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Estado de Minas SOBRETAXA

Aumento da conta de luz vai pesar das fábricas à mesa em Minas

Correção da bandeira vai pressionar custos e provocar reajustes em cascata para os consumidores nos próximos meses


30/06/2021 04:00 - atualizado 30/06/2021 07:34

Cézar Ferreira Machado, dono do Caixote Bar e Restaurante(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
Cézar Ferreira Machado, dono do Caixote Bar e Restaurante (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
O reajuste da bandeira vermelha patamar 2 em 52% vai afetar não apenas os consumidores residenciais. Indústria, comércio e serviços também vão sentir no caixa o impacto da energia elétrica mais cara.

O presidente do Conselho de Energia e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Márcio Danilo Costa, lembra que o impacto no parque fabril mineiro varia conforme o processo produtivo, mas, em média, a energia representa 20% do custo do setor. E mesmo as grandes indústrias, que têm contrato de longo prazo no mercado livre de energia e estão fora do sistema de bandeiras, são afetadas.

Essas indústrias “não são afetados com a bandeira tarifária, porque já negociaram a compra da energia no mercado previamente, porém, pagam os custos de despachos das termelétricas mais caras, via Encargos dos Serviços de Sistema. Esses encargos até junho somam R$ 11 bilhões”, afirma o empresário.

Ele alerta que o momento é de preocupação. “Os efeitos podem ser aumentos de custos dos produtos”, observa Costa. A preocupação do setor hoje não é tanto com o cenário atual, mas com as perspectivas futuras na capacidade do setor elétrico de atender à demanda.

“Com os números já anunciados, não acreditamos que possa ser comprometido o crescimento neste ano com as medidas preventivas adotadas. Para o próximo ano, o que podemos dizer neste momento é que dependemos do resultado do próximo período chuvoso”, observa o presidente do Conselho de Energia da Fiemg. Observando que os setores eletrointensivos serão mais afetados seja pela bandeira ou pelos encargos,  Márcio Danilo Costa diz que “todos serão afetados, pois o custo dos produtos aumenta e nós pagamos conta de luz e também as compras de supermercados etc.”.

''Vamos ter que torcer para que o consumidor absorva o reajuste, senão a gente não vende nada e não posso segurar mais um aumento. Tudo tem limite''

Cézar Ferreira Machado, dono do Caixote Bar e Restaurante


NA MESA

O reajuste na bandeira vermelha 2 vai deixar a energia elétrica mais cara e quem sofre mais é um setor que foi diretamente impactado pelo afastamento social, medida necessária para conter a pandemia do novo coronavírus: bares e restaurantes. Depois de meses fechados, esses estabelecimentos voltam, aos poucos, a reabrir com diversas restrições. No momento em que mais precisam de ajuda, o aumento na conta de luz desanima comerciantes.

Bares e restaurantes que já estavam castigados com o fechamento do comércio e outros aumentos, como o gás e a alimentação em geral, agora vão ter que decidir se repassam o preço ao cliente. O conselheiro consultivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-MG), Ricardo Rodrigues, conta que 40% do setor quebrou durante os períodos de restrição de mobilidade.

“O segmento está saindo de uma pancada recebendo notícia de aumento de bandeira vermelha, sabendo que vai ser ativada quase que de imediato. Isso pode representar mais empresas que não vão dar conta de sair da pandemia. Bares e restaurantes têm a energia elétrica como principal fonte de energia. É muito triste, muito ruim. A gente já está hoje com número de empresas que estão respirando no canudinho, e com esse aumento a gente estima que mais algumas empresas que não conseguiram se restabelecer vão continuar nesse processo de decadência”, afirmou.

A entidade recomenda que os empresários busquem por outras fontes de energia, mas, segundo Ricardo, a tentativa de redução gera investimento e o segmento não tem essa possibilidade atualmente. “O brasileiro tem um poder de reinvenção, uma garra de empreendedorismo e de se adequar que é muito bacana. Se não fosse isso, esse número (de fechamentos de empresas) seria muito maior”, projeta. “Vai ter impacto e é complexo repassar porque temos tido aumento constante em outros patamares. Vamos tomar mais uma pancada e ter mais um pouco de bares e restaurantes fechando as portas”, lamenta Ricardo.

