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Estado de Minas

'Previdência precisa vir acompanhada de outras mudanças', diz novo colunista do EM

Em entrevista ao Estado de Minas, chefe de Análise da Toro Investimentos diz que mudança no sistema de aposentadorias não é salvação da pátria, mas cria ambiente favorável para a retomada do país


postado em 27/10/2019 04:00 / atualizado em 27/10/2019 07:53

Rafael Panonko: ''A hora de investir é agora'' (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Rafael Panonko: ''A hora de investir é agora'' (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Aprovada na última semana, depois de várias tentativas em vários governos nos últimos 20 anos, a reforma da Previdência está longe de ser a salvação da pátria, mas tem o potencial de criar um ambiente favorável à retomada do crescimento econômico, num cenário favorável aos investimentos e à redução do desemprego. A avaliação do chefe de Análise da Toro Investimentos, Rafael Panonko. “Sem essa reforma da Previdência, sem a economia que ela provoca, provavelmente no futuro não teria um cenário favorável. Com grandes problemas para o país”, diz o analista da Toro, fintech criada em 2010 e que desde sua fundação já atuou para cerca de 800 mil pessoas e deu sua ajuda em R$ 100 bilhões de investimentos. Desde o ano passado, a Toro abriu também uma corretora de valores.
 
Para que o país efetivamente entre numa rota de desenvolvimento com a volta dos investimentos em infraestrutura e no aumento da capacidade produtiva e a redução do desemprego, Panonko lembra, em entrevista ao Estado de Minas, que são necessárias outras reformas, como a tributária, e medidas que tornem o ambiente de negócios no país e em relação ao exterior “mais amigável”. Com a perspectiva de retomada, o ex-oficial do Exército brasileiro que desde cedo lida com o mercado financeiro, dá um recado aos brasileiros: “A hora de investir é agora”. E há opções, por exemplo, para quem está recebendo os R$ 500 do FGTS.  A partir da próxima quarta-feira, Rafael Panonko passa a  assinar quinzenalmente a 
coluna Seu Investimento no EM

Nós tivemos, depois de algumas tentativas e de alguns governos, a aprovação da reforma da Previdência, que foi colocada de forma que resolveria todos os problemas. Para você, qual o impacto que haverá de agora para frente. Qual a perspectiva que vocês da Toro enxergam já nesse novo cenário?
A reforma da Previdência era o gatilho de que o país precisava para destravar uma mudança muito grande em termos de contas públicas. Não é uma coisa deste governo. Esse é um assunto que vem há mais dois anos e ele veio a ser aprovado no governo atual. Ela não é a salvação da pátria, mas vai criar o ambiente para que o Brasil se desenvolva no futuro. Sem essa reforma da Previdência, sem a economia que ela provoca, provavelmente no futuro não teria um cenário favorável. Com grandes problemas para o país. Claro, a reforma da Previdência não é a única solução. Se o país não fizer movimentos para promover o crescimento da economia, a gente vai ter um país sempre andando de forma estável: em momentos de crise pior, em momentos acompanhando a economia lá fora, em momentos melhores. A reforma da Previdência cria o ambiente para que o país cresça. Mas ela precisa vir acompanhada de outras reformas. Reforma tributária é uma, uma economia mais liberal, ou seja, crescimento em um ambiente de negócios mais amigável. Isso tudo vai permitir que o país cresça, trazendo dinheiro de fora para investir em infraestrutura, investir em crescimento da indústria.. Isso vai provocar a queda no nosso desemprego, porque o desemprego caiu, mas ainda é um desemprego alto. Hoje, temos uma estabilidade em termos de inflação e taxa de juros na mínima histórica, mas a gente vai ter um ambiente melhor para o empreendedor brasileiro e isso provoca o crescimento econômico.

''A reforma da Previdência cria o ambiente para que o país cresça. Mas ela precisa vir acompanhada de outras reformas''

Você avalia que há espaço para mais cortes na taxa de juros?
A gente está se aproximando de uma taxa real bem próxima de zero. A gente estava discutindo, eu com minha equipe de análise, exatamente isso: qual o futuro da renda fixa? Porque o brasileiro investe na poupança e ele tá saindo da poupança e indo para renda fixa. Poupança rende 70% da Selic, quer dizer, é um cenário de investimento bem ruim, só que a gente pega a nossa renda fixa com a taxa Selic atual, você tira a inflação e ela está (com rendimento) abaixo de 1% ou na casa do 1% e isso paro investidor é ruim. Mas, para economia, acho que é um ambiente bom atualmente. Ou seja, ele incentiva o crédito, você vai ter um crédito relativamente, comparado com o passado, mais barato. O empreendedor brasileiro vai investir em crescimento.

Com essa queda dos juros vocês já veem a migração de investidores do CDI, do Tesouro Direto, para a bolsa de valores?
Acredito que sim, mas a gente caminha a passos ainda devagar. Tivemos recentemente a bolsa de valores chegando a um milhão e meio de pessoas físicas, mas quando a gente olha para um país de primeiro mundo, como os Estados Unidos, não tem nem como comparar, porque lá, culturalmente, o americano investe no mercado de ações porque a taxa de juros sempre foi muito baixa. Aqui....

