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Estado de Minas ENTREVISTA SERGIO FURIO, FUNDADOR E CEO DA CREDITAS

Espanhol Sergio Furio cria startup Creditas para ajudar endividados

A plataforma on-line é especializada na concessão de empréstimos com o uso dos bens como imóveis e veículos dos clientes como garantia


postado em 09/11/2019 04:00

(foto: Ana Pacheco/divulgação)
(foto: Ana Pacheco/divulgação)
São Paulo
– Fundada em 2012 pelo espanhol Sergio Furio, a Creditas está entre as quatro startups brasileiras que apareceram recentemente no ranking Fintech 100, elaborado pela KPMG e pelo fundo de investimentos em fintechs de estágio inicial H2 Ventures. O levantamento foi feito com base em informações coletadas em 29 países com o objetivo de selecionar as startups mais inovadoras do setor financeiro.

A plataforma on-line é especializada na concessão de empréstimos com o uso dos bens dos clientes como garantia – por exemplo, imóveis e veículos. A modalidade não é nova no Brasil, mas Furio procurou desenvolver um modelo de negócio que usa muita tecnologia e informação para tornar o produto mais atraente e assim tirar os endividados da fila do cartão de crédito.

O empreendedor não divulga números sobre a carteira de clientes ou o volume de empréstimos concedido. Mas o desempenho tem chamado a atenção dos investidores. Até agora, a fintech recebeu um total de R$ 1,2 bilhão em aportes de fundos internacionais de ventura capital. A rodada mais recente aconteceu em junho. Foram US$ 231 milhões, liderados pelo SoftBank, que avaliou a Creditas em US$ 700 milhões. Na época, Akshay Naheta, sócio-gerente da SoftBank Investment Advisers, declarou: “Embora exista uma grande demanda por empréstimo no Brasil, o mercado é ineficiente”.

Com a demanda em alta, a projeção de Furio é triplicar o faturamento a cada ano, de 2020 a 2022. A explicação para uma projeção tão otimista está, em parte, nas taxas cobradas pela Creditas: a partir de 0,99% para crédito com garantia de imóvel, a partir de 1,59% para veículo, e de 1,29% para consignado provado.

Outra fonte de expansão dos negócios será o início das operações da Creditas no México, onde a fintech já começou a contratar funcionário e deve abrir as portas ainda no primeiro trimestre do ano que vem. As aquisições e a entrada em novos segmentos, como aconteceu recentemente com a compra da Creditoo (especializada em crédito consignado) são outra possibilidade para continuar a acelerar a receita.

Como a Creditas tem conseguido ganhar terreno em um mercado em que há a concorrência das grandes instituições?
O grande diferencial está na tecnologia, na agilidade, na forma como nos conectamos com o cliente. Criamos uma experiência digital para o cliente, algo com o qual ele não estava acostumado. Até então, esse tipo de crédito envolvia muita papelada e o contato físico, mas transformamos a experiência dando mais agilidade e acabando com a burocracia. Além disso, passamos a oferecer taxas de juros bem mais atraentes. Hoje, é possível negociar um crédito com o imóvel como garantia a partir de 0,99% ao mês. A indústria começou a copiar a nossa taxa de juros.

O que mais pesa na decisão entre um banco tradicional e uma fintech?
Também faz diferença a experiência que oferecemos para o cliente. Ele se cadastra no site e tem a resposta instantaneamente depois de preencher dados como nome, CPF e data de nascimento. Quando ele compara com a experiência que tinha com os bancos, ou com os chamados pastinhas, de antigamente, quando era preciso fornecer cópia de documento, holerite e outros papéis, decide pela opção mais prática. Por exemplo, não precisamos da matrícula do imóvel para levantar informações, basta o IPTU e o número do contribuinte. O restante é automatizado. Não divulgamos nossos números, mas hoje lideramos no segmento de empréstimo com garantia de veículo e estamos entre os três primeiros no de imóvel.

Como a inadimplência tem se comportado?
Atualmente, a retomada do bem está abaixo de 1%. Estruturamos a operação de forma que o pagamento possa ser feito. O cliente não paga se entregamos um produto ruim para ele. Para evitar esse problema, não só avaliamos o perfil do potencial contratante, mas do ativo e até da sua possível liquidez. Nosso trabalho inclui ajudar a reformar a casa para a venda, por exemplo. A solução vai de ponta a ponta.

