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Estado de Minas

Tombo histórico da bolsa espalha pânico e muitas dúvidas

Temor com o novo coronavírus e derrubada dos preços do petróleo levaram as bolsas de valores a quedas impressionantes. No Brasil, recuo foi de 12,17% e dólar encosta em R$ 4,80


postado em 10/03/2020 04:00 / atualizado em 10/03/2020 07:46

Na bolsa brasileira, foi acionado o circuit breaker durante 30 minutos para proteger as ações mais negociadas do desespero dos investidores (foto: Nelson Almeida/AFP)
Na bolsa brasileira, foi acionado o circuit breaker durante 30 minutos para proteger as ações mais negociadas do desespero dos investidores (foto: Nelson Almeida/AFP)
Em um dia de pânico no mercado financeiro global, o dólar aproximou-se de R$ 4,80, mesmo com o Banco Central (BC) vendendo a moeda norte-americana de suas reservas internacionais. A bolsa de valores brasileira, a B3, caiu 12,17%, chegando a ter os negócios interrompidos durante a manhã, o chamado circuit breaker. O índice Ibovespa, das ações mais negociadas, fechou o dia com recuo de 12,17%, aos 86.067 pontos, retornando aos níveis de dezembro de 2018. Essa foi a maior queda para um único dia desde setembro de 1998, quando a Rússia declarou moratória.

O dólar comercial encerrou o pregão de ontem vendido a R$ 4,73, com alta de 2,1%, no maior valor nominal desde a criação do real. O BC interveio no mercado duas vezes. Pela manhã, a autoridade monetária vendeu à vista US$ 3 bilhões das reservas internacionais. À tarde, vendeu mais US$ 465 milhões, embora tenha oferecido até US$ 1 bilhão. Até a semana passada, o BC estava apenas leiloando novos contratos de swap cambial, que funcionam como venda de dólares no mercado futuro.

Ainda pela manhã, a B3 chegou a ter as negociações interrompidas por 30 minutos porque o Ibovespa tinha caído mais de 10%. O chamado circuit breaker é um mecanismo acionado quando o índice cai mais que determinado nível. A última vez em que a bolsa tinha tido as negociações interrompidas foi em maio de 2017, após a divulgação de conversas do então presidente Michel Temer com o empresário Joesley Batista, dono da JBS.

Os mercados de todo o planeta, que nas últimas semanas têm atravessado momentos de instabilidade por causa dos receios de uma recessão global provocada pelo coronavírus, enfrentaram um dia de pânico com a disputa de preços entre Arábia Saudita e Rússia em torno do petróleo.

Membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), a Arábia Saudita aumentou a produção de petróleo depois que o governo de Vladimir Putin decidiu não aderir a um acordo para reduzir a extração em todo o mundo. O aumento de produção num cenário de queda mundial de demanda por causa do coronavírus fez a cotação do barril de petróleo iniciar o dia com queda de mais de 30%. Por volta das 18h, o barril do tipo Brent era vendido a US$ 33,41, com queda de 26,2%.

Para o Brasil, a queda no barril de petróleo afeta as ações da Petrobras, a maior empresa brasileira capitalizada na bolsa. Os papéis ordinários (com direito a voto em assembleia de acionistas) da companhia fecharam o dia com queda de 29,68%. Os papéis preferenciais (que dão preferência na distribuição de dividendos) caíram 29,7%. Segundo a própria Petrobras, a extração do petróleo na camada pré-sal só é viável quando a cotação do barril está acima de US$ 45.

Consequências A queda nas cotações do barril de petróleo traz outras consequências para a economia brasileira. Caso os preços baixos se mantenham, a companhia repassará a queda do preço internacional para a gasolina e o diesel. Se, por um lado, a queda beneficia os consumidores; por outro, prejudica o setor de etanol, que perde competitividade.

Os preços mais baixos diminuem a arrecadação de royalties do petróleo e a arrecadação de Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o principal tributo estadual, num momento em que diversos estados atravessam dificuldades financeiras.

Na bolsa de Nova York, o recuo de até 7,64% foi o maior em 11 anos(foto: Timothy A. Clary/AFP)
Na bolsa de Nova York, o recuo de até 7,64% foi o maior em 11 anos (foto: Timothy A. Clary/AFP)

Em polvorosa

Nos Estados Unidos, Wall Street também sofreu ontem seu maior tombo em 11 anos, arrastada pela queda do petróleo e a crise mundial do coronavírus. Segundo resultados provisórios de fechamento, o indicador Dow Jones Industrial Average caiu 7,83% a 23.389,46 pontos, com queda de 2 mil pontos, enquanto o índice tecnológico Nasdaq desabou 7,29% a 7.950,68 unidades e o S&P 500 das principais empresas na bolsa caiu 7,64% a 2.745,34 pontos.

No Brasil, após o circuit breaker, os índices da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) permaneceram em queda. O funcionamento já havia começado ontem com baixa de mais de 8%. Na Ásia, as Bolsas da China, seguindo o mau humor generalizado dos mercados financeiros, fecharam em queda. O principal índice acionário do país, o Xangai Composite, teve recuo de 3,01%. Na Europa, os mercados abriram a manhã de ontem com queda generalizada. Tudo sob os mesmos motivos: crise de preços do petróleo e o novo coronavírus.


O que fazer agora?


