
Embora o novo valor do auxílio não tenha sido confirmado oficialmente, a redução do montante pago mensalmente já está decidida. Ontem, o presidente Jair Bolsonaro reiterou que “não dá para manter os R$ 600”. Em conversa com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada, o presidente disse que o auxílio “não é aposentadoria”. “Tem cara que reclama que é pouco, mas custa para todo mundo R$ 50 bilhões por mês. A gente não tem como se endividar mais”, reclamou. “É pouco para quem recebe, mas ajuda, pô. É melhor que nada.”
O estudo da FGV explica que, nos atuais R$ 600, o auxílio emergencial conseguiu ampliar em 34% a renda dos brasileiros de baixa renda que recebem o benefício. O incremento chegou a 39% no caso dos trabalhadores informais. Por isso, o benefício tem sido apontado como um dos principais vetores da melhora da economia e aumento de popularidade de Bolsonaro, sobretudo no Norte/Nordeste.
Esse cenário, contudo, deve mudar se o auxílio for reduzido para R$ 300. Segundo a FGV, os informais terão perda de 3% na renda, já que ainda não conseguiram retomar as atividades em boa parte do país e estão recebendo menos do que o normal onde já voltaram a trabalhar. A queda será ainda maior em atividades como as de cabeleireiros e manicures (-17%), motoristas de aplicativo (-12%) e vendedores ambulantes (-9%).
“Para os informais, a redução do auxílio vai representar perda de renda”, resumiu o coordenador do Centro de Estudos de Microfinanças e Inclusão Financeira da FGV, Lauro Gonzalez. Autor do estudo, Gonzalez diz que a diminuição será sentida sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, que têm renda mais baixa. Por isso, afirma que o corte no auxílio, embora necessário do ponto de vista fiscal, pode atrapalhar os planos do ministro Paulo Guedes de ter uma retomada em V. “O auxílio segurou o consumo e teve um efeito muito positivo na economia. Sem isso, a recuperação da economia vai depender do que será feito para mitigar os efeitos da crise”, avaliou.
“A prorrogação é fundamental, porque ainda estamos em uma situação de pandemia. E ainda terá um impacto no PIB. Porém, esse impacto vai ser reduzido. Digamos que, com R$ 300, as famílias vão conseguir comprar a cesta básica e subsistir, mas talvez não pagar o aluguel ou comprar outras coisas”, reforçou o professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Joilson Cabral.
Ele calcula que o auxílio reduziu em quatro pontos percentuais a queda do PIB do Brasil em 2020, que deve chegar perto de 5%, já que ajudou as famílias de baixa renda a manter o consumo de bens essenciais e fazer outras despesas. No Nordeste, por exemplo, houve aumento das vendas de material de construção e eletrodomésticos.
Perdas e ganhos
O impacto do auxílio emergencial na renda dos brasileiros:» 18% foram a perda média de renda do brasileiro na pandemia
21% foi a perda de renda dos trabalhadores informais
» 34% são o ganho de renda proporcionado pelo auxílio emergencial
39% são o ganho de renda dos informais com o auxílio emergencial
» 1% será o ganho médio se o auxílio for de R$ 300
-3% serão a perda dos informais, mesmo com o pagamento do auxílio
Fonte: FGV