E eles muitas vezes recebem ações das empresas nas quais trabalham.
Exato. Lá é uma cultura de partnership. Aqui está sendo criado agora. Então, hoje, o brasileiro olha para os seus investimentos e ele tem lá a poupança. A poupança não rende nada e ele está tendo contato com isso. Antigamente, o gerente de banco falava para ele 'sua reserva de emergência fica na poupança, você tem que ter dinheiro na poupança, porque o resto é burocrático'. Não, ele tem que sair da poupança porque ela não rende nada e ele precisa fazer o quê? Olhar para os seus investimentos. E não é o 'eu preciso investir no mercado de ações', 'eu preciso investir em fundo imobiliário', não, ele precisa diversificar, ou seja, tenho que ter uma parte do meu patrimônio em ações em boas empresas, uma parte em fundos imobiliários, uma parte com exposição no exterior com exposição no mercado americano, que aí ele fica atrelado a dólar, atrelado a câmbio, uma parte em renda fixa e, dentro de renda fixa, você vai ter taxa pré, taxa pós, você vai ter títulos privados, ou seja, a diversificação é um ingrediente necessário para um bom investimento. Porque a gente está trabalhando com uma expectativa de crescimento, mas pode ser que isso não venha. A gente não sabe o que vai acontecer amanhã, você tem todo um cenário político meio conturbado e pode ser que ela não aconteça e se ela não acontece, quando o seu portfólio tá diversificado você está mitigando risco. Então isso, é extremamente importante, e as pessoas não tem um pouco dessa visão. Elas ficam de certa forma procurando o que está na moda, o que está rendendo mais. Tem que ser feito de forma coerente, de forma inteligente, ou seja diversificar o seu portfólio e sem esperar aquele retorno imediato de curto prazo.

Mas o investidor quer retorno no curto prazo?
O brasileiro de certa forma, por ser um país emergente, tem aquela necessidade de consumo imediato. Nós somos o único país do mundo, não sei se o único, mas dos poucos países em que as pessoas compram em 12 vezes no cartão de crédito. Nos Estados Unidos não tem isso. Ou seja, o brasileiro precisa comprar alguma coisa, com o dinheiro que ele não tem. É o imediatismo. Então, o brasileiro tem que perder essa visão imediata e ter uma visão de longo prazo, uma visão de construção de patrimônio. A construção de patrimônio é o que vai permitir qualidade de vida. Hoje, o brasileiro faz o contrário. Gasta, muitas vezes, mais do que ele ganha, e, por isso, precisa trabalhar mais para pagar o que está consumindo e isso não é qualidade de vida. Quero chegar aos 50 anos e me aposentar e ter dinheiro suficiente para viajar uma, duas vezes ao exterior, ter uma casa na praia, então, precisa juntar dinheiro logo, enquanto se está com potencial, com saúde suficiente para se dedicar à vida profissional. Mas o que se vê é exatamente o contrário. Então, o brasileiro precisa aprender a investir. Na Toro, no nosso DNA, por a gente ser uma fintech, o nosso DNA está muito atrelado à educação financeira. O brasileiro não está bem informado, ele está perguntado para o gerente de banco que muitas vezes não alinha interesses com o propósito do cliente. Então, a gente precisa levar essa educação financeira para o brasileiro. Ele precisa aprender sobre finanças, ele precisa aprender como investir, isso que eu falei de diversificação, de visão de longo prazo são apenas alguns dos ingredientes que ele precisa ter para investir corretamente. E aproveitar o momento do Brasil. A gente tem a reforma da Previdência destravando o ambiente de crescimento, outras reformas vindo e eu acredito que estão por vir. Então, a gente vai ter realmente um ambiente de crescimento no Brasil, e o brasileiro não pode perder essa oportunidade, ele precisa investir corretamente para poder ter um bom futuro, ter qualidade de vida aproveitar mais tempo com a família.

''A gente vai ter realmente um ambiente de crescimento no Brasil, e o brasileiro não pode perder essa oportunidade, ele precisa investir corretamente para poder ter um bom futuro''

Hoje, na Toro, qual é o mínimo para se investir?
Não digo na Toro, mas para o brasileiro hoje. O que interessa não é o mínimo, não é o quanto você vai iniciar, mas é o teu poder de aporte, de quanto você consegue acumular com frequência. Vou dar um exemplo: você começa hoje com R$ 5 mil e não faz nenhum aporte e eu começo com R$ 1 mil só que todo mês eu vou colocando 500 pratas, 500 pratas, 500 pratas e vou acumulando e vou comprando fundo imobiliário, renda fixa e ações. Garanto que em X anos o meu patrimônio vai ser muito maior do que o seu. Então, o aporte inicial não é tão importante. As pessoas ficam naquela de quanto é o mínimo, quanto eu preciso para começar, será que está no momento de comprar a bolsa? O melhor momento de comprar a bolsa foi há 20 anos e o segundo melhor momento é hoje. Não deixe para fazer amanhã o que você pode fazer hoje. Ah, mas se o mercado cair? Se o mercado cair, você vai comprar mais. Claro, de empresas que sejam boas, que tenham boas recomendações, porque rentabilidade passada não garante rentabilidade futura. Mas você tem que ter o hábito, eu acho que a palavra certa é essa, hábito, de acumular, de juntar dinheiro e de investir corretamente. Não é 'vou juntar xis valor na poupança e depois que eu tiver xis valor vou colocar no outro'. Não, já começa logo no outro. A maioria dos investimentos hoje permite aportes pequenos. Então, o segredo não é o quanto que eu tenho para começar, não é qual o momento certo, não. Comece com quanto você tem hoje e comece agora.

