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Estado de Minas ABASTECIMENTO

Agricultura familiar se reinventou na pandemia para alimentar cidades

Neste domingo (25/7), é comemorado o Dia Internacional da Agricultura Familiar


23/07/2021 15:46 - atualizado 23/07/2021 20:06

Em Minas Gerais, são 441.289 pequenas propriedades, representando 32,7% de um total de 607.577 propriedades rurais(foto: Divulgação/Emater)
Em Minas Gerais, são 441.289 pequenas propriedades, representando 32,7% de um total de 607.577 propriedades rurais (foto: Divulgação/Emater)
A readequação da agricultura familiar foi fundamental para evitar o desabastecimento de alimentos nos meios urbanos brasileiros durante da pandemia. Após o impacto do primeiro momento, produtores, extensionistas e operadores de tecnologias digitais se uniram para evitar o estrangulamento da logística de distribuição de alimentos. A constatação é do veterinário e diretor técnico da Emater, Feliciano Nogueira de Oliveira. Neste domingo (25/7), é comemorado o Dia Internacional da Agricultura Familiar. 
 
"Passado o choque incial, houve uma grande mobilização para interação entre as diversas áreas para compreensão do momento, e as mídias sociais e as tecnologias de comunicação proporcionaram a criação de grupos em redes sociais que permitiram a continuidade da comercialização dos produtos", contou o veterinário. 
Baseado no último censo Agropecuário do IBGE, em 2017, constatou-se que grande percentual desses produtores encontram-se na faixa etária média de 60 anos. As visitas técnicas e de informação e formação presenciais ficaram encolhidas e ampliados os meios digitais, exigidos pelo distanciamento social e a segurança dos grupos mais vulneráveis ao novo coronavírus.
 
Considerando a  parte de equipes da Emater, são 380 mil atendimentos anuais em todo estado, tanto na produção agrícola e pecuária e em suas atividades fim, quanto na agregações de valores da agroindústria. Um dos significativos impactos a atingir o setor, segundo o diretor técnico da empresa pública, foi a suspensão das atividades escolares e a consequente paralisação do programa de alimentação escolar. 
 
A corrida se deu para garantir algumas frentes fundamentais na sobrevivência desses pequenos produtores. A preocupação era a continuidade da comercialização de alimentos e a garantia de continuidade do crédito rural, assegurando a inclusão dos agricultores em maior vulnerabilidade. A decisão em manter a merenda escolar aos familiares dos estudantes em ensino à distância, garantiu parte da distribuição da produção.
 
Mas diante da continuidade da pandemia e a retração econômica um novo desafio se coloca diante da população. O preço dos alimentos. Para Feliciano, trata-se de um xadrez. "A questão de produção de proteína animal:  leite, carne, ovos, frango, todo o sitema de produção animal utiliza muito os grãos, que são commodities, amplamente exportadas, e associados a algumas intempéries climáticas, como no segundo semestre de 2020, têm provocado a redução na oferta desses produtos em preços viáveis."
 
A contribuição da agricultura familiar "é dentro do possível", explica Feliciano, uma vez que, apesar dos números no abastecimento dos centros urbanos, na força de trabalho no campo e na produção, ela representa 26% da área plantada, o que limita maior volume de produção dos ítens básicos da alimentação.
 
Somente em Minas Gerais, são 441.289 pequenas propriedades, representando 32,7% de um total de 607.577 propriedades rurais. O setor responde por 59% da ocupação no campo e movimenta no estado, em torno de R$ 14 bilhões anuais, segundo dados da Emater.
 
A agricultura familiar é constituída de pequenos produtores rurais, povos e comunidades tradicionais, assentados da reforma agrária, silvicultores, aquicultores, extrativistas e pescadores. O setor se destaca pela produção de milho, raiz de mandioca, pecuária leiteira, gado de corte, ovinos, caprinos, olerícolas, feijão, cana, arroz, suínos, aves, café, trigo, mamona, fruticulturas e hortaliças.

Novo retrato do campo

 
O professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Marcelo José Braga, apresentou, webinario comemorativo à Semana da Agricultura Familiar, na manhã desta sexta-feira (23/7) a cartilha "Um novo retrato da Agricultura Familiar de Minas Gerais", elaborada pela equipe do Instituto de Políticas e Desenvolvimento Sustentável da UFV, a partir dos dados do Censo Agropecuário de 2017.
 
