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Estado de Minas A RETOMADA

Salões de Beleza atendem com protocolos reforçados e rédea curta nos gastos

Com o caixa fragilizado, estabelecimentos de BH registram movimento crescente e confiam na tradicional demanda de fim de ano


25/09/2021 04:00 - atualizado 25/09/2021 07:30

Após longos períodos de fechamento, empresas estimam retorno de 40% a 70% da clientela, que ainda teme riscos de contaminação pelo coronavírus
Após longos períodos de fechamento, empresas estimam retorno de 40% a 70% da clientela, que ainda teme riscos de contaminação pelo coronavírus (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press )

No universo dos pequenos negócios, os salões de beleza e as clínicas de estética foram dois dos segmentos mais afetados pelos efeitos da pandemia de COVID-19 sobre a economia. Em Belo Horizonte, com o avanço da vacinação e a recente reabertura do comércio, as empresas veem o faturamento voltar a crescer, mas a recuperação ainda é lenta. O retorno dos clientes tem sido gradativo, no ritmo da segurança aos poucos retomada de contratar os serviços, o que leva os proprietários desses estabelecimentos a cortarem gastos e buscar medidas para reverter o prejuízo financeiro causado após um ano e sete meses do surgimento da COVID-19 no Brasil.

Segundo pesquisa feita pela Associação Brasileira de Salões de Beleza (ABSB) com parceria do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), 45% das empresas do setor ouvidas no país venderam, em maio deste ano, 50% menos frente ao mesmo mês em 2019, portanto, antes da crise sanitária. Para 21% deles, o período foi ainda pior,  tendo em vista queda de 80% da receita em idêntica base de comparação. Os dados foram levantados junto a 200 salões de beleza, entre 1º e 10 de julho.
 
Nesta oitava reportagem da série que o Estado de Minas publica desde domingo mostrando como as empresas se recuperam após a mais recente flexibilização da quarentena em BH, os empreendedores da área de beleza revelam misto de determinação e otimismo, a despeito das dificuldades. “O setor de beleza sofreu muito com essa pandemia. Esse é um setor que trabalha muito em família e tem muitos microempreendedores que são comissionados. Com isso, tivemos famílias inteiras que ficaram sem nenhuma renda, já que tiveram que fechar seus estabelecimentos. A realidade é que nós não conseguimos trabalhar em home office, então passamos por um período bem amargo”, diz o presidente do Sindicato dos Profissionais da Beleza de Minas Gerais (SindBeleza-MG), José Laerce.

Ainda como impacto dessa redução repentina na receita, 60% dos salões pesquisados pela ASBS informaram que têm pagamentos de algum imposto em atraso, outros 32% e 24%, com o aluguel e empréstimos vencidos, respectivamente. Em Minas Gerais, o cenário de dificuldades financeiras é diferente. O presidente do SindBeleza-MG ressalta que o setor mineiro viu o lucro desaparecer nos momentos mais graves de avanço da doença respiratória, enquanto as despesas se acumulavam.

“Tivemos fechamento de quase 30% de estabelecimentos e eles não conseguiram reabrir. Outros também migraram para trabalhar em casa, e isso trouxe um desequilíbrio muito grande para os salões. Eles estão pagando também as dívidas acumuladas, a vida não parou, os impostos não pararam, as contas de luz e de água não pararam e os aluguéis também não. Além dos empréstimos que alguns fizeram”, afirmou. Contudo, José Laerce destaca que o setor tem grande participação na economia brasileira.

Despesa inesperada 


Para quem estava acostumado ao dia a dia corrido e movimentado de um salão de beleza, a rápida mudança de espaço cheio para cadeiras vazias foi, no mínimo, complicado de administrar. O proprietário do Spaço Capital, Alécio Omar, conta que por causa do fechamento do comércio de BH o acúmulo de dívidas começou a atingir seu estabelecimento, localizado na Região Central da cidade. Os investimentos, antes recorrentes na sua empresa, também tiveram que ser adiados.
 
 
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"Não deixamos a peteca cair. Corremos atrás de divulgação e preparamos pacotes de serviços"

Isaac Santos, empreendedor do ramo de beleza há 16 anos


"Nenhuma empresa se planeja para um tempo tão longo fechada. Você tem um fluxo de caixa para pouco tempo. Foi bem difícil, mas temos que tentar segurar para na frente ser otimista, conseguir compensar os prejuízos nos próximos três anos e voltar à normalidade”, afirma. Situação semelhante vive Isaac Santos, dono do salão que leva seu nome, situado na Região Centro-Sul da capital.

No ramo há 16 anos, o empreendedor diz que ao ver as poucas perspectivas de reabertura do comércio com o agravamento da COVID-19 na capital, buscou logo alternativas para garantir a sobrevivência do estabelecimento.  A empresa passou a oferecer vouchers promocionais com a prestação de serviços combinados. Pagando para ter mechas no cabelo, o cliente ganhava como bônus corte e escova. A promoção era válida para compra antecipada somente nos períodos em que o salão estava fechado por causa da pandemia. Após o pagamento, o consumidor acumulava o crédito para utilizar assim que a prefeitura liberasse o funcionamento do setor.

