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Estado de Minas FATURAMENTO

Pandemia do novo coronavírus trouxe prejuízo ao transporte de cargas

Transportadoras tentam recuperar perdas com isolamento social, que derrubou demanda no setor no ano passado e afetou 95% das empresas em Minas


18/02/2021 04:00 - atualizado 18/02/2021 09:53

Caminhões não deixaram as estradas para garantir o abastecimento, mas o volume de carga transportado caiu com as restrições provocadas pelo coronavírus(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
Caminhões não deixaram as estradas para garantir o abastecimento, mas o volume de carga transportado caiu com as restrições provocadas pelo coronavírus (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)

O transporte de cargas foi altamente atingido pela paralisação ou redução das atividades econômicas, adotadas com o objetivo de evitar a disseminação do coronavírus.

Com lojas do comércio não essencial fechadas, especialmente no início da pandemia, entre os meses de março e maio de 2020 – quando foram adotadas as medidas mais duras de isolamento social, as transportadoras mineiras viram o faturamento descambar e os prejuízos acumularem.

Passados 10 meses da pandemia, o setor ainda tenta se recuperar no estado, situação que também se verifica em nível nacional.

 

O presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística de Minas Gerais (Setcemg), Gladston Lobato, lembra que 95% das empresas do setor tiveram queda do faturamento de março a maio de 2020 e que, agora, elas vislumbram a recuperação, mas que será lenta e gradual.

O transporte de cargas no estado conta com 150 mil empregos diretos, mantidos por 25 mil empresas, envolvendo uma frota de 150 mil veículos, segundo o Setcemg.

 

“O setor de transporte de cargas em Minas Gerais segue acumulando prejuízos devido à suspensão ou redução de diversas atividades econômicas para evitar a disseminação do novo coronavírus. Mesmo com a adoção de medidas de flexibilização do isolamento permitindo a retomada de algumas atividades, a recuperação do setor será lenta e gradual. No setor, 95% das empresas tiveram queda do faturamento de março a maio de 2020 e a demanda por serviços de transporte”, relata Lobato.

 

Conforme mostram reportagens do Estado de Minas, nos primeiros meses da pandemia da COVID-19, quando foram adotadas as medidas mais severas do isolamento social, com o fechamento de lojas e de serviços não essenciais, trabalhadores do transporte continuaram rodando, sendo expostos aos riscos de contaminação do vírus para evitar o desabastecimento de alimentos e de remédios. Da mesma forma, foi mantido o transporte de passageiros.

 

O esforço, no entanto, não impediu o baque no transporte de carga. Somente no mês de abril de 2020, o setor teve uma queda de 45% na demanda, de acordo com dados da Associação Nacional do Transporte de Carga e Logística (NTC & Logística).

“Desde o início da pandemia sabíamos que não podíamos parar, que era necessário trabalhar para garantir o abastecimento. Para isso, precisávamos de segurança e mobilidade”, afirma Lobato.

 

Lobato cita também o empenho das empresas na orientação dos motoristas e funcionários quanto ao cumprimento de regras sanitária e medidas preventivas contra o coronavírus.

Ele lembra que, em 2020, todas as empresas do transporte de cargas foram afetadas pela redução de demanda. “Algumas foram mais impactadas, como as que atendem à demanda do comércio lojista e do setor automobilístico, as siderurgias, a linha branca e construção civil, principalmente.”

 

Medidas O dirigente do sindicato patronal explica como as empresas do transporte e logística superaram a pandemia. “As empresas do setor de transporte de cargas adotaram todas as medidas possíveis para reduzir as perdas, evitar demissões e controlar os gastos. Muitas empresas optaram por conceder férias, etc. Além disso, foram feitas negociações para adiar financiamentos”, descreve. Por outro lado, ele afirma que o setor vive a perspectiva de plena recuperação.

“Acredito que teremos um cenário muito próspero neste ano e no próximo, com o crescimento da economia. A chegada da vacina, a retomada da produção e a aprovação das reformas pelo governo serão fundamentais para que o país retome o rumo do crescimento”, assegura Gladstone Lobato.

 

A gerente de economia da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Daniela Brito, lembra que pesquisa mensal de serviços feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que entre janeiro e novembro de 2020 (últimos números do levantamento disponíveis), houve uma queda de 12% do transporte terrestre de cargas no país – em comparação com o mesmo período de 2019 – enquanto a redução acumulada do transporte aéreo (incluindo passageiros e cargas) no mesmo período foi de 37,1%.

 

Reação


O presidente da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), Francisco Pelucio, ressalta que embora tenha sofrido em abril uma queda na demanda de carga de 45% e um tombo de 90% no faturamento em agosto, em todo o país, o setor começou uma “recuperação de forma estável”.

Agora, tenta retornar ao patamar de antes da pandemia. Pelucio diz que ainda não tem dados percentuais da recuperação do setor hoje, após 10 meses da pandemia. “Mas, sabemos que tivemos boa recuperação, quase próximo da normalidade”, observa o presidente da NTC & Logística.

 

A expectativa de recuperação do setor também é destacada pelo presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Wander Francisco Costa.

