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Estado de Minas FINANÇAS

Fintechs atendem de 'desbancarizados' a camelôs e fazem até controle nutricional

A estratégia para crescer no Brasil de startups ligadas ao setor financeiro, como a Celcoin e a Nutrebem,o é atuar onde poucos estão


postado em 08/08/2019 06:00 / atualizado em 08/08/2019 08:56

(foto: Celcoin/Divulgação)
(foto: Celcoin/Divulgação)


São Paulo – As fintechs – startups ligadas ao setor financeiro – têm avançado em mercados como o brasileiro. Mas alguns empreendedores viram na atuação em nichos a oportunidade de crescer sem ser tão pressionado pela concorrência.

Com experiência acumulada no setor financeiro e em tecnologia, Marcelo França colocou em pé, em março de 2016, o Celcoin. Em vez se ser mais um e se acotovelar com os concorrentes para oferecer um serviço financeiro, ele decidiu buscar mercado entre aqueles que não estão no radar: donos de pequenos comércios e pessoas que não têm acesso a instituições financeiras, chamados de desbancarizados.

Por meio do aplicativo, um smartphone pode passar a funcionar como um terminal para o recebimento de contas de consumo e de boletos, recarga de celular e compra de passagens para viagens rodoviárias, entre outros serviços.

Os donos desses celulares autorizados a usar o aplicativo e que fazem esse tipo de operação são chamados de agentes e todo o processo de inclusão deles no sistema – desde baixar o app até ter o credenciamento aprovado pelo Celcoin – é on-line.

É o tipo de serviço, segundo França, que atende a uma população que não tem acesso a bancos ou lotéricas, seja porque mora em lugares distantes ou porque não tem nenhum tipo de relacionamento com as instituições financeiras tradicionais. “As fintechs nasceram para resolver problemas específicos, que é o nosso caso. Quando crescem muito, o caminho natural é irem para outras soluções.”

RENDA EXTRA 

Ao oferecer esse serviço, o agente ganha uma comissão sobre cada operação, que varia com o tipo de serviço prestado – outra parte fica com a Celcoin. A remuneração, tanto da fintech quanto de quem oferece a prestação de serviço, vem, por exemplo, da concessionária de energia e da operadora de telecom, que pagam ou um percentual sobre a operação ou um valor fixo, no caso de boletos.

Além disso, o app gera um aumento no fluxo de clientes para o negócio do agente – em média, são 150 pessoas adicionais por mês, o que impacta em acréscimo na renda familiar dos agentes, que varia, segundo o CEO, de 10% a 15%.

Tela do aplicativo do Celcoin, que faz operações financeiras para desbancarizados por meio de agentes(foto: Celcoin/Divulgação)
Tela do aplicativo do Celcoin, que faz operações financeiras para desbancarizados por meio de agentes (foto: Celcoin/Divulgação)
Hoje, há desde donos de mercearias, de lan house e até padarias, farmácias, motoristas de aplicativo e vendedores de produtos de beleza por catálogo na rede da fintech, que conta com cerca de 16 mil agentes e já chegou a quase 2 mil cidades – principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Juntos, eles atendem, em média, 1 milhão de pessoas por mês. São geradas, de acordo com o CEO, em torno de 2 milhões de transações mensais, que movimentam R$ 150 milhões. Até o fim do ano, a previsão é chegar a 30 mil agentes, aproximadamente.

“A Celcoin nasceu para democratizar o acesso aos desbancarizados ou sub-bancarizados. No meio do caminho vimos a oportunidade de gerar mais oportunidade de renda. Tudo isso usando a tecnologia”, explica França.

Apesar de a fintech ter pouco mais de três anos, já tem conseguido alguns reconhecimentos internacionais. No mês passado, a Celcoin foi anunciada como a única fintech da América Latina entre os selecionados para o "Inclusive Fintech 50", competição voltada ao apoio de fintechs que promovem a inclusão financeira e beneficiam pessoas carentes, apoiado pela MetLife Foundation, Visa Inc., International Finance Corporation (IFC) e a ONG Accion. Em 2017, a Celcoin levou, ainda, o título de "Melhor Startup do Brasil", dado pelo grupo de investidores suíços Seedstars, e de "Melhor Fintech do País", concedido pelo BBVA Open Talent.


