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Estado de Minas IMPACTO DO CORONAVÍRUS

Com queda de 40% na demanda, transporte de cargas tenta superar a pandemia

Representantes do setor não sabem quando será possível falar em retomada. Enquanto algumas empresas conseguem atravessar o momento, entidades articulam medidas de apoio junto aos governos


postado em 06/06/2020 06:00 / atualizado em 06/06/2020 12:43

Demanda por transporte de cargas para o comércio caiu mais do que para supermercados e agronegócio(foto: Divulgação/CNT)
Demanda por transporte de cargas para o comércio caiu mais do que para supermercados e agronegócio (foto: Divulgação/CNT)
Alguns setores estão sofrendo mais que outros com a pandemia do novo coronavírus. Isso também acontence dentro dos segmentos do transporte de cargas, que faz parte de várias outras cadeias, distribuindo produtos e insumos. Com quedas na demanda que se aproximam de 40% no Brasil e em Minas Gerais, empresários e entidades do setor não sabem dizer quando o prejuízo pode ser recuperado. Enquanto algumas transportadoras melhor preparadas estão conseguindo atravessar a crise, outras precisam recorrer a pedidos de prorrogação de recolhimento de impostos e linhas de crédito para sobreviver ao momento. 

 

O governo federal considerou o transporte como serviço essencial durante a pandemia. Isso significa que os caminhões não pararam de rodar, mas o volume de serviço caiu. A Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) está acompanhando, a cada semana, a na demanda de carga em todo o Brasil, desde o início da crise.
 
De acordo com o último levantamento, durante a 11ª semana (25 a 31 de maio), o transporte de cargas caiu 39,69% em relação ao volume no período anterior à pandemia. Esse índice atingiu um máximo de recuo de 45,2% na 5ª semana do monitoramento, entre 13 e 19 de abril. A partir desse ponto, apresentou uma leve tendência de recuperação. Segundo a última pesquisa semanal, 93% das empresas de transportes perderam faturamento por causa da pandemia. 
 
As informações, que foram apuradas entre 18 e 31 de maio, deixam clara a divisão que o isolamento social provoca na economia. Nesse período, a associação monitorou como o coronavírus afetou as entregas por local. Impedidos de abrir, a queda mais expressiva foi para os shoppings centers: de 64,6%. A entrega de mercadorias para lojas de rua também foi uma das mais prejudicadas, com baixa de 50,4%. Já o transporte de carga para mercados e supermercados caiu menos, registrando variação negativa de 25%. 
 
Outro ponto analisado na pesquisa é o efeito da pandemia no transporte por tipo de carga. Uma das mais impactadas pela COVID-19, a indústria automobilística também foi uma das que menos demandou transporte, com queda de 56,1%. Por outro lado, o transporte que atende o agronegócio viu uma redução menor: de 32,3%, assim como o da indústria de alimentos refrigerados (-24,6%) e não refrigerados (-30,4%). 
 
A divisão de resultados é vista na prática pelas empresas. A transportadora Lenarge, instalada na BR-381, em Sabará, atende um leque amplo de clientes: siderúrgicas, mineradoras, produtores de celulose e de vidro. Para o diretor de gente e gestão da companhia, Flávio Freire, isso garantiu que a queda da operação não fosse tão grande. O diretor da transportadora afirma que nunca viu uma crise como essa, pela gravidade e imprevisibilidade que vieram junto com a pandemia.
 

O saldo com certeza é negativo. Os clientes estão reagindo de forma muito diferente. O atendimento para a mineração foi o único que não caiu, mais pela exportação do que o consumo interno. Mas todos os outros caíram bem. A gente não sabe quando a doença vai chegar ao ápice no Brasil. E isso vai impactando a cadeia. Se não se compra geladeira, demanda menos aço, menos minério e menos transporte. Até o final do ano, não temos uma previsão de recuperação

Flávio Freire, diretor de pessoa e gestão da transportadora Lenarge

 
 
Segundo o diretor, como a empresa estava bem organizada financeiramente, não foi preciso cortar custos, renegociar contratos ou pedir empréstimos para passar pela crise. A companhia afastou os funcionários que são do grupo de risco e colocou a área administrativa em trabalho remoto. As férias de alguns colaboradores foram adiantadas. Ou seja, dos 1.100 funcionários – incluindo os 780 motoristas – nenhum foi demitido ou teve o contrato suspenso. “Estamos em uma situação privilegiada. Mas no setor há outras empresas que não estavam tão bem preparadas”, reconhece Flávio Freire. 
 
Para Minas Gerais, a NTC&Logística calcula uma queda de 38,6% na demanda geral por transporte rodoviário de carga em maio em relação ao normal. O ramo de transportes do estado está longe de ser um dos mais afetados pela pandemia no país. Pernambuco, onde o impacto foi o maior em maio, registrou queda de 65,6%.
 