"Os resultados mostram que, em Minas Gerais, 72,7% dos estabelecimentos rurais são de agricultores familiares. Além disso, Minas é o estado da região Sudeste com o maior número de estabelecimentos da agricultura familiar e o segundo do país. Os estabelecimentos da agricultura familiar estão concentrados nas mesorregiões: Sul/Sudoeste de Minas (18,4%), Norte de Minas (17,4%) e Zona da Mata (15,5%)", explica Braga. 
 
A cartilha detalha, também, outras informações como o gênero, faixa etária e o nível de instrução do responsável pelo estabelecimento; o número de pessoas ocupadas na agricultura familiar; uso de tecnologias;  valor da produção das principais culturas, dentre outras; além de uma análise comparativa com os dados do Censo Agropecuário de 2006.
 
Na avaliação da secretária de Agricultura Ana Valentini, é fundamental para os gestores públicos conhecer o perfil da agricultura familiar no estado. "Na medida em que conhecemos o nosso público, suas características, dificuldades e as suas demandas, aumentamos a qualidade e a eficiência do atendimento prestado e no uso dos recursos públicos. E isso é respeito com o cidadão", afirma.
 

Armazém doa alimentos não comercializados

 
Moara de Araújo Pinto, 21 anos, atendente do Armazém do Campo de BH, loja da rede de comercialização de produtos orgânicos do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), explica que frutas, legumas e verduras recebidas na loja física, às terças, quintas e sábados, não comercializadas no mesmo dia, são doadas, no dia seguinte, a quem "quiser levar."
O Armazém do Campo comercializa alimentos orgânicos produzidos pela agricultura familiar(foto: Jair Amaral/EM /D.A Press)
O Armazém do Campo comercializa alimentos orgânicos produzidos pela agricultura familiar (foto: Jair Amaral/EM /D.A Press)
Em uma banquinha instalada na porta da loja, com a placa "doação", ficam expostos os produtos. O Armazem do Campo, na Avenida Augusto de Lima 1263, no Barro Preto, em BH, comercializa alimentos orgânicos produzidos pela agricultura familiar, assentamentos e acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Além de grãos, bebidas, leites e seus derivados, doces, três vezes por semana (terças, quintas e sábados) recebe de assentamentos e acampamentos de São Joaquim de Bicas e da Zona da Mata, frutas, verduras e legumes.
 
Café Guaií, Arroz Orgânico Terra Livre, Feijão agroecológico dos assentamentos e acampamentos, Suco Agroecológico, Chocolate Terra Justa, são algumas das mais de 600 variedades de produtos que se tornam mais acessíveis para quem procura alimentos saudáveis em Belo Horizonte. 
 
Em janeiro a rede do MST lançou o e-commerce, um aplicativo que proporciona a compra dos produtos com entrega na porta de casa. Basta acessar a página do Armazém do Campo BH.
 

O que é o Censo Agropecuário

 
O Censo Agropecuário de 2017, levantamento feito em mais de 5 milhões de propriedades rurais de todo o Brasil, aponta que 77% dos estabelecimentos agrícolas do país foram classificados como da agricultura familiar. Em extensão de área, a agricultura familiar ocupava no período da pesquisa 80,9 milhões de hectares, o que representa 23% da área total dos estabelecimentos agropecuários brasileiros.
 
De acordo com o levantamento, a agricultura familiar empregava mais de 10 milhões de pessoas em setembro de 2017, o que representa 67% do total de pessoas ocupadas na agropecuária. A agricultura familiar também foi responsável por 23% do valor total da produção dos estabelecimentos agropecuários.
 
Conforme o censo, os agricultores familiares têm participação significativa na produção dos alimentos que vão para a mesa dos brasileiros. Nas culturas permanentes, o segmento responde por 48% do valor da produção de café e banana; nas culturas temporárias, são responsáveis por 80% do valor de produção da mandioca, 69% do abacaxi e 42% da produção do feijão.
 
Realizado pela primeira vez em setembro de 1920, o Censo Agro é a principal e mais completa investigação estatística e territorial sobre a produção agropecuária brasileira. 


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