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Estado de Minas CUSTO DE VIDA

Disparada nos preços e renda menor pressionam orçamento familiar

Depois da inflação de 4,25% em 2020, ano começa com alta nos gastos com alimentos, planos de saúde e aluguéis, agravada por estagnação ou até perda de renda


14/01/2021 04:00 - atualizado 14/01/2021 08:46

Analista de sistema, Marcos Amaral continuou trabalhando na pandemia, mas não escapou dos efeitos da inflação: 'O custo de vida subiu, mas o salário não acompanhou' (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Analista de sistema, Marcos Amaral continuou trabalhando na pandemia, mas não escapou dos efeitos da inflação: 'O custo de vida subiu, mas o salário não acompanhou' (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

O brasileiro viu seu custo de vida aumentar significativamente ao final de 2020 devido à expansão dos preços num contexto em que a pandemia de COVID-19 já vinha impondo a perda ou estagnação da renda para muitas famílias.

Especialistas avaliam que, neste início de ano, a inflação deve comprometer ainda mais o orçamento familiar, pois estão previstos novos reajustes nos planos de saúde, nos aluguéis e em itens que fecharam o ano passado em queda, como os combustíveis.

A pressão nos preços dos alimentos também deve persistir, uma vez que a demanda interna continua aquecida. Além disso, como é comum em janeiro, vários gastos familiares se acumulam e, geralmente, são acompanhados de correções, como é o caso do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e das contribuições para os órgãos de classe.
 
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação no país, fechou 2020 acumulado em 4,52%.

Mesmo abaixo do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para o ano, que era de 5,5%, o indicador foi o maior desde 2016. Um dos principais impactos para os consumidores em 2020 foi a elevação de 14,09% nos preços de alimentos e bebidas, a maior expansão desde 2002.
 
Para o economista André Braz, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a alta nos preços dos alimentos foi um movimento global durante o ano passado, como consequência da pandemia de COVID-19.

Ele explica que inflação no preço dos alimentos é resultado do aumento da demanda mundial e de um novo ciclo de desvalorização cambial, em que o real se enfraqueceu perante o dólar, impactando o preço das commodities, cotadas na moeda americana.
 
Ao divulgar a inflação de 2020, o IBGE expôs a disparada nos preços vários itens, como óleo de soja, que fechou o ano em média 103,79% mais caro, e o arroz, que teve aumento de 76,01% em 2020.

Outros itens importantes na cesta das famílias também subiram expressivamente, entre eles, o leite longa vida (26,93%), frutas (25,40%), carnes (17,97%), batata-inglesa (67,27%) e tomate (52,76%).
 
“Quem vai ao supermercado e faz compra percebe que os alimentos subiram muito. Muito além dos últimos anos”, ratifica Marcos Amaral, de 53 anos, analista de sistemas da área educacional. Ele mora em Belo Horizonte com a esposa, que é confeiteira autônoma, o filho de 2 anos e o enteado de 16. Funcionário do setor privado com carteira assinada, Amaral permaneceu trabalhando durante a paralisação da pandemia, mas não teve reajuste salarial para este ano. “Meu poder de compra se reduziu bastante, pois o custo de vida aumentou, mas o salário não acompanhou”, afirma.

CESTA BÁSICA


Na capital mineira, o valor da cesta básica, que representa os gastos de um trabalhador adulto com a alimentação, chegou a R$ 566,80 em dezembro passado, valor 22,09% superior ao mesmo mês de 2019, segundo dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead/UFMG), que acompanha os índices de preços na capital mineira.

A tarifa de energia elétrica residencial, que subiu 10,10%, também contribuiu para o aumento nas despesas das famílias no último mês do ano.
 
Para a economista coordenadora do IPCA de BH no Ipead, Thaize Martins, as perspectivas são incertas para 2021, uma vez que a dinâmica da pandemia continua sendo fator preponderante para o desempenho econômico.

Ela credita à pandemia a mudança no comportamento do índice de preços em 2020 e não vê alteração em curto prazo. Para Thaize, além da inflação, a quantidade de contas em janeiro faz o consumidor brasileiro olhar com pessimismo para este início de ano.
 
“Os alimentos tiveram uma forte alta no ano e isso tende a continuar no início de 2021, uma vez que ainda é esperada uma pressão, devido à demanda interna aquecida, além de novos reajustes de planos de saúde e outros itens que fecharam o ano passado em queda, como o combustível. A inflação de janeiro deverá ser alta, como em todo ano, mas ainda mais pressionada do que nos últimos períodos”, observa a economista.
 
Como anunciado, o ano novo já chega com um amontoado de contas para os brasileiros. A escala de pagamentos do IPVA para os veículos e motocicletas licenciados em Minas Gerais, por exemplo, começa no dia 18.

O imposto do carro sofreu reajuste médio de 6,74% no estado e poderá ser pago em cota única dentro deste mês, com abatimento, ou em três parcelas mensais.

O IPTU em Belo Horizonte foi corrigido em 4,23% e se o contribuinte quiser superar esse aumento, deve considerar a opção de pagamento integral com desconto de 6% até próximo dia 20.

ALUGUÉIS


A elevação no preço dos aluguéis também deve pesar no orçamento de muitas famílias em 2021, pois o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), usado como indicador para a correção nos contratos de locação, fechou o ano passado em 23,14%, maior alta desde 2002.

Para os planos de saúde, a ANS, agência reguladora do setor, autorizou a cobrança do reajuste de 2020, que foi represado por causa da pandemia, em 12 parcelas no decorrer deste ano. A esse valor se juntará a correção de 2021, que deverá ser anunciada em maio.

A Fundação Getúlio Vargas (FGV) estima que o acúmulo dos dois reajustes poderá trazer um aumento entre 15% e 20% nos contratos particulares e entre 20% e 25% nos planos corporativos até o final do ano.
 
