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Estado de Minas EM CRISE

Um ano de pandemia: a dura realidade enfrentada pelo setor de eventos

"Tem um ano que não entra nada no bolso", foi o que disse um profissional. Para quem atua no ramo, o último ano foi de crise econômica e muitos prejuízos


19/03/2021 16:34 - atualizado 19/03/2021 19:30

Há um ano, os espaços de festas se encontram vazios e com um silêncio profundo(foto: Gladyston Rodrigues/EM)
Há um ano, os espaços de festas se encontram vazios e com um silêncio profundo (foto: Gladyston Rodrigues/EM)
Há um ano, trabalhadores do setor de eventos vivem sob os sentimentos de incerteza e dúvida a respeito de quando poderão retornar às atividades, paralisadas desde o início da pandemia. Os poucos clientes que surgiram nesse tempo, não foram suficientes para evitar a crise econômica e os prejuízos, causados pelos cancelamentos e adiamentos de festas.

O setor era responsável por movimentar, anualmente, R$ 250 bilhões em eventos corporativos e R$ 17 bilhões em eventos sociais. Porém, o cenário atual é de dificuldades financeiras na grande parte das empresas – o que gera preocupação tanto para quem atua no ramo quanto para aqueles que contratam esse tipo de serviço.
 
 
Além disso, apenas 8% dos eventos estão ocorrendo; 40% das empresas mudaram o modelo do negócio; 60% encerraram as atividades e 95% registraram queda brusca de faturamento. Contudo, muitos aderiram aos novos formatos que ganharam força, como eventos híbridos, festas em casa e/ou online e “drive-in”. 

Luciano Campos é um dos donos do Benvenuto Buffet e do Espaço Villa Domenica, em Belo Horizonte e Nova Lima, respectivamente. Para ele, a falta de respaldo do governo foi um fator crucial que contribuiu para a crise no setor.

“Começou a complicar muito a situação para as empresas do ramo porque agora não tem mais o que fazer. Às vezes a empresa não tem nem caixa para continuar com as atividades. Tem mais de um ano que não entra nada no bolso”, conta Luciano.

A estratégia encontrada foi manter a saúde financeira da empresa em dia e viver das economias. Segundo Campos, a maior dificuldade é na hora de pagar os aluguéis e os funcionários. “A gente vai se virando e reinventando”, disse.
 
As vendas caíram consideravelmente no último ano e os cancelamentos passaram a ser frequentes. 

“A gente está vendendo poucas festas. Até porque os clientes estão com medo de fechar por causa da incerteza que o mercado de eventos está hoje oferecendo”, diz.

“Mais do que nunca muitos começaram a cancelar o evento. Os eventos que seriam para 200, 300 pessoas diminuíram para 20, 30. Só nesse mês de março eu tinha um evento para 130 pessoas, que provavelmente não vai acontecer pelo fechamento da cidade”, complementa.
 
Luciano é um dos donos do Espaço Villa Domenica, no Bairro Jardim Canadá, em Nova Lima(foto: Gladyston Rodrigues/EM)
Luciano é um dos donos do Espaço Villa Domenica, no Bairro Jardim Canadá, em Nova Lima (foto: Gladyston Rodrigues/EM)

 
O empresário, que atende principalmente casamentos, relata que perdeu R$ 60 mil em uma semana, em decorrência de cancelamentos. O prejuízo total de um ano, ele conta, é até difícil de calcular. “Deixou de entrar muito dinheiro, muito dinheiro. Não é pouco não. É muito”.

“Se os noivos e outros clientes não nos ajudarem a ficar vivos, vai ter muita empresa no ramo de evento que vai quebrar quando voltar o mercado. Não vai ter dinheiro para fazer o evento”, enfatiza. 

Demissões

Antes da pandemia, o mercado de eventos gerava 8 milhões de postos de trabalho que, infelizmente, deram lugar a um número expressivo de desempregados. Luciano conta que teve de demitir muitos funcionários.

“Infelizmente, tivemos que suspender os funcionários por um tempo e depois demitir alguns. Atualmente estou com seis, sete funcionários, mas antes da pandemia eu tinha quase 20. Eu tive que mandar todo mundo embora. Não tive o que fazer”, explicou.

O número é ainda maior em termos gerais. O presidente do Sindicato Intermunicipal das Empresas de Bufê de Minas Gerais (Sindbufê-MG), João Teixeira, informou que mais de 5.000 pessoas foram demitidas somente em BH e Região Metropolitana.

“Perdi o meu emprego, mas não desisti de tudo”

Acostumada há mais de dez anos com a rotina intensa de eventos, especialmente nos finais de semana, a auxiliar de cozinha Rosângela Maria Tavares, 47, perdeu seu emprego em um buffet de Contagem, Região Metropolitana de BH, logo depois que a pandemia começou.

“Me vi em uma situação de desespero porque era a minha única fonte de renda. Tenho dois filhos e não tenho marido para sustentar não. Sempre foi eu e Deus”, conta.