Números da entidade mostram que a pandemia trouxe um baque não somente na movimentação de cargas, mas também no transporte de passageiros, que em abril do ano passado teve uma queda de 85,5% em relação ao mesmo mês de 2019.

Ainda em maio de 2020, o serviço de transporte de passageiros iniciou uma recuperação de forma lenta.

 

No caso do transporte de carga e logística, Vander Costa ressalta que, após a queda brusca diante da chegada do coronavírus no país, o segmento iniciou a recuperação e também sofreu diversas mudanças.

Ele salienta que, por um lado, enquanto as lojas foram fechadas, as vendas pela internet tiveram um aumento da ordem de 80%, refletindo diretamente no setor de entregas.

“Com o aumento das vendas pela internet, as empresas tiveram que investir em galpões de logística, onde os produtos são mantidos para a entrega rápida ao consumidor.

As mercadorias que eram transportadas das fábricas para as lojas agora são levadas para os galpões instalados nas cidades”, diz Costa.

 

Ele lembra que também aumentou a demanda de serviços para empresas que fazem entrega para os consumidores, que, para se protegerem contra o vírus, ficam em casa, mas não deixam de comprar, recorrendo ao delivery.

“Aumentaram muito as entregas que são feitas de motocicleta, de bicicleta, de carro pequeno ou van”, constata o presidente da CNT.

 

Lucas Oliveira Silva, de Pirapora, faz entrega de bicicleta na empresa que criou e já conta com outros 12 entregadores(foto: Thais Barros/divulgação)
Lucas Oliveira Silva, de Pirapora, faz entrega de bicicleta na empresa que criou e já conta com outros 12 entregadores (foto: Thais Barros/divulgação)

 

Oportunidades entram na rota

 

A oportunidade de negócio em meio à pandemia foi aproveitada pelo empresário Abel Gonçalves Rego, de Montes Claros, no Norte de Minas. Ele abriu uma empresa de entrega por meio de aplicativo, a Lets Express, que teve um rápido crescimento.

“Com o fechamento do comércio presencial na pandemia, percebemos que as empresas que atuavam no ramo na cidade não estavam conseguindo atender à demanda. Então, direcionamos nossos esforços para o delivery”, afirma Abel. As entregas são feitas por motoboys cadastrados em um software da firma.

 

O empresário iniciou as atividades em dezembro e viu a prestação do serviço crescer rapidamente. “Com 45 dias de funcionamento, alcançamos 350 entregas por dia. Mas, já estamos fechando novas parcerias para aumentar em 100% o volume de atendimento e chegar a 700 entregas por dia”, anuncia.

Abel disse que o número de motoboys cadastrados no aplicativo de sua empresa de entrega foi multiplicado por 10: eram 30 e agora são 300.

Houve também um aumento rápido da quantidade de estabelecimentos do comércio ativo atendidos, que subiu de 12 para 80. As demandas das entregas são mais variadas, incluindo hamburguerias, pizzarias, restaurantes, sorveterias, farmácias, padarias, lojas de calçados e até pet shops.

 

O crescimento do delivery diante do “fique em casa” da pandemia do coronavírus garante lucros para Lucas Oliveira Silva, que, no ano passado, montou um serviço de entrega rápida em Pirapora, as margens do Rio São Francisco (Norte de Minas), onde mora.

Solicitadas via Whatsapp, as entregas são feitas de bicicleta, atendendo, sobretudo, aos restaurantes e hamburguerias. Também são atendidas outras demandas, como a entrega de pequenas encomendas e pagamentos bancários.

 

O negócio foi iniciado em novembro de 2020. Eu estava desempregado e tive a ideia de começar um serviço prático econômico e sustentável. Pensando isso, eu criei o “Entrega Bike” em Pirapora. O que era um esporte virou nosso trabalho”, confessa Lucas. Atualmente, ele conta com 12 ciclistas cadastrados.

 

Testes de COVID não evitam queda

 

Se para uns a pandemia trouxe oportunidades, para outras empresas, mesmo sendo essenciais, não evitou perdas. É caso da empresa FFW Logística, especializada no transporte de amostras biológicas para exames laboratoriais. Sediada em São Carlos, no interior de São Paulo, a firma coleta amostras para exames em 90 cidades do interior de Minas.

 

De acordo com Ana Cláudia de Lima, executiva de vendas da FFW Logística, com o surgimento da pandemia, nos meses de março e abril, período das medidas mais rígidas do isolamento social, a transportadora especializada teve queda de 80% em sua rotina diária de movimentação das amostras de análises clínicas.

No entanto, entre os meses de maio e junho a empresa teve uma “compensação” na demanda com o aumento do transporte de material para testes da COVID-19 para os laboratórios.

 

Ana Cláudia disse que, no final de 2020, o volume do transporte de amostras para exames de análises clínicas retornou em 80% do patamar anterior à pandemia.

Em janeiro, o serviço teve uma pequena queda novamente, devido à segunda onda da pandemia do coronavírus. A executiva informa que, para fazer o transporte do material para os testes da COVID-19, a FFW teve que tomar todas as medidas para a proteção dos seus 170 funcionários, dos quais, 150 são motoristas. (LR)

 


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