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Estado de Minas TEM, MAS ACABOU

Efeito delivery: faltam marmita, canudo e até copo em lanchonetes de BH

Escassez de matéria-prima é outro fator que pressiona descartáveis. Além de escassos, itens estão mais caros: muitos sofreram alta acima de 150% na pandemia


17/02/2021 04:00 - atualizado 22/02/2021 08:38

Fechados, restaurantes partiram para vendas on-line, elevando procura por vasilhames e valores(foto: Marcos Vieira/EM/D.A PRESS)
Fechados, restaurantes partiram para vendas on-line, elevando procura por vasilhames e valores (foto: Marcos Vieira/EM/D.A PRESS)
“Poderia embalar para levar, por favor?”. Quem diria que o pedido cotidiano provocaria calafrios no empresário Luiz Fernando de Oliveira, com dez anos de experiência no ramo de lanchonetes. Dono de dois estabelecimentos em Belo Horizonte, ele conta que, por falta de descartáveis, passou pelo constrangimento de propor a clientes que desejavam lanches e refeições para viagem que consumissem os alimentos no local.



A situação está longe de ser isolada na capital mineira. Empreendedores de variados ramos alimentícios – bares, restaurantes e padarias –relatam experiências semelhantes, frequentes desde a chegada da pandemia.

Como era de se esperar, a escassez dos produtos acompanha forte alta nos preços. Itens como marmitex e talheres de plástico acumulam reajustes superiores a 150% ao longo dos últimos onze meses, fator que tem contribuído para reduzir o já combalido orçamento tanto do comércio de alimentos, quanto do consumidor final.

Atribuído ao crescimento da demanda pelo delivery durante o período pandêmico e à escassez de matéria-prima na indústria, o fenômeno parece beneficiar ao menos um setor: o de embalagens. Algumas empresas da Grande BH comemoram aumento médio de três vezes nas vendas.

Prejuízo

“Quando o cliente vem à loja, eu ainda posso sugerir que ele faça a refeição na hora. O pior é não ter material para atender pedidos de delivery feitos pelos aplicativos”, queixa-se o comerciante Luiz Fernando de Oliveira, que administra duas lanchonetes em BH – uma na Savassi e outra no Centro.

O consumo mensal de embalagens em apenas um dos estabelecimentos é estimado em 15 mil unidades. “Isso são só os itens de papel, como caixas de salgadinho e hamburger. Plástico não entra nessa conta”, ressalta o empresário.

Nas padarias, os potes plásticos tiveram a procura ampliada durante a pandemia de COVID-19(foto: Marcos Vieira/EM/D.A PRESS)
Nas padarias, os potes plásticos tiveram a procura ampliada durante a pandemia de COVID-19 (foto: Marcos Vieira/EM/D.A PRESS)
Ele diz que foi obrigado a suspender o serviço de entrega por duas semanas este ano, já que os fornecedores de descartáveis têm levado o triplo do prazo padrão para entregar as encomendas. “Imagina o meu rombo com isso sendo que, por vários meses, eu tive que manter as portas fechadas na rua, por causa dos decretos de isolamento da prefeitura”, ponderou.

A solução encontrada por Oliveira para evitar novos prejuízos foi triplicar as encomendas junto às distribuidoras. O último pedido feito, diz ele, foi de quase 100 mil unidades, suficientes para suprir seis meses de atividades. O alto volume não rendeu os descontos de praxe. “Comprei muito e paguei caro. Cerca de 30% a mais na comparação com o período anterior à pandemia”, afirma o empreendedor.

Custos e prazos

O chef Flávio Fantini, que comanda um restaurante no Bairro de Lourdes, na Região Centro-Sul, não chegou a ter o negócio paralisado pelo desabastecimento de recipientes no mercado. Manter os estoques, contudo, demandou malabarismos logísticos e financeiros. Ele relata que encontrar marmitex, o protagonista de suas entregas, virou missão impossível. Sacolas e até os selos para lacrar os vasilhames também andaram desaparecidos.

“A gente aqui usava muito papel –marmitas de papel personalizadas e sacolas de craft. Os marmitex, nós tivemos que diversificar, usar também os de isopor. Também passamos a comprar em São Paulo, por meio de pedidos enormes, já que eles só atendem em larga escala. Tudo obviamente bem mais caro, calculo que pelo menos 25%”, diz o proprietário.

“Quanto às etiquetas de lacre, as gráficas têm levado dois meses para entregar. Alegam falta de matéria-prima para imprimir”, complementa.

Veterano do ramo de self-service, Fabiano Campos teve que abolir os talheres de plástico do delivery. Ele diz que desistiu de correr atrás dos utensílios, que subiram mais de 100%. “O marmitex, eu também tive que adaptar. Aqueles com capacidade de 1,1 litros sumiram há mais de quatro meses. Quando o cliente compra uma quantidade de comida maior, eu divido o conteúdo em várias unidades”, relata.