Naquele momento, a alternativa foi começar a trabalhar como autônoma. Como sempre se deu bem na cozinha, resolveu fazer marmitas.

“Perdi o meu emprego, mas não desisti de tudo na vida. Resolvi começar a fazer marmitas, já que sempre trabalhei na cozinha. No começo o medo era maior, mas consegui levantar um pouco de dinheiro. Foi a salvação em um momento onde tudo parecia ser o fim”, disse.

“Muita gente perdeu emprego, muita gente que trabalhava comigo perdeu o emprego. Essa área de eventos envolve muitas pessoas e com tudo parado é muito difícil manter a gente na empresa”, completa.

Rosângela agora trabalha em um supermercado – oportunidade que veio no momento certo. No entanto, tem o desejo de voltar a cozinhar.“Quero muito voltar. Quem sabe quando tudo melhorar eu consigo voltar para alguma outra empresa do ramo onde eu possa continuar naquilo que eu sempre fiz”.

Algumas empresas passaram a realizar encomendas, mas não é o suficiente para tirar o setor da crise(foto: Gladyston Rodrigues/EM)
Algumas empresas passaram a realizar encomendas, mas não é o suficiente para tirar o setor da crise (foto: Gladyston Rodrigues/EM)

Não é hora do setor retornar

De acordo com Ricardo Dias, presidente da Associação Brasileira de Eventos (Abrafesta), que representa o setor em todo o Brasil, não é possível os profissionais da área trabalharem com a capacidade de público típica dos eventos, visto que a saúde deve ser prioridade no atual momento.

“As ações adotadas pelo governo não estão surtindo efeito. Desse modo, há a clandestinidade e o desrespeito aos profissionais que trabalham corretamente. Seguimos no cumprimento de nosso papel como associação. Entendo que o quanto antes conseguirmos controlar a contaminação da população, será possível ao setor retomar as atividades, sempre respeitando as leis e os protocolos oficiais. É preciso reflexão e entendimento neste momento trágico”, ressaltou.

Mas, na visão de Luciano Campos, o setor de eventos é essencial e merece uma atenção maior por parte das autoridades.

“Com certeza é essencial. E não é porque é meu ganha pão não, na verdade eu acho que é essencial para a questão de entretenimento mesmo da pessoa. É uma válvula de escape, pois a pessoa coloca o lado emocional nisso. A pessoa deixa às vezes de comprar um carro melhor para fazer uma festa de casamento, por exemplo”, afirmou.

Disse ainda que o ramo foi deixado de lado. “Não tenho dúvidas disso. A gente tem até uma comissão e fizemos muito tentando mostrar que o aumento da transmissão (COVID-19) não se devia do setor de evento. Entrar em um ônibus é muito pior do que estar em um espaço de festa aberto com todos os cuidados. Por que não tentar voltar? É uma hipocrisia. Todo mundo só olha para o próprio umbigo”.
 
Luciano acredita que o setor tem condições de retomar os trabalhos seguindo os protocolos e medidas(foto: Gladyston Rodrigues/EM)
Luciano acredita que o setor tem condições de retomar os trabalhos seguindo os protocolos e medidas (foto: Gladyston Rodrigues/EM)

 
A Abrafesta tem realizado ações junto ao poder público, como a participação da criação dos protocolos de retomada, discussões nas prefeituras de vários municípios do país, bem como diálogo entre estados e governo federal para uma possível retomada gradual do setor.

“Seguimos orientando aos profissionais e empresários do setor sobre novos rumos, possibilidades e negociações; como lidar com cancelamentos ou adiamentos de eventos. Além disso, seguimos exercendo nosso papel associativo e cooperativo, abrindo novas regionais em estados, como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Acre, Distrito Federal, Ceará e Mato Grosso, ajudando a reformular processos, apontar caminhos e soluções para o setor em todo o território nacional”, aponta Ricardo Dias.

“Vivemos o ano mais difícil de nossas vidas”

Dono de um buffet de churrasco e de um restaurante, Gilberto Dias enfrentou muitos obstáculos e viu de perto o trabalho de 23 anos ser interrompido inesperadamente.

"Esse último ano não foi nada fácil para o nosso setor. Todos os eventos cancelados, devolução de valores aos clientes que fizeram pagamentos antecipados, vários colaboradores sem o seu ganha pão”, diz Gilberto.

“Nosso buffet havia acabado de adquirir um espaço próprio para eventos e um restaurante, mas fomos pegos por um tsunami. Toda nossa luta diária de 23 anos de empresa foi arrastada para um abismo”, reiterou. A maneira encontrada por ele para evitar uma crise maior foi inaugurar o espaço e o restaurante em plena pandemia.

Segundo ele, essa foi a única solução encontrada, mesmo com muitas opiniões contrárias de que não daria certo por causa da pandemia.

Entretanto, algumas atitudes e decisões não agradaram o empresário.”Fomos muito castigados pelas autoridades. Um abre e fecha dos comércios que parece não ter fim”.

“Vivemos o ano mais difícil de nossas vidas”, concluiu Gilberto Dias.


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