Isso vale pro trabalhador que está recebendo os R$ 500 da conta do FGTS.
Exatamente. Ele tem R$ 500 e hoje, com R$ 500, que tanto você faz? Você vai gastar consumindo alguma coisa, vai comprar roupa, vai sair para um passeio no fim de semana. Cara, mas são R$ 500. Isso não é uma recomendação (de investimento), tá? Compra fundo imobiliário, porque esse fundo imobiliário no mês que vem vai te pagar rendimento e você vai pegar esse rendimento e vai comprar mais fundo imobiliário e no outro mês ele vai te pagar um rendimento maior e vai virando uma bola de neve. Aí, você vai poupar, todo mês você vai ver um aluguelzinho, livre de Imposto de Renda, que é maior do que o mês passado e talvez isso te motive a começar a juntar mais o seu salário.

Livre de Imposto de Renda?
É, hoje o rendimento dos fundos imobiliários é isento…

Mas isso é no longo prazo? Ele tem liquidez?
Tem. O fundo imobiliário, você compra as cotas de um fundo imobiliário, na bolsa. O rendimento que esses fundos pagam mensalmente são livres de Imposto de Renda. O que você paga é a valorização da cota. Comprei por 100 e vendi por 110, aí você tem a tributação. Mas o que pinga todo mês a título de aluguel, ele é livre de Imposto de Renda. Quando você tem um imóvel, alugando, ele não é. Alugando um imóvel hoje e você tem um inquilino, aquele dinheiro que você recebe você precisa pagar imposto. Ou seja, é um benefício. Se a gente for comparar fundo imobiliário com investimento em imóveis, que é o que o brasileiro tem como referência (estou com dinheiro e compro um apartamento para alugar). Esquece isso, isso é passado, da época dos seus avós. Hoje, é fundo imobiliário, você tem liquidez de mercado, você não tem burocracia, você tem isenção de Imposto de Renda, você investe em excelentes imóveis. Não é só um imóvel, você tá comprando a parte de um fundo que tem um portfólio gigante de imóveis, o risco de vacância é menor. Então, são inúmeras as vantagens. Eu apenas dei um exemplo de como o cidadão, com os R$ 500 do Fundo de Garantia, consegue investir.

Entre as pessoas que fizeram contato com a Toro desde a sua fundação vocês percebem que elas têm melhor preparação para o mercado financeiro?
Têm. O que percebo hoje é que o investidor, no primeiro contato que ele tem com a Toro, normalmente vem querendo aprender alguma coisa. Ele não sabe praticamente nada. Ele começa a investir, ele começa a consumir, às vezes é um vídeo no YouTube, é um analista falando num relatório nosso. No prazo de meses você vê que esse investidor já está muito mais qualificado em termos de ter conhecimento do que quando ele entrou e ele por si só consegue tomar decisões coerentes, decisões dos seus investimentos, das suas finanças de maneira bem melhor. Não é simplesmente eu sigo a recomendação lá do Rafael Panonko, que é o analista. Não, o que ele precisa entender é o porquê daquilo que o Rafael Panonko está falando. Quando você entende o porquê, entende o cenário por trás daquilo, a sua tomada de decisão é muito mais racional, ela é muito mais coerente. Você concorda que cada investidor tem uma personalidade, tem um perfil diferente? O que é bom para você não é bom para mim ou para ele e cada um tem a sua idade, tem os seus objetivos de vida, então, a recomendação às vezes é boa para você, mas não é boa para outra pessoa. Você precisa entender as razões daquilo e aí é onde entra a parte da educação, do conhecimento. A gente explica isso num formato fácil, numa comunicação amigável. Hoje, o cliente que é leigo, que não conhece nada sobre investimento, ele se depara com a Toro Investimento e fala 'eu gosto desses caras porque eles falam a minha língua' e isso é transformador no mercado. Se você pegar um relatório de um grande bancão, você às vezes vai ler em inglês, vai ler um monte de economês que você não vai entender. Aí o que é que a pessoa física faz? 'Hum, isso não é para mim, isso aí é para quem tem muito dinheiro, nem falar inglês eu falo ainda'. E não é isso. A realidade hoje é diferente. A internet, a tecnologia, a comunicação estão permitindo isso. E é nessa linha que a Toro acredita que seja o futuro.


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