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Estado de Minas ENTREVISTA / FELIPE SOTTO-MAIOR, PRESIDENTE DA INVESTIMENTOS VÉRIOS

Baixa da Bolsa é oportunidade de ouro; entenda por quê

Momento é bom para comprar ativos mais baratos e aumentar rentabilidade


postado em 02/03/2020 04:00 / atualizado em 02/03/2020 09:20

(foto: VÉRIOS/DIVULGAÇÃO)
(foto: VÉRIOS/DIVULGAÇÃO)

São Paulo
– Fundador e presidente da gestora de investimentos Vérios, Felipe Sotto-Maior acompanha de perto a evolução do coronavírus pelo mundo. Não é para menos. Nos últimos dias, as principais bolsas de valores sofreram quedas expressivas em decorrência do pânico com a epidemia. No Brasil, não foi diferente, e a baixa do Ibovespa foi agravada pela confirmação do primeiro caso em território nacional.

Na entrevista a seguir, Sotto-Maior analisa um dos cenários mais desafiadores dos últimos tempos – e, ao contrário do que muitos imaginam, traz boas notícias. Segundo ele, a desvalorização das ações nos últimos dias representa oportunidade de ouro para comprar ativos. Confira:

Com a chegada do coronavírus ao Brasil, qual será o impacto sobre a bolsa de valores?
A primeira reação do mercado financeiro é que todo mundo quer fazer uma previsão do que vai acontecer. A nossa bolsa de valores já começou a sentir o impacto, assim como diversas outras bolsas pelo mundo. Sofremos uma desvalorização de 7% em um único dia e mais 2% no dia seguinte. Isso acontece porque se espera que a epidemia tenha, sim, impacto sobre a atividade econômica. Mas não é só isso. Geralmente, em cenários de incerteza, o capital especulativo disponível no mercado adota uma postura de proteção, que é sair de países considerados mais frágeis e migrar o capital para economias consideradas mais fortes. Esse movimento derruba a nossa bolsa de valores e desvaloriza o real frente ao dólar, fazendo a cotação da moeda americana subir. A verdade é que ninguém sabe ao certo qual será o tamanho do estrago. Portanto, ninguém pode fazer uma previsão segura sobre até que ponto os preços devem cair e nem quanto tempo vai demorar para se recuperarem. Todas as previsões são apostas.


''Hoje em dia, o acesso ao mercado financeiro é muito fácil e existe muita informação produzida com critérios duvidosos. O excesso de informação pode levar a erros por parte dos investidores''

FELIPE SOTTO/MAIOR




Como o investidor deve se comportar num momento de alta volatilidade?
Para os investidores individuais, a decisão depende totalmente da estratégia de investimento e da situação financeira de cada um. É provável que ainda haverá mais instabilidade nos preços por algum tempo, mas a nossa estratégia na Vérios não muda. Já parou para pensar que, para cada investidor que vende e, vendendo, existe outro que está comprando? É só assim que sai negócio na bolsa. Para quem é especulador, o momento é de uma decisão difícil. Especuladora é aquela pessoa que vai apostar seu dinheiro tentando prever se a bolsa sobe ou desce nos próximos dias. No cenário atual, essa é uma aposta arriscada, devido ao elevado grau de incerteza sobre os próximos acontecimentos. Para quem é poupador e faz depósitos todo mês, seguindo uma estratégia de alocação com foco no longo prazo, a vida segue normalmente.

Como a vida pode seguir normalmente diante da avalanche de notícias que muda o cenário o tempo todo?
É porque esse tipo de evento também faz parte da vida do investidor. Quem é mais experiente já passou por outros como esse. Na conversa com nossos clientes, lembramos a eles o seguinte: a bolsa sempre sobe e desce, a volatilidade é normal. A nossa orientação aos clientes sempre teve três elementos importantes. Primeiro: a diversificação deve ser feita somente nos investimentos de médio a longo prazo. Segundo: antes de diversificar, você deve ter um dinheiro guardado, chamado reserva de segurança. Essa reserva deve estar numa renda fixa de alta liquidez, sem risco. Terceiro ponto: você deve fazer aportes regulares na carteira diversificada. Se possível, todo mês. Para quem está seguindo essa cartilha, nada muda. Afinal, a desvalorização da bolsa não afetou a sua reserva de segurança. Se você precisar de algum dinheiro extra nos próximos meses, é de lá que fará os saques, sem sofrer nenhum prejuízo. Além disso, a queda nos preços derrubou sua carteira diversificada, mas esse dinheiro é de longo prazo e você tem tempo de sobra para se recuperar. A baixa da bolsa é uma oportunidade de comprar ativos mais baratos, aumentando a rentabilidade.


