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Estado de Minas ENTREVISTA/GABRIEL SENRA - CEO DA LINTE

'Burocracia é inimiga a ser combatida', destaca empresário

Resolver com soluções tecnológicas processos dentro das empresas é a aposta da startup para seguir em trajetória de expansão. Rodada de investimentos está nos planos de 2020


postado em 20/01/2020 04:00 / atualizado em 20/01/2020 07:56

(foto: Rodrigo Peixoto/Divulgação)
(foto: Rodrigo Peixoto/Divulgação)
 
São Paulo – O empresário Gabriel Senra tem apenas 32 anos, mas sua trajetória lembra a de um empreendedor experiente. Formado em direito, ele fundou, em 2015, a Linte, legaltech que reduz a burocracia em empresas como Accenture, Renault, Banco Itaú, Martin Brower, Loft, Tereos, Stone, entre outras.

Seu software já conseguiu reduzir em 82% o custo com a geração de contratos em uma empresa, e, somados todos os contratos que atualmente estão na plataforma, o impacto da economia ultrapassa US$ 240 milhões.Sempre muito focado em produtividade, neste ano, Senra tem uma nova missão: dar ferramentas para que as pessoas lutem contra a burocracia dentro de suas empresas e fazer com que elas passem a enxergar o jurídico não mais como uma barreira, um inimigo, mas como um aliado. Confira a entrevista:
 
Qual é o impacto da burocracia nas empresas?
Nós tendemos a achar que a burocracia só acontece no setor público, mas ela existe, sim, nas empresas privadas. A burocracia ainda é a grande barreira para o progresso. Se eu tivesse de resumir o impacto da burocracia numa forma superficial, diria que o maior impacto da burocracia é o prejuízo. Perde-se muito dinheiro e tempo por tornar os processos burocráticos. Ao mesmo tempo, dizer que conseguimos viver sem burocracia é quase utópico. De onde vem essa burocracia? Ela surgiu por quê? Nas empresas, ela nasceu como mecanismo de controle para evitar que nós tomemos um risco indevido, e esse controle dificilmente é revisado de tempos em tempos. Nós simplesmente operamos nos mecanismos de controle e nas barreiras como se elas fossem definitivas, e não são. Existe hoje uma série de ações que podemos fazer para combater a burocracia.
 

As pessoas têm mania de romantizar o papel da tecnologia nos processos, mas ela nada mais é do que uma ferramenta de trabalho para pessoas que querem se transformar

 

Qual é o efeito da falta de preocupação com a burocracia para uma empresa?
Uma empresa que não combate a burocracia tende a perder o jogo no longo prazo, tanto porque ela vai ter processos mais ineficientes, mais lentos, quanto porque ela vai gastar mais dinheiro com pessoas. Hoje, o maior diferencial da empresa é ter uma equipe talentosa e disciplinar e ninguém quer fazer parte de uma organização lenta e burocrática. A burocracia é como uma doença, uma inimiga a ser combatida.

Como esse trabalho é feito na prática?
Nossa luta contra a burocracia não é nova, mas ela agora é a nossa maior prioridade. No começo da nossa empresa, olhamos para o trabalho do advogado e entendemos que poderia ser um trabalho mais estimulante e inteligente. Durante muito tempo, oferecemos aos advogados um software de automação de documentos. Com o passar do tempo, descobrimos que podíamos fazer muito mais.

Mas apenas a tecnologia trabalha?
Hoje, oferecemos tecnologia para que os times dentro de uma organização interajam entre si e com o jurídico de uma forma mais segura, transparente e eficiente, de modo que eles consigam fazer negócios de forma mais fluida. Todo mundo quer andar do ponto A ou B sem barreiras no caminho e, muitas vezes, o jurídico, a governança, os processos tornam essa experiência frustrante e lenta. Nós aceleramos o processo de negociação, a obtenção de informações, assinaturas e gestão de contratos de forma a equilibrar velocidade e controle para as organizações que a gente trabalha.

Qual o retorno financeiro da diminuição da burocracia em uma empresa?
Estimar o retorno financeiro de uma empresa no que diz respeito ao combate à burocracia é um trabalho árduo, porque cada empresa tem um grau diferente de maturidade quanto à sua organização interna e tem empresas muito mais burocráticas do que outras. O Estado é um exemplo de excessiva burocracia e o impacto seria imenso. As empresas mais burocráticas podem ter um benefício imenso com a simplificação dos seus processos. Já tivemos um cliente, a Accenture, com redução de 82% de custo num processo similar refeito sob a ótica mais eficiente. A IACCM (The Global Contract Management Association) mensurou que o custo de um contrato, envolvendo todas as etapas dele, é de US$ 7 mil para as empresas. Nesse valor estão os custos das horas de trabalho de pessoas envolvidas, da assinatura, negociação, entre outros. Com o uso de softwares, esse custo é reduzido, em média, em 35%. Hoje, temos sob nossa gestão 160 mil contratos e, aplicando essa premissa de 35%, chegamos ao número de US$ 240 milhões potencialmente economizados pelos clientes Linte.

