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Estado de Minas Crise

COVID-19 lança jovens de regiões carentes em nova saga por trabalho

Trabalhadores de áreas mais pobres de Minas em busca de emprego e renda são forçados a voltar para casa, com redução de vagas


14/06/2021 04:00 - atualizado 14/06/2021 07:44

Municípios do Vale do Jequitinhonha, como Araçuaí, perdem seus jovens devido à escassez de emprego, que foi dificultada pela pandemia(foto: Sérgio Vasconcelos/Gazeta de Araçuaí 12/10/20)
Municípios do Vale do Jequitinhonha, como Araçuaí, perdem seus jovens devido à escassez de emprego, que foi dificultada pela pandemia (foto: Sérgio Vasconcelos/Gazeta de Araçuaí 12/10/20)

Migrar para São Paulo e outras regiões do país em busca de trabalho e renda tem sido um drama histórico para os moradores do Vale do Jequitinhonha, uma das áreas mais carentes de Minas Gerais. O aumento do desemprego provocado pelos efeitos da COVID-19 sobre a economia agravou as dificuldades dos migrantes. É o caso de Samuel Ramos Alves, de 29 anos, natural de Novo Cruzeiro, município de 31,3 mil habitantes do baixo Jequitinhonha. A batalha de Samuel é também prejudicada pela discriminação que os trabalhadores LGBT enfrentam.

Ele havia deixado Novo Cruzeiro e trabalhava há dois anos e meio como auxiliar de cozinha em um restaurante de Piracicaba, no interior de São Paulo. No entanto, logo depois da chegada da pandemia e em meio à adoção das restrições para deter a disseminação do vírus, perdeu o emprego.

“Pra mim foi um baque, uma coisa que eu realmente não estava esperando. Com a perda do emprego, fiquei sem ter como sobreviver longe de casa”, afirma Samuel Alves. Sem condições de se manter, a única opção foi retornar à cidade de origem, onde a família dele – como a maioria da população local – se defronta com a dura realidade de viver de rendimentos insuficientes.

Samuel é caçula de uma família de nove irmãos. Os pais deles sobrevivem com a aposentadoria rural, no valor de um salário mínimo. Durante nove meses do ano passado, o ex-migrante do Vale do Jequitinhonha não conseguiu trabalho e só teve como renda o auxílio emergencial do governo – seis parcelas de R$ 600 e outras três de R$ 300.

Trabalho informal se tornou alternativa para profissionais de setores como restaurantes(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
Trabalho informal se tornou alternativa para profissionais de setores como restaurantes (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)


Em abril passado, Samuel voltou a receber a ajuda financeira, prevista até o mês que vem, mas em valor bem menor do que em 2020, agora de R$ 150. “Isso mal dá para comprar as coisas de comer”, lamenta. Desde que foi demitido do restaurante no interior paulista, Samuel voltou para casa. Hoje se esforça em busca de outro emprego, sem sucesso. Diante da falta de perspectivas, ainda em 2020, deixou a cidade e se mudou para Araçuaí, município de 36,7 mil habitantes, na mesma região, onde mora com amigos.

Distante 110 quilômetros de Novo Cruzeiro, com ajuda dos amigos, o ex-auxiliar de cozinha procura melhor oportunidade de qualificação profissional. A orientação sexual se transformou em obstáculo para ele por causa de preconceito. “Sempre que procuro trabalho, só me oferecem serviço na cozinha ou em loja. Nunca que aparece oportunidade de coisa melhor”, reclama. Com nova expectativa, Samuel fez curso técnico na área de saúde por sistema de ensino on-line e concorreu a vaga para agente sanitarista municipal, em concurso público, do qual aguarda resultado.

Restrições O impacto da crise sanitária sobre a economia fez crescer o ingresso de trabalhadores na informalidade, situação verificada, sobretudo, no setor de bares e restaurantes. O segmento foi altamente afetado pela pandemia, devido às necessárias medidas de distanciamento social para conter a transmissão do coronavírus.

Em Montes Claros, cidade-polo do Norte de Minas Gerais com 414,48 mil habitantes, passado mais de um ano e três meses desde o surgimento dos casos de infecção a estimativa é de que já foram perdidos em 14 e 15 mil empregos formais em bares e restaurantes, segundo o presidente regional da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel Norte de Minas), Rodrigo de Paula.

Após longo período de fechamento, os bares e restaurantes funcionam com restrições, medidas de prevenção contra a doença, incluindo a limitação do número de clientes e distanciamento de mesas, devendo encerrar as atividades as 22h. “O problema é que, com as restrições e o horário limitado de funcionamento, o faturamento não cobre os custos dos estabelecimentos como aluguel, energia e pagamento de funcionários. Esses custos são fixos”, afirma Rodrigo de Paula.

Como em todo o país, houve fechamento de lojas, o que agravou o desemprego de profissionais como garçons, cozinheiras e entregadores. Parte deles voltou a trabalhar sem carteira assinada ou procura trabalho em outra atividade.

Ex-garçom em Montes Claros, Lucas Felipe dos Santos Medeiros, de 27 anos, conhece bem a dificuldade de trabalhar sem registro e cumpriu caminho extenso de busca por ocupação formal, mas chegou a um final feliz. Há cera de um mês, ele conquistou vaga com carteira assinada numa empresa de call center. Ele havia trabalhado com registro pela última vez dois anos atrás na função de vigilante. “O emprego fichado é mais seguro”, afirma Lucas, que precisa pagar a pensão de um filho.


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