Qual é o grande desafio no segmento, torná-lo mais conhecido do brasileiro?
O maior desafio é a educação financeira do brasileiro, que é relativamente baixa e o leva a tomar decisões erradas, como usar cheque especial, o rotativo do cartão ou fazer empréstimo pessoal, que são modalidades com juros de 200% ao ano. No final, ele tem de pagar o juro mais o principal. No terceiro mês o cliente não consegue pagar mais nada e entra em uma bola de neve. Por isso, acreditamos que é preciso investir em educação financeira. O brasileiro tem de ser realista com o que tem disponível e aprender a estruturar a dívida do jeito certo. Temos feito um esforço grande de levar informação para os clientes, por exemplo, nas redes sociais, com vídeos muito simples para ele entender o produto. A realidade é que as pessoas estão sem tempo, não vão ler uma apostila de 40 páginas, mas estão com o celular o tempo todo. Além disso, temos assessores financeiros que dão informações de graça para que ele entenda como matar essas dividas. Nossa fórmula de educação financeira combina canal digital, vídeos e assessoria.

Há outros desafios para uma fintech com um crescimento tão rápido?
Sim, essa velocidade de crescimento também é desafiadora. No começo do ano tínhamos cerca de 500 funcionários, atualmente são mais de 1.400. Isso representa o desafio de contratar e treinar. Também é difícil encontrar o perfil certo, principalmente na área de tecnologia, analistas de crédito e assessores pessoas. Aqui queremos não só que a equipe tenha cultura de dono, mas que goste do contato com o cliente. Para nós, não basta a tecnologia, também valorizamos o contato humano, mesmo entre aqueles que não vão ter essa aproximação. É importante que cada área entenda quão importante é conhecer e trabalhar para atender a essas demandas. Assim o cliente vai se sentir mais confortável. Temos de nos adequar ao cliente, não o contrário. Essa paixão vai além de falar com ele, inclui sentir as dores para que no fim do dia nosso colaborador sempre pense em como entregar o melhor produto para o cliente. Por isso, todos os colaboradores quando começam na Creditas passam uma semana escutando as conversas com os clientes para entender o que eles precisam. O trabalho dele toma sentido quando vê o que realmente é necessário oferecer. Isso significa mostrar qual é o propósito pelo qual trabalhamos, o que faz muito sentido para os millennials, principalmente.

Como é possível captar recursos em condições melhores sendo uma instituição financeira menor?
O segredo é ter baixo custo e a qualidade da carteira de crédito. Focamos na criação de uma carteira de crédito com inadimplência baixa. O investidor que investe na gente gosta de ver que tem uma carteira de crédito muito boa, que os clientes conseguem pagar. Além disso, apesar de o custo de captação das instituições ser mais baixo, o custo operacional é mais alto.

Por que tomou a decisão de entrar no segmento de crédito consignado por meio da aquisição da Credito? Qutras aquisições podem acontecer?
Decidimos pela aquisição pelo conhecimento que estava sendo adquirido. É uma empresa já com ativo, o que nos dá velocidade, dá tração para o negocio. Para crescer podemos fazer outros movimentos.

A decisão do BC de iniciar as consultas sobre o open ranking pode afetar as fintechs?
Esse assunto está na pauta do Banco Central há pelo menos um ano. Participamos ativamente de algumas conversas e fizemos um piloto de open banking para mostrar ao BC. Na ocasião, alguns bancos defenderam que os custos com o open banking seriam altos. Mas é o contrário, porque haverá mais eficiência a um custo mais baixo. Não deve haver remuneração para open banking. O cliente é o dono da informação. O que precisamos é garantir um serviço bom e simples, o que certamente vai fomentar a concorrência. Como resultado dessa transparência, será possível reduzir os custos com uma taxa de juros menor. A experiência também será melhor para o cliente. Alguns bancos defendem que haja cobrança de tarifa sobre consultas, mas as experiências internacionais mostram o contrário. O que os bancos querem é repassar o custo de investimento em tecnologia.

A meta de crescimento anual é agressiva – triplicar o faturamento nos próximos três anos. Essa projeção leva em consideração o movimento que os concorrentes podem fazer?
Isso será possível porque investimentos bastante na nossa plataforma nos últimos anos para poder crescer. Essa projeção leva em consideração a concorrência.


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