Tela do aplicativo do Celcoin, que faz operações financeiras para desbancarizados por meio de agentes(foto: Celcoin/Divulgação)
Tela do aplicativo do Celcoin, que faz operações financeiras para desbancarizados por meio de agentes (foto: Celcoin/Divulgação)


O primeiro dinheiro da criança

Henrique Mendes, fundador e CEO da Nutrebem, diz que empresa oferece conta digital para alunos usarem nas cantinas escolares (foto: Celcoin/Divulgação)
Henrique Mendes, fundador e CEO da Nutrebem, diz que empresa oferece conta digital para alunos usarem nas cantinas escolares (foto: Celcoin/Divulgação)

CEO da Nutrebem, Henrique Mendes chegou à fintech como investidor-anjo, em 2012. Dois anos depois, assumiu o dia a dia da operação e foi, aos poucos, mudando a vocação inicial do negócio. Hoje, a empresa oferece uma conta digital para os alunos usarem nas cantinas escolares, que contratam esse serviço.

A solução não cuida apenas da educação financeira dos estudantes, que aprendem com a ajuda dos pais, que fazem a gestão da carteira digital por meio do aplicativo, a controlar as despesas. O consumo nas cantinas está associado às suas características nutricionais. Os pais sabem não apenas o que está sendo consumido – seja um pão de queijo ou um suco –, mas a qualidade do que está sendo ingerido pelas crianças. Quem administra o app é responsável por carregar a conta virtual, por cartão de crédito, boleto ou diretamente na cantina (o que elimina o custo financeiro) e pode definir o que está liberado para o consumo.

Como explica Mendes, uma mãe pode decidir que o consumo de bolo de chocolate está liberado apenas em um dia da semana. Se essa informação estiver no app, a criança não conseguirá fazer a compra no terminal da Nutrebem, instalado na escola e acionado por meio de login e senha do aluno.

JEITINHO 

As cantinas e seus funcionários também têm um papel importante na operação, já que têm de cuidar da qualidade nutricional dos cardápios e ficar de olho nos estudantes que podem tentar driblar as informações no app e pedir para um amigo fazer a compra em outra conta no terminal.

“Orientamos sobre a responsabilidade que eles têm no negócio. O crescimento só vai ocorrer se os pais tiverem confiança. Isso passa por uma questão de saúde. Uma criança pode ter, por exemplo, alergia a amendoim, pedir para outra pessoa comprar e isso virar um problema muito sério de saúde”, explica Mendes. Em média, a receita da cantina pode crescer 35% depois de um ano de operação.

A classificação alimentar do app é feita por meio de um algoritmo desenvolvido pela própria fintech, que, segundo Mendes, também é uma health tech, já que é voltada à saúde. Os alimentos e bebidas têm a seguinte classificação nutricional, disponíveis no app para os pais: muito nutritivo, moderado, pouco nutritivo.

A receita da Nutribem tem três fontes: aluguel do terminal pela cantina, taxa de transação cobrada sobre o que é vendido pela cantina por meio do serviço da fintech (de 2,25% a 2,9%) e uma taxa sobre as operações que fazem para carregar o cartão em operações com cartão de crédito ou boleto.

UNIDADES 

Hoje, a Nutribem tem uma carteira de 230 escolas e atende a cerca de 170 mil alunos – 85% estão entre São Paulo, Rio de Janeiro e Minas. Em Brasília, já são nove unidades de ensino. Mendes espera chegar a 240 unidades até o fim do ano. Se a previsão se confirmar, representará um acréscimo de 100 escolas em 12 meses. Em 2018, a fintech transacionou R$ 20 milhões nas operações em cantinas e, em 2019, a estimativa é alcançar R$ 32 milhões.

A operação no terminal, parecido com um caixa eletrônico, dura em média 11 segundos, enquanto a compra no caixa da cantina, de acordo com o CEO, demora em torno de 45 segundos. A máquina emite um cupom e, com ele, o aluno vai diretamente para o atendente fazer seu pedido, sem ter de passar pelo caixa.

Até agora, a Nutribem já passou por três rodadas de investimento, num total de R$ 15 milhões aportados. A mais recente, no valor de R$ 5 milhões, foi feita pela Kviv Ventures, que se torna acionista, ao lado da Confrapar e da Barn. Segundo Mendes, há caixa suficiente para a operação rodar até o fim do ano que vem. Por isso, o empreendedor começa a partir de setembro a estruturar informações para uma nova captação em junho de 2019.


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