São Paulo – O Brasil está se tornando um celeiro de unicórnios, como são chamadas as startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. Ontem, o Ebanx, fintech que processa pagamentos, entrou para o seleto grupo após investimento – o valor do aporte não foi revelado – do fundo americano de private equity FTV. O Ebanx já havia recebido um aporte da FTV em 2017, no valor de US$ 30 milhões.
A entrada do Ebanx na lista dos unicórnios é simbólica por diversos motivos. Nascido e sediado em Curitiba, no Paraná, o Ebanx é o primeiro unicórnio da região Sul do Brasil. Com a maioria dos negócios concentrados no Sudeste, o surgimento e consolidação de uma startup fora dos principais centros é um sinal do amadurecimento do ambiente brasileiro de negócios.
“Um país que quer aproximar seu ecossistema de negócios dos principais países do mundo precisa ter variedade de polos empresariais e de inovação”, diz o consultor especializado em tecnologia Lauro Figueiredo. “É assim nos Estados Unidos e na China. Uma nação de dimensões continentais como o Brasil precisa ter grandes centros inovadores espalhados por diversos Estados”.
O segundo motivo que chama a atenção no crescimento do Ebanx é o fato de estar, de alguma forma, conectado a grandes grupos globais. A startup processa pagamentos cross-border, como é chamado no mundo das fintechs o comércio transfronteiriço. Para simplificar: o Ebank ajuda grandes empresas estrangeiras como Netflix, Airbnb, Spotify e Aliexpress a vender produtos e serviços no Brasil com pagamentos em moeda local. Ou seja: milhões de pessoas são inevitavelmente clientes da startup curitibana, mas poucos ouviram falar dela.
O Ebanx foi fundado em 2012 e teve como modelo inspirador o serviço de pagamentos on-line da americana PayPal, uma das maiores empresas do mundo nesse ramo. Seus três sócios – Alphonse Voigt, Wagner Ruiz e João Del Valle – ficaram com 70% do controle das ações da companhia, mesmo depois do aporte feito pelo fundo FTV.
Um país que quer aproximar seu ecossistema de negócios dos principais países do mundo precisa ter variedade de polos empresariais e de inovação
Lauro Figueiredo, consultor especializado em tecnologia
Voigt conheceu Ruiz depois de uma experiência traumática. Advogado especializado em direito internacional, ele quebrou a coluna após saltar de paraquedas. No processo de recuperação, decidiu fazer um curso de desenvolvimento pessoal – Ruiz era o professor. As aulas acabaram se tornando discussões sobre oportunidades de negócios e eles resolveram enveredar para a área de pagamentos on-line. O trio seria completado mais tarde com a entrada na sociedade de del Valle, que era dono de uma empresa de tecnologia.
O negócio prosperou. Em 2019, o Ebanx deve faturar US$ 150 milhões, o dobro do resultado obtido no ano passado. A empresa faz dinheiro ao cobrar uma comissão, que varia de 3% a 5%, sobre os pagamentos que processa. Projeções indicam que ela deve encerrar o ano com US$ 2,1 bilhões de pedidos processados. O crescimento tem sido veloz. A empresa iniciou 2019 com 400 funcionários. Atualmente, são 600 e há dezenas de vagas abertas à espera de candidatos para preenchê-las.
Além do mercado brasileiro, o Ebanx atua também no México, Argentina, Colômbia, Chile, Peru, Equador e Bolívia. Em comunicado, a empresa informou que pretende dar continuidade à expansão na América Latina e tem a meta de, até 2022, “ser líder tanto em pagamentos cross-border quanto em pagamentos locais”.
Os unicórnios estão se multiplicando no país. Em setembro, o QuintoAndar, startup especializada no aluguel de residências, recebeu uma nova rodada de investimentos do banco japonês SoftBank, que fez com que entrasse para o grupo. Em junho, foi a vez da empresa de entregas Loggi, que recebeu investimentos de cinco grandes companhias (entre elas, da Microsoft). Com a melhora do ambiente de negócios e a esperada retomada econômica, a tendência é que novos unicórnios surjam no país.