Tentando evitar o acúmulo de pessoas em frente às lojas, os comerciantes questionam se as medidas tomadas pela prefeitura sobre a abertura do comércio se aplicam às lojas de tecido, sobretudo agora. Procurada pela reportagem, a PBH afirmou que as lojas de tecidos não estão autorizadas a funcionar. De acordo com o órgão, o Decreto 17.328/2020 obriga esse tipo de estabelecimento a fazer vendas apenas no sistema de delivery. A prefeitura disse ainda que não prevê nenhum tipo de alteração na norma de funcionamento.
Durante entrevista coletiva na terça-feira, o prefeito afirmou que as máscaras serão distribuídas apenas para as pessoas que estão na “miséria”. “Faremos a entrega para os miseráveis, os invisíveis. Não somos obrigados a entregar para a população. O restante pode fazer com meia, camisa, fralda”, explicou, incentivando as soluções caseiras.
A administradora Marina Moreira, de 28 anos, é dona de uma loja de tecidos na Rua dos Goitacazes. Ela conta que até tentou fazer as vendas on-line, mas que os clientes, em sua maioria pessoas que compram quantidades relativamente pequenas, insistem em ver o tecido pessoalmente, o que acaba aumentando o número de pessoas em frente às lojas, trazendo problemas com a Guarda Municipal.
“Estamos seguindo todas as regras impostas pela prefeitura. A questão é: se as pessoas são obrigadas a usar máscaras, nosso serviço se torna essencial, certo? Então, a melhor forma, a meu ver, é permitir a abertura das lojas. A gente organiza uma fila com distanciamento e autoriza a entrada de poucas pessoas por vez, evitando a aglomeração que está ocorrendo em frente aos estabelecimentos”, explica.
Segundo Marina, os clientes reclamam de não poder entrar nas lojas. “A gente vende na porta. Até inventei uma forma nova de vender, fiz um estilo de vitrine. Mostro o tecido através de um vidro e depois entrego ao cliente na porta da loja. Mas os clientes querem entrar, tocar os tecidos, ver as opções disponíveis”, diz.
Eliza Fernanda, de 32, cliente das lojas, afirma que o serviço é essencial para os pequenos produtores. “Enxerguei na produção de máscaras uma forma de ter minha renda garantida mesmo na crise. Com isso, consigo comprar arroz e feijão para meus filhos, que estão em casa porque os colégios fecharam. A gente lava a mão dos comerciantes, porque compramos o produto. Eles lavam as nossas, porque ajudam a gente a criar as máscaras. Teremos máscaras para todos e, assim, ninguém é prejudicado”, argumenta.
Os comerciantes Paulo Lage e Dora Goutheierr tiveram mais sucesso nas vendas on-line, mas também vivem o dilema nas lojas físicas. O casal organizou um estilo de drive thru para vendas, no qual o cliente liga para a loja, faz a encomenda e busca de carro o material. Eles compraram diversas máscaras para os funcionários e disponibilizaram álcool em gel para eles. Donos de quatro lojas de tecido, eles dizem que as vendas caíram 70% desde o início das medidas restritivas e que a demanda aumentou muito depois do anúncio da obrigatoriedade das máscaras. "Estamos tentando nos adequar, restringindo ao máximo o contato físico".
Apesar de conseguir vender o produto de forma mais organizada, os comerciantes pedem liberação para a reabertura das lojas. “Estamos seguindo todas as recomendações da prefeitura. Mas estamos em prejuízo. Acredito que teremos que acionar a Medida Provisória 396, que suspende os contratos”, explica Dora. “Acreditamos que, depois de o uso de máscaras se tornar obrigatório, a venda de tecidos é essencial”, finaliza.
Dora também conta que a Guarda Municipal faz rondas pelas ruas do bairro. A comerciante, que já presenciou o fechamento de lojas próximas à sua, diz que, em geral, eles só "chamam a atenção quando tem algum tipo de aglomeração”.
* Estagiária sob supervisão da editora Liliane Corrêa