“Consegui pagar parte das contas. Graças a Deus, foi possível segurar, negociar o aluguel e com os funcionários que estão com a gente há muito tempo. Vamos dando um jeito”, disse Isaac. Apesar dos desafios enfrentados, há otimismo. O cenário de melhoria nos indicadores da COVID-19 em BH, e, principalmente, o avanço gradual da vacinação, estimulam grande parte da clientela a voltar aos salões de beleza.

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"Retomamos quase 70% (dos clientes) do que era antes. Então, para a gente já é muito positivo"

Alécio Omar, proprietário



Vacinação 


De acordo com informações da Prefeitura de BH, foram imunizados 82,5% do público-alvo da campanha com a primeira dose e a dose única. Outros 50,1% completaram o esquema vacinal. Em quatros meses em funcionamento, desde a mais recente flexibilização das atividades econômicas na capital mineira, o Spaço Capital recebe um número de clientes cada vez mais próximo da época pré-pandemia.

“Pelo que nós passamos, estamos bem demais. Em um ano e sete meses de pandemia, ficamos fechados quase oito meses, a situação foi muito feia nesse tempo. Mas, agora, já retomamos quase 70% do que era antes. Então, para a gente já é muito positivo”, afirma Alécio Omar. A expectativa do emprendedor é boa também devido à proximidade com eventos, em parte liberados pelo Executivo municipal, e as festas típicas de fim de ano.

O movimento é crescente, da mesma forma, no salão de Isaac Santos. “A retomada depende de cada empresa. Não deixamos a peteca cair. Corremos atrás de divulgação nas redes sociais e preparamos pacotes de serviços para atrair os clientes. Acho que tem gente que espera as coisas caírem do céu.”
 

Cliente confere prevenção


A insegurança dos clientes, fruto do medo de se contaminarem, ainda consiste em barreria para os salõs de beleza e serviços de estética. “Elas verificam tudo. Algumas pessoas são mais estressadas, outras mais tranquilas. Se houver alguém com a máscara mal colocada, elas vão embora. Então, estamos todo o tempo fiscalizando tudo e todos”, conta a gerente do salão de beleza Bia Cabeleireiros, Margot Rocha.

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(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

"Um dos poucos lugares que frequento é o salão de beleza, porque os cuidados estão sendo tomados, com distanciamento, álcool em gel e uso de máscara'

Cláudia Marcela Nascimento, defensora pública



A empresa estima o retorno de 40% da cientela que era atendida antes da pandemia de COVID-19. “Parte dessa clientela que ainda não veio é porque perdeu alguém, tem muito receio ou viu a doença de perto. Mesmo a gente explicando que tem um espaço reservado no segundo andar para atender separadamente, elas ainda ficam receosas. Acho que da mesma forma que demoramos a acreditar que realmente haveria uma pandemia, a passos lentos elas também estão preocupadas se isso realmente vá se extinguir em algum momento”, afirma Margot.

Alécio Omar verifica o mesmo comportamento atento dos cliente, que verificam o cumprimento das medidas sanitárias determinadas pela prefeitura. “No primeiro momento, na primeira vez em que o cliente vem, a maioria chega receosa. Quer ver como está a situação, se está seguro, com distanciamento social e seguindo as regras. Depois, ao ver que estamos fazendo tudo ‘direitinho‘, ele retorna. Aqueles que vinham toda semana para fazer unha e cabelo estão frequentando normalmente”, declarou o empreendedor.

De acordo com protocolo emitido pela PBH de funcionamento dos serviços de cabeleireiros, manicure e pedicure, os clientes devem ser atendidos um por vez, somente com hora marcada, mantendo distância mínima de 2 metros. Além disso, é proibido o atendimento de um cliente por mais de um profissional no estabelecimento e a permanência de frequentadores fora do horário do serviço, por isso as salas de espera e recepção devem permanecer desativadas pelos salões.

Cuidados 


Da mesma forma que Alécio, Margot Rocha destaca que esses e outros protocolos contra o coronavírus definidos pela autoridades médicas de Belo Horizonte estão sendo adotados cautelosamente no Bia Cabeleireiros, que fica localizado na Região-Centro Sul. Para a gerente, esses cuidados são dever para com a segurança da clientela e funcionários.

“Nós temos um salão muito grande e espaçoso, seguimos todas as normas da Vigilância Sanitária, fazemos tudo que é preciso para atender nossos clientes e também nos prevenir. O sentimento de confiança ainda está meio que na balança depois de tudo por que as pessoas já passaram”, afirma.

Sob o olhar de quem é atendido nos salões de beleza, o zelo com a beleza deixou uma lacuna durante o período mais duro de isolamento social, como observa a defensora pública Cláudia Marcela Nascimento. Além da importância dos serviços de estética, o ambiente de acolhimento e aquelas conversas típicas de serem travadas num salão de beleza fizeram falta no longo período em que se afastar das pessoas foi necessário para a segurança coletiva.

“Um dos poucos lugares que frequento é o salão de beleza, porque realmente tomam todos os cuidados, com distanciamento, álcool em gel, uso de máscara. Eles também estão deixando à disposição máscaras para os clientes, então me sinto segura. Senti muita falta desse ambiente”, afirma Cláudia Nascimento. 


*Estagiária sob supervisão da subeditora Marta Vieira

 


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