Para o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística de Minas Gerais (Setcemg), Gladstone Lobato, o estado está em uma situação muito parecida com a média brasileira. O desempenho de alguns setores compensaria o de outros. “O transporte atende uma gama muito grande de segmentos. Algumas coisas caíram mais, outras menos. Minas é um estado de produtos primários. Como entramos na colheita, o agronegócio está sobrevivendo, e a exportação de minério praticamente não caiu”, explica o dirigente. 
 
É consenso entre representantes do setor que os caminhões vão demorar a voltar a distribuir o mesmo volume de carga do que antes da pandemia(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
É consenso entre representantes do setor que os caminhões vão demorar a voltar a distribuir o mesmo volume de carga do que antes da pandemia (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

 
O presidente do Setcemg prevê uma retomada lenta para o setor de transportes. Para Gladstone Lobato, o “novo normal” e os cuidados sanitários depois da pior fase da pandemia vão dificultar o manuseio e a entrega das mercadorias. Por ser um setor muito segmentado, o dirigente acredita que parte da retomada vai depender da recuperação das outras áreas da economia. “É difícil prever. É uma cadeia muito grande, e algumas áreas não voltam com tanta facilidade”, analisa. 
 
Entre as medidas do sindicato para apoiar as empresas do setor durante a crise, Lobato destaca o pedido ao governo estadual para prorrogar o recolhimento do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e a aquisição de uma linha de crédito junto ao Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). Além de assessoria para os associados, sobre como se incluir nas medidas anunciadas pelos governos, como a Medida Provisória número 936, do governo federal, que trata da suspensão de contratos de trabalho. 
 
No âmbito nacional, as entidades do setor também se mobilizaram para conseguir apoio do governo. Segundo o presidente da NTC&Logística, Francisco Pelucio, a associação atuou para garantir que as medidas sanitárias para evitar a propagação do vírus fossem respeitadas nas rodovias e nos caminhões, além de negociar para que restaurantes de beira de estrada continuassem abertos.
 

Pedimos prorrogação de recolhimento de tributos e liberação de crédito para as empresas. Se tem uma coisa que o transporte rodoviário fez, foi cumprir com a obrigação, com todo o risco

Francisco Pelucio, presidente da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística

 
 
A entidade também conseguiu que as validades das carteiras e cursos de manejo de cargas perigosas dos motoristas fossem prorrogadas. No Congresso, o setor espera que seja aprovada a prorrogação da desoneração da folha de pagamentos. O presidente da NTC&Logística defende que o apoio governamental é importante, mas a recuperação para o transporte rodoviário só virá quando acabar o isolamento social.
 

Ferrovias

 
O transporte rodoviário representa a maior parte do setor no Brasil, mas a pandemia também obrigou as grandes empresas ferroviárias a se adaptar. Inclusas nos serviços essenciais, as companhias continuaram trabalhando, e não perceberam uma queda significativa na demanda. É o caso da MRS Logística, que opera em Minas Gerais transportando carga de mineração, agronegócio e siderurgia.
 
Em nota, a empresa afirma que o segmento não foi tão impactado como outros, já que boa parte dos trens transporta produtos de exportação - como minério e grãos. No comunicado, a companhia afirma que não foi preciso demitir funcionários ou tomar medidas mais drásticas de gestão por causa da crise.
 
Porém, foi preciso adaptar o trabalho para evitar a transmissão do coronavírus. Desde 13 de março, um terço dos funcionários da MRS trabalha de casa. Para os trabalhadores que não podem fazer isso, foi determinado um rodízio para evitar aglomerações.
 
As empresas ferroviárias reforçaram a higienização das locomotivas para evitar infecções pelo novo coronavírus.(foto: Divulgação/VLI Logística )
As empresas ferroviárias reforçaram a higienização das locomotivas para evitar infecções pelo novo coronavírus. (foto: Divulgação/VLI Logística )
 

Segundo a empresa, a temperatura dos colaboradores é medida constantemente, e todos têm acesso a máscaras e álcool em gel. Apesar da operação nas ferrovias ter continuado, deslocamentos não essenciais são evitados. Também foi preciso adaptar a logística de pernoite dos maquinistas, com hotéis e pousadas fechados. 

A VLI Logística, empresa que opera a Ferrovia Centro-Atlântica – que passa por Minas- adotou medidas semelhantes de prevenção. A companhia transporta grãos, açúcar, combustíveis e produtos siderúrgicos e industrializados. Dos 7.500 funcionários, aproximadamente 1.200 estão em regime de trabalho remoto. Segundo a VLI, nenhum foi demitido.
 
A empresa estabeleceu uma escala nas instalações para reduzir o contato entre os funcionários, reforçou a higienização dos espaços, afere a temperatura dos trabalhadores diariamente, e disponibilizou a vacina da gripe para os empregados, entre outras medidas.  
 
*Estagiário sob supervisão da editora Liliane Corrêa


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