Para André Braz, o acúmulo de contas cria um gargalo para o orçamento familiar, mas é trivial. O economista da FGV acredita que a maior dificuldade para as famílias honrarem seus compromissos neste ano será a perda ou estagnação da renda, que em muitas famílias se agravará em decorrência do fim do auxílio emergencial pago pelo governo federal até o mês passado para minimizar os efeitos da crise sanitária.

“A situação se torna mais difícil porque muitas pessoas foram demitidas e muitas outras estão impedidas de prestar o seu serviço por causa da pandemia”, pontua.

Alarmado com o preço dos alimentos e com as incertezas da pandemia, Marcos Amaral calcula o pagamento regular das despesas de início de ano, como o IPVA e a correção do plano de saúde, mas revela que reviu as prioridades de gastos para entrar em 2021 com mais tranquilidade.

“Preferi deixar de viajar e usufruir de algum passeio com minha família para evitar que nossas finanças ficassem apertadas neste início de ano. Como o custo de vida aumentou agressivamente, principalmente com alimentação, a gente teve que cortar no que, momentaneamente, não é essencial, como lazer e entretenimento”.

*Estagiário sob supervisão da subeditora Rachel Botelho

Carne mais cara muda hábitos

Um dos vilões da inflação, a carne vermelha teve reajuste de 17,97% no ano passado, o que obrigou consumidores a mudar hábitos(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Um dos vilões da inflação, a carne vermelha teve reajuste de 17,97% no ano passado, o que obrigou consumidores a mudar hábitos (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

Os alimentos fecharam 2020 como os grandes vilões da inflação que, segundo dados do IBGE divulgados na terça-feira, chegou a  4,52% no acumulado dos últimos 12 meses.

O levantamento que compõe o indicador, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mostrou que expansão do custo dos gêneros alimentícios foi de 14,09%, a maior desde 2002. Entre os itens que mais sofreram variação está a carne vermelha, que subiu, em média, 17,97%, impondo mudanças nos hábitos de compra dos brasileiros.

O chef Arthur Ferolla faz compras para ''Tive que aumentar o preço do meu produto''(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
O chef Arthur Ferolla faz compras para ''Tive que aumentar o preço do meu produto'' (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
O chef de cozinha Arthur Ferolla acompanha de perto a variação do preço dos alimentos. Ele comercializa lámen, um prato da culinária japonesa, por delivery em Belo Horizonte e tem costume de anotar, semanalmente, os preços dos ingredientes que utiliza, entre eles a carne de porco.

“Consegui acompanhar muito bem a inflação, da carne principalmente, tanto que tive que aumentar o preço do meu produto. Todos os clientes entenderam e foram compreensivos, porque eles estão vendo também. Todo mundo que vai ao supermercado comprar está vendo o aumento gigantesco da carne e de tantos outros produtos”.

Dono de um bar, Juscelino Adelmar deixou para trás a fidelidade a fornecedor único e adquire ingredientes de vários para economizar (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Dono de um bar, Juscelino Adelmar deixou para trás a fidelidade a fornecedor único e adquire ingredientes de vários para economizar (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Nas anotações de Ferolla é possível observar que o quilo da barriga de porco, um dos cortes mais utilizados pelo chef, passou de R$ 21,90 em agosto para R$ 26,90 na compra realizada ontem (13/1), uma variação de quase 23%.

“As carnes suínas, que sempre foram mais em conta, já não são uma boa alternativa, porque estão muito caras. Estamos consumindo cada vez menos carne. Sinto que está acontecendo isso”, observa.
 
Um dos fornecedores de Ferolla é Orlando Costa, proprietário de uma casa de carnes no Mercado Central. O comerciante também tem notado mudança no consumo de seus clientes e conta que teve que diminuir a margem de lucro das suas vendas para não repassar o valor total do aumento ao consumidor e perder a freguesia.

“O cliente que comprava um patinho moído, hoje compra uma carne de segunda. Mudou muito. Quem comprava o filé mignon, está levando o miolo de alcatra no lugar”, destaca.

“O meu cliente chegava ao açougue e já pedia direto, sem olhar os preços. Agora eles olham os preços primeiro. Se eu fosse repassar o aumento todo que tivemos, o quilo de contrafilé, por exemplo, estaria entre R$ 55 e R$ 58 (hoje é vendido a R$ 46,90 no estabelecimento de Costa)”.
 
Juscelino Adelmar é dono de um bar no bairro Glória, região Noroeste de Belo Horizonte, e tem uma clientela fiel às sextas-feiras, quando serve a tradicional feijoada para o almoço.

Ele conta que as variações no preço da carne ao longo do ano impuseram uma correção no valor cobrado pelo prato, que passou de R$ 15 para R$ 18.

Adelmar revela que pesquisa os preços com vários fornecedores e que, diferentemente do que fazia antes, compra cada um dos ingredientes onde encontra o melhor preço.

“A gente tem que olhar os preços, porque a carne subiu bastante. Tenho uma demanda muito boa de carne, mas onde eu comprava, por exemplo, R$ 600, hoje é R$ 200. Se a gente não pesquisar, fica difícil de trabalhar”.

NA SUBIDA


Confira a elevação de alguns dos índices de preços

» 4, 52%
Alta acumulada do IPCA medido pelo IBGE em todo o país em 2020

» 5,03%
Elevação da inflação em Belo Horizonte, na medição pelo IPCA do Ipead

» 22,09%
Alta da cesta básica de BH, que fechou o ano em R$ 566,80

» 23,14%
Alta do IGP-M, medido pela Fundação Getúlio Vargas e principal indicador para reajustes de contratos de aluguéis




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