(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas Efeitos da Covid

Pandemia mergulha país na recessão, mas pior já passou

PIB tem queda de 9,7% no segundo trimestre sobre o primeiro, no pior resultado desde 1996. Ministro da Economia, empresários e economistas já veem sinais de recuperação


02/09/2020 04:00 - atualizado 02/09/2020 07:35

Fechamento do comércio em março e abril para conter propagação do vírus derrubou setor de serviços e contribuiu com queda do consumo das famílias, fazendo a economia despencar (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press 20/3/20)
Fechamento do comércio em março e abril para conter propagação do vírus derrubou setor de serviços e contribuiu com queda do consumo das famílias, fazendo a economia despencar (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press 20/3/20)

A economia brasileira sentiu fortemente os efeitos da pandemia de COVID-19 e o Produto Interno Bruto (PIB) fechou o segundo trimestre com queda de 9,7% em relação aos primeiros três meses de 2020 e 11,4% na comparação com igual período do ano passado, segundo informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

As quedas são as maiores já registradas na série histórica, iniciada em 1996. O resultado, depois de um tombo de 2,5% no primeiro trimestre, confirmou que o país entrou em recessão técnica como reflexo da forte desaceleração da atividade entre os meses de março e abril. No acumulado dos quatro trimestres terminados em junho houve queda de 2,2% em relação aos quatro trimestres anteriores. Mas para o ministro da Economia, Paulo Guedes, economistas e empresários esse é um cenário que ficou para trás, indicando que o pior para a economia já passou.

Paulo Guedes disse que a queda era esperada e representa apenas um “som distante” do início da pandemia. E garantiu que a economia brasileira já está se recuperando. “É o que todo mundo previa, uma queda de 10% do PIB. Foi o impacto inicial, uma queda de aparentemente 10%. Mas é um som distante. Um som do impacto da pandemia lá atrás”, afirmou Guedes, em audiência pública do Congresso Nacional ontem, logo após o IBGE informar a queda de quase 10% do PIB. “Chegou agora o som da queda inicial do PIB, só que a realidade já é outra. É o som de um passado distante”, acrescentou.
 
“Em janeiro e fevereiro, a economia do Brasil também não vinha muito bem, mas em março, com o aumento da crise da COVID-19, piorou absurdamente. O que temos de fazer é confiar que o Brasil vai ter uma retomada, pois há todas as condições para isso”, afirmou o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas, Aguinaldo Diniz Filho. “O pior já passou e o caminho já é de recuperação. O início do segundo trimestre é que foi uma época muito difícil”, observou o vice-presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Teodomiro Diniz.
 
Com a paralisação das atividades em abril, maio e junho, os serviços, comércio e indústria foram os setores mais afetados na comparação com o primeiro trimestre, com queda de 9,7%, 13% e 12,3%, respectivamente. O resultado não foi pior porque a agropecuária teve crescimento de 0,4%. “Tivemos o início da safra de café, especialmente em Minas Gerais, a partir de abril. Houve, também, safras de cana, citros e grãos como milho, soja e feijão”, ressaltou a economista da Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso. Pela ótica da despesa, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) teve queda de 15,4%. O consumo das famílias recuou 12,5% e o consumo do governo apresentou retração de 8,8%.
 
“A percepção do mercado é que houve uma recuperação no terceiro trimestre, não uma recuperação forte, continuamos em queda, mas não foi uma queda tão grande”, avaliou o estrategista de comércio exterior do Banco Ourinvest, Welber Barral, que foi Secretário de Comércio Exterior do Brasil entre 2007 e 2011. Para o economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicola Tingas, a extensão do auxílio emergencial e medidas e redução do desemprego e de condições para as empresas vão  permitir que a economia seja fortalecida a partir do fim do ano. Para ele, a economia brasileira deve ter uma queda entre 4,5% e 6%.
 
“Hoje, todas as estimativas são de queda (do PIB) entre 4% e 5%, praticamente a metade desse som que está chegando agora de um passado distante”, assegurou Guedes. Para a economista Paloma Brum, da Toro Investimentos, “a queda do PIB um pouco mais forte do que se estimava mostra que a recuperação da economia brasileira está se dando com um pouco menos de ímpeto do que o que se imaginava”. “O mais importante agora é observar o desempenho do 3º trimestre para ver se a recuperação será em V ou não. A nossa expectativa é de que ela será um pouco mais lenta e o PIB do ano caia 5,5%”, afirmou o economista Alexandre Espírito Santo, da Órama Investimentos.

Impacto forte


As fortes quedas dos serviços e da indústria por um lado e do consumo das famílias por outro ajudam a explicar o tombo da economia no segundo trimestre. “O PIB caiu 9,7% no segundo trimestre em relação ao primeiro influenciado pela queda nos serviços, que pesam três quartos da economia e pela queda do consumo das famílias, que pesa mais ou menos dois terços da economia”, afirmou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis. Ela destacou que, dentro dos serviços, o que caiu foi exatamente os serviços prestados às famílias, como hotéis, restaurantes, academias e salões de beleza.

Além disso, Rebeca lembrou que o desempenho negativo do mercado de trabalho, o isolamento social e a restrição de funcionamento de algumas atividades pesaram no consumo das famílias. “Por outro lado, como fatores que amenizaram essa queda, teve aumento no crédito para as famílias e também os programas de apoio governamental às famílias e às empresas”.
 
Nos serviços, os principais resultados negativos foram: outras atividades de serviços (-19,8%), transporte, armazenagem e correio (-19,3%), comércio (-13,0%), administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (-7,6%), informação e comunicação (-3,0%). Na contramão, o resultado positivo foi registrado em atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados, de 0,8%, e nas atividades imobiliárias, de 0,5%. Entre as atividades produtivas, a indústria da transformação desabou 17,5% na mesma base de comparação. Já a da construção teve recuo de 5,7% nas atividades em eletricidade e gás, água, e a indústria extrativa registrou queda de 1,1%.
 
Os investimentos também desabaram. No segundo trimestre, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) teve queda de 15,4%. A taxa de investimento ficou em 15% do PIB, ficando abaixo da observada no mesmo período de 2019, de 15,3% do PIB. Também foi menor do que os 15,8% do PIB computados no primeiro trimestre. As exportações de bens e serviços cresceram 1,8%, enquanto importações recuaram 13,2% em relação ao primeiro trimestre de 2020. Em valores correntes, o PIB do no segundo trimestre de 2020 totalizou R$ 1,653 trilhão, sendo R$ 1,478 trilhão em Valor Adicionado (VA) a preços básicos e R$ 175,4 bilhões tributos.

Análise da notícia

Cenário ainda inspira cuidados


Marcílio de Moraes

O pior já passou. A sensação é a mesma para a pandemia do novo coronavírus, cujas medidas de restrição são abandonadas em todo o país a partir da redução de mortes e contágios, e para os efeitos que ela provocou na economia, com a retomada das atividades. Mas nos dois casos, da doença e da crise econômica, se o pior já passou, o cenário ainda é preocupante.

O Brasil ainda convive com um número alto de mortes e contaminados, a economia se ressente e a recuperação é lenta. Assim como a vacina é a possibilidade de equacionar a volta à normalidade, a manutenção do auxílio às famílias (o que governo fez ontem) e o crédito às empresas, bem como a agilização das reformas (administrativa e tributária) são os remédios para acelerar o crescimento da economia. 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)