Qual é o perfil de empresa que se adequa a esse tipo de tecnologia?
O benefício é aplicável a todos. Talvez uma empresa muito pequena ainda não sinta as dores de quem está perdendo controle dos seus processos. Se uma empresa não consegue controlar os muitos contratos entrando e saindo, se já não sabe mais responder quantos contratos vão vencer, quantos fornecedores tem, independentemente do número de funcionários, um software vai ajudar muito.

Como é possível reduzir os custos de um contrato em até 82%?
Não tem mágica, tem um bom mix de tecnologia e muito trabalho. As pessoas têm mania de romantizar o papel da tecnologia nos processos, mas ela nada mais é do que uma ferramenta de trabalho para pessoas que querem se transformar. Quando falamos hoje de transformação digital, nada mais é do que uma transformação cultural. A ferramenta é só um meio, nunca pode ser um fim em si mesmo. Contratar uma startup não é inovação. É preciso mudar a forma de trabalhar, e contar com empresas parceiras que oferecem soluções inovadoras é um começo.

Em 2017, vocês foram premiados no Brazil Lab como a empresa mais atraente para as prefeituras, mas até agora vocês não atendem a nenhuma. Por quê?
Foi uma honra ter sido selecionado e validado pelo poder público como solução capaz de transformar instituições e trazer mais eficiência. Esse ainda é um sonho nosso. Só não fizemos isso ainda porque, neste momento de empresa, não conseguimos fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Ainda temos muito a aprender no mercado privado, mas já estamos pensando em como ajudar o setor público. O Brasil está em uma esteira de crescimento e isso só vai ser possível se todas as instituições, em âmbito federal, estadual e municipal, estiverem alinhadas com a pauta da maior eficiência.
 

Nosso país é como um parque de diversões para empreendedores porque não faltam problemas

 

Como você enxerga que será 2020 no que diz respeito ao investimento em novas empresas?
Por mais contraintuitivo que possa parecer, nunca foi tão seguro arriscar no Brasil. Tomar risco hoje e empreender implica utilizar grande parte do capital que está disponível e resolver os problemas que temos hoje no Brasil. Nosso país é como um parque de diversões para empreendedores porque não faltam problemas. Cada um desses problemas é uma oportunidade de negócios. Foi em cima da capacidade de alguns desses empreendedores que os investidores resolveram confiar na capacidade do Brasil de construir grandes empresas. Não dá pra negar que temos muitos desafios: sim, é mais difícil empreender no Brasil por conta da complexidade e ainda temos que romper a questão cultural. Esses ciclos de empresas de tecnologia, as chamadas startups, ainda são mais recentes por aqui do que em outros lugares como, por exemplo, os Estados Unidos. Estou bastante otimista com 2020.
 
Qual é a razão para o otimismo?
Apesar de saber que existe pouca gente arriscando, sei que negócios bons estão nascendo e tem capital disponível no mercado para alavancá-los. Um exemplo do potencial do Brasil é que, em 2019, só ficamos atrás dos Estados Unidos e da China em número de unicórnios. Essas empresas estão em rápido crescimento em razão de ter encontrado uma oportunidade real no mercado. Essas empresas já nascem sabendo que vão ser grandes e buscam se profissionalizar desde o começo. Já atendemos quatro dos 11 unicórnios existentes no Brasil: Loft, 99, Ebanx e Stone.

O que esses unicórnios têm em comum? Como a Linte agrega valor a elas?
À medida que as empresas crescem, se tornam mais burocráticas. A burocracia não é um mal buscado, mas um efeito colateral da proteção para as empresas evitarem riscos. No final das contas, esses unicórnios já sabem que isso vai acontecer e, ao nos contratar, estão buscando evitar que a burocracia cresça como já cresceu em outras empresas. São gestores inovadores e corajosos e que estão investindo tempo e dinheiro para que as organizações permaneçam eficientes e com processos transparentes, fluidos e seguros.

Vocês já participaram ou vão participar de alguma rodada de investimentos?
Já captamos uma rodada de seed capital (capital semente) em que, além do aporte de investidores-anjos e de uma aceleradora americana, houve a entrada de fundos de venture capital como o Valor Capital Group e a RedPoint eVentures. Ao todo, recebemos R$ 10 milhões. As próximas rodadas estão sendo avaliadas. Queremos alavancar e acelerar nosso crescimento e é bem possível que, ao longo de 2020, ocorra a uma nova rodada, a nossa série A.

Vocês já atendem a empresas em outros países? Como é feito o ajuste em termos de legislação?
Além do Brasil, temos usuários no México, Argentina e Chile. A utilização do Linte em outros países se deu de forma natural a partir dos nossos clientes, que, em sua maioria, são empresas multinacionais. Não há, nesse momento, nenhum tipo de adaptação quanto à legislação desses países, mas sim em razão das normas e tipos de contratos que cada uma das empresas utiliza. Para nós, não importa se o cliente está em qualquer país, mas o fluxo de trabalho que ele deseja utilizar. É como se cada empresa fosse um novo país. Em 2020, vamos investir muito na nossa internacionalização


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