Nas padarias, as boleiras de acrílico é que se tornaram raridade, vendidas a peso de ouro. Sócio de duas tradicionais situadas na Região Centro-Sul, Pedro Santiago de Moraes conta que virou “refém” dos fornecedores dos produtos. 

"Não estou podendo escolher de quem comprar, nem o modelo da embalagem. Assim que acho, tenho que fechar o negócio e pagar o preço pedido. Senão, fico sem. Os valores cobrados estão exorbitantes. Neste mês de janeiro, gastei o triplo do que gastaria antes da pandemia em embalagens", ressalta o empreendedor.



Aquecimento

A Associação Brasileira de Embalagens (Abre) diz que o atual cenário é pressionado sobretudo por dois fatores. O primeiro seria o aumento da demanda pelo delivery provocado pela pandemia, já que bares e restaurantes permaneceram fechados por vários meses em todo o Brasil. 

"Vamos lembrar que as pessoas também passaram a cozinhar mais em casa, o que demanda a compra de ingredientes em supermercados. Tudo isso requer embalagens.  Some-se a isso o aquecimento do consumo de forma geral, influenciado por políticas como o auxílio emergencial, que ajudou a girar com mais força o mercado de alimentos”, explica Luciana Pellegrino, diretora-executiva da Abre.

Insumos derivados do petróleo, como polímeros (base do plástico) e poliestireno (ingrediente do isopor) estão em falta no mercado, explica Associação Brasileira de Embalagens (Abre)(foto: Pixabay)
Insumos derivados do petróleo, como polímeros (base do plástico) e poliestireno (ingrediente do isopor) estão em falta no mercado, explica Associação Brasileira de Embalagens (Abre) (foto: Pixabay)
O fenômeno também estaria relacionado à escassez de matéria-prima para fabricação de embalagens - sobretudo papel e celulose, polímeros (base do plástico) e poliestireno (insumo utilizado na produção de isopor). Os dois últimos são derivados do petróleo.

 “Num primeiro momento, a indústria desacelerou a produção, com medo de tomar prejuízo. No início da pandemia, era tudo muito incerto e obscuro. Então, o que elas fizeram? Queimaram seus estoques e pararam de produzir. Daí, veio a aceleração do consumo e as fábricas ficaram sobrecarregadas, sem condição de atender as demandas com a celeridade necessária. Vai levar um tempo até que elas consigam normalizar as entregas”, projeta Pellegrino. Ela acredita que a cadeia produtiva será regularizada a partir do segundo trimestre deste ano.

Analistas do setor industrial preveem um terceiro benefício nos próximos três meses. No caso, a recuperação das indústrias petroquímicas, como a Braskem. A gigante brasileira, que é a maior fornecedora de termoplásticos das américas e dos Estados Unidos, amargou prejuízo de R$ 1,4 bilhão no segundo trimestre de 2020, causado pela crise do coronavírus, variações no preço do barril de petróleo e desastres ambientais.

Lucro

Enquanto isso, distribuidoras de embalagens da Grande BH comemoram o bom momento das finanças. Apesar de haver dificuldade em atender a clientela em função da escassez de matérias-primas, diversas empresas registram recordes de faturamento. É o caso da Distripack, com filiais situadas em Belo Horizonte, Contagem e no Norte de Minas. O setor de compras do empreendimento chegou a registrar aumento médio de até três vezes na venda de produtos.

Distribuidoras de embalagens da Grande BH bateram recorde de vendas durante a pandemia.(foto: MCS Embalagens/Divulgação)
Distribuidoras de embalagens da Grande BH bateram recorde de vendas durante a pandemia. (foto: MCS Embalagens/Divulgação)
“Olha, eu diria que não estamos podendo reclamar. Os pedidos de caixas de pizza, por exemplo, aumentaram mais de 150%. O mesmo vale para hamburgueiras e saquinhos de plástico. Só que os reajustes nos preços aplicados pelos nossos fornecedores têm sido semanais e tivemos que repassá-los aos clientes. Achamos que, com isso, as vendas cairiam, mas isso não aconteceu”, diz a compradora Valéria Oliveira.

A Sellpack, com lojas espalhadas pela capital mineira, Grande BH, Espírito Santo e Rio de Janeiro, também está com a agenda de pedidos lotada. “O lado ruim é que alta demanda faz com que a gente não consiga atender dentro do prazo de costume, mas isso é por causa das fábricas. Para você ter uma ideia, os canudos, que são muito básicos, às vezes demoram 40 dias para chegar. Antes, eram entregues em uma semana, 10 dias, no máximo. O cliente, com isso, acaba deixando de ser fiel a nós. Mas girando, o mercado está. Bastante”, analisa o gerente de compras Arley Monteiro de Souza.








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