LIMITE

Repassar o aumento de custo para o preço ao consumidor é um risco que muitos comerciantes vão ter que correr. No caso do Caixote Bar e Restaurante, localizado no Bairro Cruzeiro, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, a correção será ainda maior porque o estabelecimento utiliza 10 freezers. “Vamos ter que torcer para que o consumidor absorva o reajuste, senão a gente não vende nada e não posso segurar mais um aumento. Tudo tem limite”, reclama Cézar Ferreira Machado, dono do comércio. “A gente não pode desligar o freezer senão estraga a cerveja. Sem falar a chopeira elétrica, o ventilador, a luz.”

Há 10 anos no comando da empresa, Cézar conta que o comércio só não fechou porque o formato de delivery segurou as pontas. Por outro lado, o dia a dia na cozinha já tem sido difícil. Segundo o proprietário, antes da pandemia ele comprava o óleo a R$ 3 e hoje chega a pagar R$ 9. “A gente sempre repassa (ao cliente) minimizando da menor forma possível, mas o salário do cliente não subiu, aos poucos ele vai deixando de comparecer”. O empresário defende ajuda de custo para o segmento. “O certo era, no mínimo, fazer um subsídio para ser mais coerente.”

DESLIGANDO

Há 20 anos o Restaurante Regina faz comida e serve o público na Rua Pouso Alegre, no Bairro Floresta, Região Leste da capital. Por lá o discurso não é diferente: a pandemia levou a pior crise para o setor. “Você já não dá conta de pagar a conta atual porque já está cara. Com esse reajuste a gente não vai dar conta mesmo. A retomada da economia está muito devagar, é complicado demais, só vem apertando mais e mais, não é atoa que estão fechando as portas por aí”, comenta Tiago Henrique Pereira, administrador do restaurante da mãe, Regina de Fátima Pereira.

Ele conta que precisou demitir os funcionários e hoje o negócio virou realmente “tempero de família”. Durante a pandemia, o maior problema para ele é que as empresas ao redor fecharam. Com isso, os clientes, que antes eram trabalhadores da região, não voltaram. Se antes vendia mais de 100 pratos por dia, hoje tem dificuldade em comercializar 50. “A gente não tem como passar pro consumidor o aumento. A gente tira produto, coloca coisa barata, não sei… Agora vamos ter que desligar a energia. Como fazer?”, indaga.

Ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, nega racionamento, mas faz apelo para uso consciente da energia e da água pela população(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press %u2013 9/9/19)
Ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, nega racionamento, mas faz apelo para uso consciente da energia e da água pela população (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press %u2013 9/9/19)

Incentivo à mudança no horário de consumo

Depois de elevar o valor da bandeira vermelha patamar 2 e iniciar o processo para um novo aumento, o governo deve agilizar a campanha educativa para incentivar o uso racional da água e energia e a adoção de incentivos para que grandes consumidores de energia desloquem a produção para fora do horário de pico da demanda. Para adotar a medida, governo e empresários criaram um grupo batizado de Unidos pela Energia, que reúne 45 associações do setor. Uma das entidades que integram o grupo é a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

Uma das propostas, segundo o presidente do Conselho de Energia e vice-presidente Fiemg, Márcio Danilo Costa, é voluntariamente deixar de consumir energia das 12h às 18h, com a indústria podendo negociar essa energia que deixa de consumir ou sendo ressarcida por ela. “As empresas podem optar por uma manutenção programada, ou por férias, por exemplo. A iniciativa pode ser vantajosa para o setor, que assim teria como compensar o aumento do custo pelo uso das térmicas, que têm energia  muito mais cara. “Estamos apoiando e agindo preventivamente com proposições no grupo.”

Márcio Danilo Costa disse ainda que o setor de meio ambiente da Fiemg está “preparando um estudo sobre a crise hídrica, mas,  com certeza, como temos o uso múltiplo da água e há um direcionamento para que a água fique mais represada para geração de energia, poderá haver interferência naquelas empresas que dependam deste insumo”. O represamento da água não vai afetar as outras atividades segundo afirmam o Operador Nacional do Sistema (ONS) e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

O ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, em pronunciamento na segunda-feira confirmou a adoção de incentivos para o setor industrial. Ele falou que o ministério está, junto com a indústria, desenvolvendo um projeto para incentivar o uso da energia elétrica fora dos horários de pico, mas afirmou que o esforço requer a participação dos cidadãos. E apelou para que as pessoas usem a energia de forma consciente. “O uso consciente e responsável de água e energia reduzirá consideravelmente a pressão sobre o sistema elétrico, diminuindo também o custo da energia gerada”, afirmou.