Rafael Panonko
Economista-chefe da Toro Investimentos

A semana começou agitada nos mercados financeiros. Ontem, assistimos à queda de mais de 10% da bolsa brasileira e ao acionamento do circuit break pela B3 – um mecanismo de proteção que paralisa temporariamente os negócios. O cenário de oscilações não é exclusividade do Brasil. Os mercados mundo afora seguem pessimistas com os impactos do coronavírus na economia mundial e, agora, um possível guerra de preços entre os grandes produtores de petróleo.

A reunião dos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) com a Rússia sobre a produção de petróleo não caminhou para um acordo, o que desencadeou em um corte nos preços do petróleo na Arábia Saudita, que anunciou também a decisão de aumentar a produção. O preço, que já vinha em queda por conta do novo coronavírus, caiu ainda mais após esse fato, chegando a se desvalorizar mais de 30%, ao preço de 31 dólares o barril.

O investidor deve estar se perguntando: o que fazer agora? Para tentar acalmar os ânimos, compartilho algumas dicas importantes:
1º) Se os seus objetivos são de longo prazo e você não pretende fazer novas compras, porque está olhando as oscilações a todo momento? Isso vai servir apenas para lhe deixar mais preocupado. Acompanhe a bolsa no fechamento da semana, e mexa nas suas posições se as empresas que compõem a sua carteira perderam os fundamentos que justificaram a compra.

2º) Se você já tem uma posição e está querendo comprar mais, tenha calma e muita cautela. Os impactos do momento atual ainda são incertos, portanto, podemos ter novas quedas pela frente. Uma estratégia é começar a comprar aos poucos.

3 º) “Não invisto na bolsa ainda e quero começar”. Enxergo o momento atual como uma excelente oportunidade. Comece montando sua carteira com setores com menor exposição ao cenário externo, exemplo, setor de educação, energia elétrica, bancos dentre outros. Mas lembre-se do que falei anteriormente: a bolsa pode continuar caindo.


FMI pede ação coordenada


Os governos devem aplicar “uma resposta internacional coordenada” para enfrentar o impacto econômico da expansão do novo coronavírus, disse ontem a economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Gita Gopinath. Muitos países adotaram políticas para alimentar a confiança, enquanto a epidemia gera nervosismo nos mercados e temores de que uma interrupção das redes de fornecimento lastrem a atividade econômica, mas há poucos sinais de uma resposta coordenada.
Devido à grande perturbação das economias, os consumidores e as empresas, Gopinath afirmou que os responsáveis pelas políticas precisarão implementar “medidas importantes dirigidas em matéria fiscal, monetária e para os mercados financeiros para ajudar as famílias e os negócios afetados”.
“É evidente o argumento de que deve haver uma resposta internacional coordenada” para fazer frente à epidemia. Em novembro de 2008, em plena crise financeira mundial, o G20, grupo das nações ricas e emergentes, acordou cortes dos juros e se comprometeu a manter as políticas de estímulo o tempo que fosse necessário para sustentar a economia.


Intervenções no dólar continuam



Brasília – Apesar do discurso de que o dólar é flutuante, o Banco Central (BC) avisou que vai intervir o quanto for necessário para que o mercado de câmbio volte a atuar de forma regular no Brasil. O recado foi dado na manhã de ontem, quando o dólar, que já passou dos R$ 4,50 na semana passada por conta do avanço do novo coronavírus, chegou a R$ 4,75 em função da nova crise do petróleo.

“As intervenções têm sido pontuais, respondendo a eventos e disfuncionalidades específicas, mas podem durar o tempo que for necessário para o retorno do regular funcionamento do mercado de câmbio”, afirmou o diretor de política monetária do BC, Bruno Serra Fernandes, na apresentação que levou como apoio para uma palestra sobre investimentos que foi promovida pela Bloomberg em São Paulo.

A apresentação de Fernandes assegura que a autoridade monetária “diagnosticou as condições necessárias para atuação” diante da crise financeira que foi instalada pelo avanço do coronavírus no mundo e levou o real a uma “tendência de depreciação acelerada, semelhante a períodos de crise aguda”. A depreciação, por sinal, se acentuou na manhã de ontem, depois do fracasso da negociação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que derrubou em mais de 30% o preço do barril do petróleo.

“Essa é uma conjuntura que permite ao BCB dispor de todos os seus instrumentos, no volume que entender apropriado, para promover o regular funcionamento do mercado de câmbio”, acrescenta o documento elaborado por Fernandes, acrescentando que a atual posição cambial líquida do BC, de US$ 330 bilhões, é “o maior nível histórico, quando medido em relação ao PIB, em torno de 20%”. “A posição cambial do BCB é um seguro robusto contra choques externos”, garante.

Pouco depois que essa apresentação foi disponibilizada à imprensa pelo Banco Central, a autoridade monetária vendeu R$ 3 bilhões em reservas para tentar regular o câmbio. A venda foi três vezes maior do que o anunciado inicialmente e vem na esteira de uma série de leilões extraordinários de swap cambial. A medida, porém, não teve sucesso em conter a alta do dólar, que segue avançando devido ao temor do mercado em relação ao avanço do coronavírus pelo mundo e, sobretudo, em relação a uma possível guerra de preços do petróleo entre a Arábia Saudita e a Rússia.
 
 


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