tenho sequer um real e passo pelo açougue e vejo um quilo de carne a quase R$ 50. Nem mesmo um pezinho de frango, uma moela ou um suã dá pra comer todos os dias. Dá uma tristeza em pensar que há famílias inteiras em situação ainda pior que a minha."

Na Casa de Carnes Santa Efigênca, as vendas de carne bovina vêm caindo, em média, 30% a cada mês, segundo o gerente José Pereira dos Santos, enquanto pés de galinha, miúdos e orelha de porco tiveram alta nas vendas de quase 40% nos últimos três meses.

Israel Dores reclama do ''absurdo'' dos preços e confirma que corte sem glamour algum voltaram com toda a força aos balcões
Israel Dores reclama do ''absurdo'' dos preços e confirma que corte sem glamour algum voltaram com toda a força aos balcões (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

“Não sou de comer muita carne, mas sempre quando falta dá vontade”, contra a aposentada Ana Neiva, de 85, moradora do Bairro Vista Alegre. Ontem, ela comprou costelinha de porco, mas, algumas vezes, consegue levar para casa asa ou coxa de frango. Embora morando sozinha, diz gostar de fazer “gracinha” no Natal para os filhos e netos. Contudo, admite que está cada vez “mais difícil.”

“Minha filha mora na Suíça, e quando vem reúne os irmãos e cada um ajuda de um lado. Acredita? Outro dia, pesei um frango e deu R$ 35. Dispensei e troquei por duas coxas”, afirma Ana Neiva. Para o agente de saneamento Israel Procópio das Dores, de 44, “tudo´está um absurdo, cada dia um preço. Carne de boi, então, além de cara, a qualidade caiu muito. Tudo que andava sumido reapareceu, como a carcaça, pé de galinha, bofe de boi, tudo voltando e o orçamento cada vez mais curto."

Sem pequisa, consumidor paga até 246% a mais

Cortes da carne de boi como acém, chã de dentro e picanha baratearam em relação a agosto na Região Metropolitana de Belo Horizonte, mas o consumidor tem dificuldade de perceber as quedas, uma vez que o custo da proteína se mantém elevado. Segundo a pesquisa do site Mercado Mineiro, o preço médio do quilo da picanha caiu 1,44% entre 20 de agosto e a sexta-feira da semana passada. Ainda assim, a carne é encontrada ao preço médio de R$ 59,52, de acordo com levantamento feito em 39 estabelecimentos de BH e entorno, entre os dias 22 e 24 deste mês.

Entre os cortes de carne bovina que encareceram, o maior aumento no período de um mês foi constatado para o filé mignon, de 3,38%. O preço do quilo passou de R$ 56,66 para R$ 58,58. Por sua vez, a carne suína manteve o preço médio de agosto para setembro. Movimento oposto mostrou o frango, que deixa de ser alternativa para o consumidor fugir da alta da carne. Em um mês, o Mercado Mineiro verificou elevação do preço médio de 6,77% no quilo do frango resfriado, 6% no peito resfriado e 4,19% em coxa e sobrecoxa.

Partes nobres da ave já mostravam grande disparidade de preços e ela continua. É possível encontrar, em BH, o quilo do frango resfriado com variações nas tabelas de 66%, entre R$ 8,99 e R$ 14,95. O filé de peito é oferecido a preços de R$ 14,98 a R$ 25,90,  73% de aumento. Coxa e sobrecoxa custam de R$ 10,99 a R$ 15,95 o quilo, diferença de 45%.

As disparidades de preço para o mesmo produto chamam a atenção em todos os tipos de carne. O quilo da fraldinha, por exemplo, mostra diferença de 203% nos preços na Grande BH, custando de R$ 27,99 a R$ 84,95. Se a opção for o contrafilé, o consumidor pode pagar de R$ 37,99 a R$ 79,95, variação de 110%. O preço do quilo do acém vai de R$ 26,99 a R$ 39,90, diferença de 48%, enquanto o quilo da chã de fora é encontrado entre R$ 31,99 e R$ 52,90, aumento de 65%. Quanto à carne suína, o quilo da bisteca pode custar de R$ 12,99 a R$ 44,95 em BH, 246,04% a mais.  
 








receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)