''Muitas pessoas aumentaram sua exposição a risco. Agora, muitas delas estão desconfortáveis com a queda da bolsa . É um sinal de que o nível de risco de suas carteiras não deveria ter sido aumentado''




Para além das variações do mercado, vivemos um cenário de queda na taxa básica de juros, o que motivou muitas pessoas a apostarem em novas formas de investimento em busca de rentabilidade. Qual o papel de empresas como a Vérios nesse cenário?
O nosso papel é assegurar que as pessoas façam essas mudanças de forma correta e pensada. Hoje em dia, o acesso ao mercado financeiro é muito fácil e existe muita informação produzida com critérios duvidosos. Esse excesso de informação pode levar a erros por parte dos investidores. Um autor americano que eu acompanho (Carl Richards, colunista do The New York Times) chama esse ruído de “pornografia financeira.

Como assim?
Por exemplo, no ano passado a Selic foi sendo reduzida para patamares inéditos. Nunca esteve tão baixa. Isso fez com que vários especialistas decretassem a morte da renda fixa ou afirmassem que era a hora de ir para a renda variável. Eles disseram que, com a Selic em 5% ou 4% ao ano, não faz sentido manter investimentos em renda fixa. Nosso time de atendimento teve que lidar com muitas mensagens de clientes que queriam tirar a renda fixa da carteira, aumentar o perfil de risco e migrar todo o dinheiro para a bolsa.

Isso vale para todos os investidores?
A todos respondemos primeiro tentando dissuadi-los da troca e testando a sua convicção. Explicamos que o perfil de risco é algo pessoal e não deve ser alterado por movimentos de mercado ou expectativas de alta ou baixa da bolsa. Reforçamos que a renda fixa (no nosso caso, o Tesouro Selic) possui uma função específica nas carteiras, que é controlar o risco. Mesmo assim, muitas pessoas aumentaram sua exposição a risco. Agora, várias dessas mesmas pessoas estão desconfortáveis com a queda da bolsa de valores. É um claro sinal de que o nível de risco de suas carteiras não deveria ter sido aumentado. Parece estranho, mas muitas vezes também o papel da nossa empresa é tranquilizar o cliente diante de uma notícia nova e convencê-lo de que a melhor coisa a fazer com seus investimentos é não fazer nada, apenas continuar seguindo o mesmo plano de sempre.

Vocês acreditam que os robôs podem superar os humanos na escolha dos melhores investimentos?
Não. Os robôs não fazem escolhas de investimento. Robôs trabalham bem com informações objetivas e tarefas repetitivas. A escolha de uma boa carteira de investimentos envolve outras nuances, subjetivas. Felizmente, essas nuances são simples e não mudam com tanta frequência – um profissional consegue acompanhar as mudanças com facilidade. Na Vérios, o papel dos robôs é fazer cálculos, executar operações baseadas nos resultados, atualizar informações, produzir rapidamente milhares de relatórios detalhados todos os dias. A estratégia de investimento é definida pelo time de especialistas, que atualmente é composto apenas por seres humanos.

Na sua visão, qual a percepção do investidor individual a respeito das plataformas digitais?
Dentro da categoria de plataformas digitais existem muitos tipos de serviços diferentes. Mas o que temos visto com o nosso público é que o primeiro instinto é ficar na dúvida, ou até com receio: a grande maioria dos nossos clientes faz o primeiro investimento com um valor menor e monitora pra ver o que acontece. As pessoas não têm tempo para ler tudo, se informar. Elas fazem o teste com dinheiro de verdade, mesmo sem avaliar os detalhes. É com o passar do tempo que vão entendendo como funciona, ganhando confiança, e aí sim vão trazendo o dinheiro que estava em outros investimentos. Quando isso acontece, é um casamento de longo prazo. O único trabalho deles é poupar, a gente cuida de todo o resto.


''Se a economia avançar ao longo do ano, a expectativa do mercado é que isso se reflita com mais intensidade nas ações do setor de infraestrutura, varejo e bancos''




Quais setores são mais promissores na bolsa brasileira?
Não sou fã de fazer previsões. Mas, se a economia conseguir avançar ao longo do ano, a expectativa do mercado é que isso se reflita com mais intensidade nas ações do setor de infraestrutura, varejo e bancos.

A turbulência política atrapalha a agenda de reformas?
Certamente. A reforma da Previdência levou anos, passou por vários governos e mesmo assim foi apenas a mais fácil de todas as reformas necessárias. Ela já vinha sendo defendida ao longo do mandato de diferentes presidentes, por isso acabou se formando certo consenso entre os partidos sobre a necessidade da reforma. Para aprovar outras, o governo vai precisar costurar acordos e superar mais pontos de dissidência. A turbulência política reduz a capacidade de articulação para essas aprovações e, portanto, reduz a governabilidade.

A eleição nos Estados Unidos deve preocupar os investidores?
Aqui, de novo, a resposta é que depende do perfil do investidor. Aqueles que fazem investimentos especulativos e vão precisar vender no curto prazo devem, sim, acompanhar e se preocupar com as eleições nos Estados Unidos. Na verdade, eles devem se preocupar com todas as notícias que podem impactar a bolsa de valores, o câmbio e os demais mercados on de investem. Aqueles que são poupadores regulares, que fazem depósitos todos os meses seguindo uma estratégia de alocação com foco no longo prazo, não precisam se preocupar muito. É bom acompanhar para não ficarem desinformados, mas não é motivo para preocupação.


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