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Estado de Minas Otimismo

Mineração enfrenta a crise do coronavírus com nervos de aço

Com apenas alguns de seus processos afetados pelas medidas de combate à pandemia, setor estima impacto reduzido e projeta recuperação baseada no mercado internacional


18/05/2020 04:00 - atualizado 18/05/2020 18:35

Escultura em ferro do artista mineiro Jorge dos Anjos instalada no Flamengo, no Rio de Janeiro(foto: Galeria Coleção de Arte/Divulgação)
Escultura em ferro do artista mineiro Jorge dos Anjos instalada no Flamengo, no Rio de Janeiro (foto: Galeria Coleção de Arte/Divulgação)
A mineração deve se recuperar mais rapidamente do que os outros setores da economia da crise provocada pela pandemia de coronavírus. A demanda por minério de ferro e outros recursos minerais deve cair durante a inevitável recessão brasileira. Mas representantes do setor apostam na retomada econômica da China e na compensação no mercado externo da crise interna. Porém, o efeito da COVID-19 deve ser sentido no longo prazo. Até o momento, as mineradoras ainda relatam pouco impacto do vírus nas operações.

 

Apesar da retração da economia brasileira e da queda do consumo, a mineração deve ser um dos setores que vão se recuperar mais rapidamente da crise provocada pelo coronavírus, ao lado da agropecuária. Essa avaliação é do diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Flávio Ottoni Penido

 

“A partir do momento em que diminui a venda interna de geladeiras, carros e panelas, esse efeito vem vindo de trás para a frente. Mas a mineração tem facilidade de retornar. Quando é demandada, tem uma capacidade instalada que permite isso”, diz Penido.

 

O principal motivo para o otimismo do diretor-presidente do Ibram está no mercado internacional e na capacidade de exportação do setor. Segundo Penido, a China, que conseguiu controlar o avanço do novo coronavírus, já está voltando a procurar minério. “Em um primeiro momento, a demanda internacional cai. Mas na China os estoques de aço já estão baixos. E agora devem iniciar um grande investimento em infraestrutura”, explica.

 

Por outro lado, Penido pondera que a retomada não será imediata ou uniforme. O setor de pesquisa mineral deve demorar mais a se recompor, por precisar de mais funcionários trabalhando em espaços menores, o que é desaconselhado num contexto de circulação do vírus.

 

A perspectiva do diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores da mineradora Vale, Luciano Siani, é parecida. O executivo afirmou em transmissão promovida pelo jornal Valor Econômico que a China está se recuperando mais rapidamente do que a Europa e os Estados Unidos.

 

O engenheiro Flávio Penido, diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A.Press)
O engenheiro Flávio Penido, diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A.Press)

Nível normal

Segundo Siani, 70% da produção da Vale é voltada para a China, onde o investimento em construção civil é forte. “Na China o lockdown [isolamento total] foi rigoroso, durou três meses. No primeiro trimestre a produção de aço cresceu, mesmo com o lockdown. As atividades da indústria já estão de volta aos níveis normais. A construção civil está aumentando diariamente. Os estoques de aço e minério de ferro estão caindo”, analisou o diretor-executivo, que se diz otimista com a situação do país asiático.

 

Desde o final de março, quando o Ministério de Minas e Energia (MME) editou a portaria 135/ 2020, a mineração é considerada atividade essencial durante a pandemia do novo coronavírus. Dessa forma, os funcionários das mineradoras continuaram trabalhando, tanto na extração dos recursos minerais quanto na pesquisa. O diretor-presidente do Ibram defende a continuidade do trabalho. “Existe toda uma cadeia produtiva. A mineração tem uma responsabilidade e é essencial para que os demais setores da indústria possam funcionar”, argumenta.

 

Mesmo com previsões de queda na produção, ainda é cedo para para se ter uma ideia abrangente a respeito do efeito da pandemia  no setor. Em comunicado, a Vale afirma que a pandemia da COVID-19 tem “impacto limitado” nas operações. A empresa suspendeu a operação de um terminal marítimo na Malásia, o que não impactou na produção. Também suspendeu a mineração em Voisey’s Bay, no Canadá, por até quatro meses, mantendo a manutenção da mina. Por fim, postergou planos de manutenção corretiva em uma planta de processamento de carvão em Moçambique.

 

Porém, a mineradora avalia que o adiamento de paradas de manutenção programada em diversas plantas deve prejudicar o nível de produção, especialmente no segmento de metais básicos. Além disso, prevê um impacto na produção por causa da demora de processos de inspeção e autorização, para a retomada da atividade de minas paradas.

 

De acordo com o diretor-executivo da ArcelorMittal Mineração Brasil, Sebastião da Costa Filho, a pandemia “não alterou a produção de granulados e concentrados de minério de ferro” da empresa. A companhia tem duas minas em Minas Gerais. A Mina de Serra Azul, em Itatiaiuçu, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e a Mina do Andrade, em Bela Vista de Minas, na Região Central do estado.

 

Costa Filho afirma que as instalações continuam produzindo dentro do esperado para o período. “A prioridade da produção é para o consumo das plantas siderúrgicas da empresa”, explica o executivo. Já a multinacional Kinross, que extrai ouro da Mina do Ouro, em Paracatu, no Noroeste do estado, afirma que a produção não foi afetada pela pandemia.

 

Medidas sanitárias


As mineradoras Vale e Kinross e as divisões de mineração da ArcellorMittal e Usiminas adotaram medidas parecidas entre si para frear a disseminação do coronavírus nas instalações. Entre as ações comuns implantadas pelas empresas estão a ampliação das frotas de ônibus de transporte dos funcionários, que circulam com capacidade reduzida; equipes administrativas em trabalho remoto; afastamento de funcionários dos grupos de risco; aferição constante de temperatura dos colaboradores e distanciamento nos refeitórios, que funcionam em horário escalonado. As companhias não têm previsão para o relaxamento dessas medidas.

 

Segundo Penido, alguns processos da mineração foram postergados. “Em muitas atividades da mineração, o funcionário trabalha sozinho, como é o caso de um motorista ou operador de escavadeira”, diz. Para o diretor-presidente do Ibram, as medidas devem continuar indefinidamente. “Nós vamos ficar aguardando o que o Ministério da Saúde e os governos municipais e estaduais liberarem. A esperança que temos é que se supere a pandemia o mais rapidamente possível, aí se permita uma volta (dos processos interrompidos) com segurança. Neste momento, não cabe atitude açodada.”

 

Queda de produção 

 

No primeiro trimestre de 2020, a produção mineral no Brasil foi de 220 milhões de toneladas. Uma queda de 17,67% em relação aos 265,45 milhões registrados nos três primeiros meses de 2019. Em relação ao quarto trimestre do ano passado, a retração foi de 18%. Na avaliação do Ibram, como o setor é caracterizado por resultados de longo prazo, esses números ainda mostram pouco do efeito do coronavírus. 

 

Um motivo imediato para a queda seriam os estragos provocados pelas chuvas no início do ano. Outra razão é que a mineração ainda tentar superar uma crise específica: os efeitos do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, em janeiro de 2019.

 

Segundo o diretor-presidente do Ibram, depois do desastre muitas barragens e atividades foram paralisadas. “Tornou-se necessário acompanhar com mais rigor as demais barragens. Com atitudes como paralisar minas que usavam barragem à montante. Com isso, diminuiu a produção, e o Brasil perdeu espaço para a Austrália no mercado internacional de minério. Mas, aos poucos,  isso está sendo recomposto”, afirma.

 

*Estagiário sob a supervisão da editora Silvana Arantes


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