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Estado de Minas Orçamento apertado

Preços altos dos alimentos penalizam mais famílias do interior de MG

Comida cara pressiona a inflação em municípios de diversas regiões de Minas, a exemplo de Juiz de Fora, Montes Claros e Divinópolis


28/12/2020 04:00 - atualizado 28/12/2020 07:37

"A gente fazia compras uma vez por mês, mas, agora, vamos toda semana para comprar aos poucos e aproveitar as ofertas da vez", Renato Zamboni, analista de suporte de redes, com a mulher, Adriane (foto: Fotos: Marcos Alfredo/Divulgação)

A disparada dos preços dos alimentos sacrifica o interior de Minas Gerais e eleva as previsões para o custo de vida num começo de ano, por tradição, carregado pelas despesas típicas com impostos e mensalidades escolares.

Em Uberlândia, no Triângulo, a inflação alcançou 3,80% de janeiro a novembro, tendo superado toda a variação em 2019 medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

A evolução foi maior, inclusive, que aquela apurada em Belo Horizonte, de 3,74% no mesmo período, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), vinculada à UFMG.

A pressão sobre o orçamento das famílias também surpreende em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, onde o custo da cesta básica de alimentos está 35,82% mais alto do que em 2019.

O reajuste da despesa essencial à mesa ultrapassou a remarcação de 33,53% sobre o ano passado das despesas com a cesta em BH, também pesquisada pela Fundação Ipead.

Os gastos somam R$ 500,02 na cidade, que é uma das mais importantes do interior de Minas, seguindo a uma distância nem tão larga assim para o valor de R$ 553,24 cotado na capital.

Inflados pelo frete no transporte de alimentos que saem da capital para abastecer o varejo de Montes Claros, os preços dos alimentos têm pesado no bolso do consumidor da cidade-polo do Norte do estado neste ano.

Os dados mais recentes da pesquisa da cesta básica, feita regularmente pela Unimontes, indicam que de janeiro a agosto a chamada ração essencial já havia encarecido 11,26%, enquanto em BH, nos mesmos meses, os alimentos básicos sofreram com reajuste de preços de 3,14%, em média.

"Agora, eu e a esposa fazemos o almoço e jantar. A gente percebeu como aumentaram os preços, então, evitamos lanches fast-food", Joab Campos, administrador


A redução da oferta de alimentos no Brasil em 2020, devido à expansão dos embarques ao exterior, o que fez os preços dispararem no mercado interno, sacrifica, ainda, a população de Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas. As despesas com os produtos essenciais de alimentação no município consumiram quase 43% do valor do salário mínimo (de R$ 1.045).

Parece pouco quando o percentual é comparado à fatia de 52,94% que a cesta básica leva, em BH, do piso salarial no país do mercado formal de trabalho, mas a população de Divinópolis tem se preocupado, da mesa forma, com os serviços mais caros.

Tanto é assim que a cabeleireira Janandreia Nunes, de 34 anos, se viu forçada a reduzir os preços pagos pelos clientes. “Não dava para cobrar o mesmo valor. Muita gente ficou devendo e não tinha nem como cobrar. Enquanto isso, os preços no supermercado ficaram sem noção”, reclama.

Há um conjunto de fatores, agravados pela pandemia de COVID-19, que explica as dificuldades das famílias para administrar as contas neste ano, de acordo com Ricardo Freguglia, professor de economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

“Quando há escassez devido à chuva, pandemia, transporte, o preço sobe. É difícil saber qual é o fator predominante, porque não temos um acompanhamento específico. Mas, certamente, a pandemia gera efeitos. E os preços podem aumentar também devido aos custos mais elevados no momento”, afirma.

‘Exorbitantes’


Para o analista de suporte de redes Renato Zamboni, de 56, arroz, frios e frutas foram os produtos que mais encareceram em Juiz de Fora, e por isso, ele e a mulher, Adriane, precisaram mudar os hábitos de consumo.

Para economizar, eles deixaram de comer fora de fora e reduziram os pedidos pelos aplicativos. “Os preços aumentaram muito, estão exorbitantes. Antigamente, a gente fazia compras uma vez por mês, mas, agora, vamos toda semana para comprar aos poucos e aproveitar as ofertas da vez.”

O administrador Joab Campos, de 26, percebeu remarcações expressivas de preços de itens como o arroz e frutas. Ele conta que, em casa, aumentou muito o consumo mensal de alimentos, pois, antes da pandemia, costumava se alimentar fora de casa. “Agora, eu e a esposa fazemos o almoço e o jantar. A gente percebeu como aumentaram os preços, então, evitamos comer lanches fast-food para economizar”, afirma.

A Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agropecuária de Juiz de Fora faz pesquisa semanal dos preços da cesta básica em sete supermercados, acompanhando a evolução dos gastos do consumidor com 13 alimentos de primeira necessidade. É também feita a pesquisa da cesta básica regional, na qual está incluídos 22 itens.

