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Estado de Minas Comércio eletrônico

Delivery cresce e contrata em várias partes do mundo, mostra estudo

Estudo feito no Brasil, Polônia, Holanda e Austrália mostra que percentual de clientes atraídos pela compra on-line cresceu 10 pontos


16/02/2021 04:00 - atualizado 16/02/2021 07:43

Dono de restaurante de Montes Claros, no Norte de Minas, Tancredo Macedo investiu no sistema de entrega e empregou quatro pessoas(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
Dono de restaurante de Montes Claros, no Norte de Minas, Tancredo Macedo investiu no sistema de entrega e empregou quatro pessoas (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)

O aumento das entregas a partir do uso de aplicativos de pedidos de alimentação, entre eles iFood, UberEats e DeliveryMuch, está sendo estudado pela professora associada da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Leise Kelli de Oliveira.

Ela integra grupo de pesquisadores de quatro países – Polônia, Holanda, Austrália e Brasil – que se dedicam a identificar e compreender os efeitos da pandemia do novo coronavírus sobre os hábitos dos clientes do comércio eletrônico, o e-commerce.

 

A pesquisa começou a ser realizada em março de 2020 – período que a pandemia foi caracterizada no Brasil – e deverá ser concluída em dezembro deste ano. Foram entrevistados 1.400 brasileiros por amostragem.

Leise de Oliveira revela que uma das primeiras constatações do estudo foi o aumento significativo do percentual de pessoas que compram alimentos e bebidas pelo sistema on-line, que passou de 57% para 67% durante a pandemia.

 

“No âmbito da pesquisa, esse dado é muito importante porque mostra claramente que um dos principais aumentos percentuais no consumo ocorreu no setor de alimentos e bebidas”, destaca. Ela ressalta que a expansão teve continuidade mesmo após a reabertura dos estabelecimentos, que enfrentaram períodos de portas fechadas em várias regiões do país, como parte das medidas de isolamento social para conter a disseminação da COVID-19.

 

(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
Se antes da pandemia, como enfatiza a pesquisadora, as vendas a distância tinham como vantagem o preço mais competitivo, a quarentena injetou gás no negócio, com o impedimento do contato físico. “Antes da pandemia, o comércio eletrônico era mais atrativo que aquele das lojas físicas pelos preços, a possibilidade de comprar a qualquer hora e em qualquer lugar e a entrega em casa. Durante a pandemia, além da entrega em casa, a compra sem contato com pessoas fortaleceu as vendas pela internet”, observa.

 

A chegada da vacina não deve afetar, ao menos de imediato, o comportamento do consumidor, na avaliação de Leise Oliveira. “No início, acho que não. Muita gente vai continuar o usando o delivery até o momento em que toda população for imunizada”, afirma.

 

A pesquisadora associada à UFMG destaca que houve também diversificação dos serviços que adotaram a entrega por aplicativos durante a pandemia. “Antes, os aplicativos ofereciam apenas comida preparada e agora todos oferecem produtos de supermercados, farmácia, entre outros. Nesse sentido, existe uma potencial tendência de aumento de vendas deste sistema”, diz. “Contudo, isso é uma percepção e não se pode falar em futuro sem dados para analisar”, pondera.

 

'Novo normal' Relatório recente do Ebit – serviço de informações sobre o e-commerce – indica que o número de vendas pelo meio eletrônico no primeiro semestre de 2020 (que abrange os meses de maior rigor nas restrições ao comércio presencial) foram 39% superiores ao primeiro semestre de 2019. O mesmo levantamento de dados apontou que o tíquete médio de compras on-line teve elevação de 6% entre janeiro e junho do ano passado, alcançando R$ 427, frente a R$ 404 no semestre analisado de 2019.

 

No comércio de alimentos e bebidas, subiu de 57% para 67% a parcela de consumidores que adotaram a entrega de pedidos em domicílio(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
No comércio de alimentos e bebidas, subiu de 57% para 67% a parcela de consumidores que adotaram a entrega de pedidos em domicílio (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

''Em alguns países, as lojas físicas estão se tornando vitrines de experiência do usuário e a compra é realizada on-line''

Leise Kelli de Oliveira, pesquisadora associada da UFMG

 

Os empreendedores dos negócios on-line devem se preparar para movimento crescente no meio eletrônico no chamado “novo normal”, após a pandemia. “Em alguns países, as lojas físicas estão se tornando vitrines de experiência do usuário e a compra é realizada on-line. Acredito que essa será uma tendência para o futuro. 

 

Além disso, muitos pequenos empreendedores têm utilizado os marketplaces (como Amazon, Magazine Luiza e Mercado Livre) para oferecer os produtos para os consumidores. “Acredito que essa seja uma tendência.”