Albuquerque frisou que o país enfrenta uma das piores secas da história e que a crise que atinge as hidrelétricas no Sudeste e Centro-Oeste é a maior em 91 anos. Ao comentar sobre a possibilidade do racionamento de energia, como ocorreu em 2001, ele argumentou que o sistema elétrico brasileiro evoluiu nos últimos anos e que a dependência das hidrelétricas – que era de 85% – passou a 61%. “Essas medidas são essenciais, mas, para aumentar nossa segurança energética, é fundamental que, além dos setores do comércio, de serviços e da indústria, a sociedade brasileira, todo cidadão-consumidor, participe desse esforço, evitando desperdícios no consumo de energia elétrica”.

Entre as ações citadas pelo ministro, está a Medida Provisória publicada na noite desta segunda-feira, em edição extra do Diário Oficial da União. O texto cria um grupo que poderá determinar mudanças nas vazões de reservatórios de hidrelétricas e dá poderes excepcionais ao Ministério de Minas e Energia para determinar medidas relacionadas à crise. O texto publicado ontem sofreu diversas alterações em relação à primeira proposta.

Após repercussão negativa, o governo decidiu retirar o termo "racionalização compulsória" da MP. Também não há menção a programa de racionamento (corte compulsório no consumo de energia) ou a racionalização (incentivo à economia de energia). Segundo Albuquerque, a intenção da MP é "fortalecer a governança do processo decisório". “Além de monitorar o setor elétrico 24 horas por dia, montamos uma estrutura de governança para coordenar, com rapidez e segurança, as ações dos vários órgãos envolvidos no enfrentamento do atual cenário de escassez hidroenergética. Estamos trabalhando, também, em sintonia e permanente diálogo com entidades da sociedade civil organizada, com os estados e com instituições dos três poderes, para identificar as linhas de ação que melhor atendam aos interesses do país", disse o ministro na noite de segunda-feira.

Aumentos além da bandeira

Os consumidores de duas concessionárias de energia vão ter aumento maior do que o da bandeira vermelha. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou ontem, um reajuste médio de 9,44% nas tarifas da Enel Distribuição São Paulo. Para os consumidores residenciais, o impacto será de 11,38%. Os novos porcentuais já valerão a partir do próximo domingo. A Enel SP, antiga Eletropaulo, é a segunda maior distribuidora do país, respondendo por 10,3% de toda a energia distribuída no Brasil. A empresa atende 7,4 milhões de consumidores em 24 municípios da Região Metropolitana de São Paulo, incluindo a capital paulista.

A Aneel aprovou, também ontem, um reajuste médio de 4,04% nas tarifas da Energisa Tocantins, que atende cerca de 624 mil unidades consumidoras. Para os consumidores atendidos em alta-tensão, como as indústrias, o efeito médio será de 5,10%. Já para os de baixa tensão, que inclui os residenciais, o aumento será de 3,81%. Os reajustes passam a valer em 4 de julho. Algumas medidas amenizaram o reajuste. Entre elas a reversão de recursos da Conta-Covid, a postergação do pagamento de indenizações à transmissoras e o uso de créditos de PIS/Cofins cobrados indevidamente nos últimos anos.

(foto: Vanderlei Almeida/AFP Photo %u2013 27/9/15)
(foto: Vanderlei Almeida/AFP Photo %u2013 27/9/15)

Angra 3 de volta 

A Eletrobras comunicou que sua subsidiária Eletronuclear realizou uma sessão pública para a abertura das propostas da licitação para os serviços de obras civis e de parte da montagem eletromecânica previstas no Plano de Aceleração do Caminho Crítico da Usina nuclear de Angra 3. Segundo fato relevante da companhia, a contratação tem objetivo de adiantar algumas atividades de construção de Angra 3 antes da Eletronuclear contratar o epcista (EPC: Engineering, Procurement, Construction) que vai empreender a obra global da usina. O nome do primeiro colocado ainda não foi divulgado porque o proponente deverá apresentar os documentos de habilitação para serem verificados. Após o término da análise, será agendada nova sessão para informar o resultado aos licitantes e abrir prazo para recursos.


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