O gasto é calculado com base na despesa de uma família de quatro pessoas, sendo duas adultas e duas crianças, consideradas na estimativa de consumo de uma pessoa adulta. O custo de R$ 500,02 apurado em meados deste mês representa 54,46% do salário mínimo. No ano passado, a despesa era de R$ 368,15 e equivalia a 40,10% do mínimo pago no país. (Com Amanda Quintiliano/Especial para o EM)


Em Divinópolis, alta dos alimentos, da mesma forma que em Uberlândia, se junta a serviços mais caros(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press 14/12/16)
Em Divinópolis, alta dos alimentos, da mesma forma que em Uberlândia, se junta a serviços mais caros (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press 14/12/16)

Custo da cesta básica bate recorde em 2020


A inflação acumulada neste ano em Uberlândia deve passar de 4,8%, segundo previsão do Centro de Estudos, Pesquisas e Projetos Econômico-Sociais da Universidade Federal de Uberlândia (Cepes/UFU).

Alimentos e bebidas são os grupos de gastos com maior peso no Índice de Preços ao Consumidor local. A cesta básica atingiu seu maior valor no último mês. A alta dos preços da comida nos últimos meses é também a maior fonte de pressão no bolso da população de Divinópolis, no Centro-Oeste do estado.

Sem índice próprio de medição da inflação, levantamentos realizados pelo Núcleo de Pesquisas Econômicas e Sociais (Nepes/ UNA) em Divinópolis mostram como o custo de vida tem ficado mais alto no maior município da região. Em novembro, para conseguir comprar os produtos, o trabalhador precisou trabalhar 94h17min, com base na metodologia usada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

“Os aumentos podem ser explicados, em essência, por dois fatores: primeiro, o aumento do consumo, sustentado pelo auxílio emergencial concedido pelo governo; segundo, a diminuição da oferta de alguns alimentos no mercado doméstico em um contexto de câmbio mais alto, que estimula as exportações”, explica o professor universitário Wagner Almeida, especialista em controladoria financeira.

A inflação acelerou sobretudo a partir de junho em Uberlândia, como destaca a economista do Cepes/UFU Graciele Sousa. “Houve uma aceleração na inflação concentrada no grupo de alimentação e bebidas, que, no ano passado, não tinha apresentado tanta variação quanto neste ano.” A especialista estima que o indicador deve fechar o ano acima da meta de 4,5% definida pelo governo.

Outra característica apontada pela economista é o represamento de reajustes neste ano no grupo de serviços por causa da pandemia, como nos casos de planos de saúde e energia elétrica.

Esses serviços devem ser corrigidos em 2021, o que traz preocupação. De janeiro ao mês passado, o preço da cesta básica subiu, em média, 20%, puxado por itens como óleo de soja, cujo preço dobrou em 2020, e arroz, que sofreu reajuste de 79%.

O aperto financeiro é sentido pela aposentada Yolanda Vaz Costa Soares, de 75 anos, moradora de Divinópolis. Metade da renda dela, de um salário mínimo, é destinada ao pagamento do plano de saúde e o restante é dividido entre as demais despesas, mal dando para pagar as contas de água e de energia. “Cada dia sobra menos. A gente vai se virando, apertando as contas, cortando o que não é essencial e substituído alguns alimentos”, conta.

Não há expectativa de reversão dos aumentos, segundo o professor Wagner Almeida. “Pode ser que em função de uma nova onda de contaminação pelo coronavírus os níveis de isolamento voltem a aumentar e, com isso, os preços não pressionem tanto. Mas, levando em consideração os períodos de entressafra, a alta nos preços tende a continuar por mais um período”, afirma. Pesquisa da UNA aponta que 51,3% dos entrevistados tiveram alguma redução de ganho devido aos efeitos da COVID-19 sobre a economia. (Vinícius Lemos e Amanda Quintiliano/Especiais para o EM)

Cidades pagam por 'passeio da produção'


Os “vilões” dos aumentos de preços em Montes Claros, nos últimos meses, foram o óleo de soja (33,54%), leite tipo C (15,22%), banana (12,99%) e o arroz (9,85%). O município do Norte de Minas conta com indicador local da inflação, calculado pelo Departamento de Economia da Unimontes, mas a pesquisa presencial foi prejudicada pela pandemia da COVID-19. A coordenadora do IPC, professora Vânia Vilas Boas, explicou que o trabalho prossegue de forma virtual, com a pesquisa de preços feita por meio de aplicativos, redes sociais e/ou contato telefônico.

Os preços são coletados em 400 estabelecimentos comerciais, distribuídos pelos mais de 150 bairros da cidade, e são distribuídos em sete grupos de despesa: alimentação, vestuário, habitação, artigos de residência, transporte/comunicação, saúde/cuidados pessoais, e educação/despesas pessoais.

Paulo Elmo Pinheiro, administrador e diretor do Grupo SuperKilo, de Montes Claros, diz que os hortifrútis são produtos cujos preços respeitam a lei da oferta e da procura, além do fato de serem perecíveis e de produção sazonal.

Os preços sobem e descem, sempre sujeitos a diversas situações, como a seca e a chuva. Se chove demais, complica. Se diminui a produção, com certeza o preço sobe.

Outro fator que influencia é a pequena produção de hortifrútis em Montes Claros, que impõe uma espécie de passeio dos alimentos até a chegada à mesa do consumidor. O abastecimento no município depende de itens que passam pelo entreposto da Ceasa Minas, em Contagem, na Grande Belo Horizonte, distante 416 quilômetros do município. A distância encarece os alimentos.


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