 

Por outro lado, ela chama a atenção para um fator que “muitas vezes é esquecido”: a necessidade de rapidez na entrega. “Muitas lojas já oferecem o serviço 'compre e retire' ou 'clique e retire'. Contudo, esse sistema de entrega precisa ser expandido, com maior flexibilidade de dia e horário. Além disso, também permitir a logística reversa, facilitando a devolução e troca de encomendas”, observa a especialista.

 

Desafios

O custo dos fretes das mercadorias não deve ser o único nó a ser desatado pelo comércio eletrônico. A pesquisadora Leise Oliveira considera um futuro em que a entrega domiciliar pode se tornar insustentável do ponto de vista do meio ambiente.

“Trocar um deslocamento por compra com entrega domiciliar pode ser algo que incremente muito o custo de transporte e desestimule o comércio eletrônico. Tenho dúvidas se será comum comprar um produto ao custo de R$ 20 e pagar R$ 30 em frete. Isso é algo que deve ser motivo de investigação científica”, avalia.

 

Restaurantes investem, mas há mais competição

 

A “migração” para o delivery foi alternativa encontrada pelo empresário Tancredo Macedo Filho, dono do bar e restaurante  Mapa de Minas, de Montes Claros, no Norte do estado, para manter o negócio após a crise do coronavírus. Ele conta que o serviço de entrega era tímido e só depois da crise sanitária recebeu investimento sigificativo. “Antes, o delivery representava 20% das minhas vendas. Com a pandemia, passou a responder por 80% do faturamento”, afirma.

 

Como outros empreendedores do setor, ele teve que apostar nas entregas de comida em domicílio por uma questão de sobrevivência. Imediatamente após a pandemia, os bares e restaurantes de Montes Claros ficaram fechados por três meses, sendo permitidas somente as vendas pelo delivery. Reabriram as portas em 20 de junho com uma série de restrições, limite de clientes e horário de funcionamento reduzido.

 

O comerciante salienta que a estrutura de delivery por aplicativos demandou a contratação de quatro pessoas – dois cozinheiros e dois atendentes dedicados exclusivamente ao atendimento em domicílio. Com isso, em plena pandemia, o quadro de pessoal da casa cresceu de 32 para 36 funcionários.

 

O restaurante contrata empresas terceirizadas, que fazem as entregas dos pedidos por aplicativos. “Mas, mesmo se estiver no próprio restaurante, o cliente pode fazer o pedido pelo aplicativo usando o celular, que a comida será levada à sua mesa”, acrescenta.

 

Após a reabertura do comércio de produtos e serviços não essenciais, Tancredo Filho observou que o sistema de delivery continua em alta. Segundo ele, entregas passaram a responder por 20% do seu faturamento, em vez dos tradicionais 3% das vendas. “A tendência do delivery é crescer sempre.”

 

No restaurante Skema Kent, também de Montes Claros, o proprietário José Maria Malheiros contabilizou o dobro das vendas para entrega em domicílio no início da pandemia. “Mas, por causa das medidas do isolamento social, todos os restaurantes da cidade criaram o delivery. A concorrência aumentou muito e, hoje, minhas entregas caíram 50%, voltando ao que eram antes da pandemia”, relata Malheiros.

 

Impostos Andréa Marques Moura, gerente do restaurante Mania Gourmet, conta que o investimento no sistema de delivery resultou em aumento de 40% das entregas durante a pandemia, mas reclama de concorrência desleal. “Com as restrições ao atendimento presencial, todo mundo investiu no delivery e surgiram serviços de entrega de fundo de quintal, por gente que não paga impostos. Isso acaba atrapalhando a gente, que paga tributos e tem custos fixos”, reclama Andréa.

 

Proprietário de um restaurante (Chega Lá na Filó) em Pirapora (Norte de Minas), cidade que atrai turistas por causa das belezas do Rio São Francisco, o comerciante Thiago de Abreu Sá afirma que já fazia as entregas em domicílio, sobretudo de sanduíches, atendendo aos pedidos pelo WhatsApp. Com a pandemia, melhorou o serviço, recorrendo à digitalização e a aplicativos de transportes especializados em alimentos.

 

Com a mudança, as vendas pelo delivery subiram 70%. Satisfeito com o resultado, mudou o perfil do negócio e passou a fazer todo o comércio de comida em domicílio, interrompendo de vez o atendimento presencial. “Como a gente já tinha um pouco de know-now com as entregas, buscamos mais informações para atender melhor os clientes. A pandemia trouxe a digitação do serviço de entrega, o que facilitou muito pra gente”, afirma o empreendedor.


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