Cerca de 2 milhões de mineiros têm dívidas em atraso de até R$ 500, valor do saque especial que o governo federal vai liberar das contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) a partir de setembro. O número corresponde a um terço dos inadimplentes no estado, que chega a 5,9 milhões de pessoas, de acordo com levantamento do Serasa Experian, serviço de informação sobre consumidores.
A recomendação dos economistas para quem está no vermelho é usar o dinheiro do saque para quitar o débito e fugir dos juros exorbitantes.
A recomendação dos economistas para quem está no vermelho é usar o dinheiro do saque para quitar o débito e fugir dos juros exorbitantes.
Segundo calendário divulgado pela Caixa Econômica Federal, o pagamento de até R$ 500 por conta do FGTS começa em setembro e será feito até março de 2020, conforme a data de nascimento dos beneficiários. A instituição financeira estima que 33 milhões de trabalhadores receberão o crédito automático na poupança.
Embora não resolva o problema, o dinheiro pode representar um alívio num momento em que o país apresenta inadimplência recorde, com 63,4 milhões de devedores em atraso, de acordo com o Serasa – novo recorde histórico da entidade, medido em junho. Desse total, 23 milhões têm débitos vencidos de até R$ 500, o que corresponde a 36% dos inadimplentes. Dois milhões de pessoas estão em Minas Gerais.
“A gente não sabe quantas dessas pessoas têm conta do FGTS, mas muitos poderão usar esse saldo numa renegociação”, afirma o economista da Serasa Experian Luiz Rabi. Sem ter como honrar seus compromissos, a dívida de Paula Inácio, de 35 anos, que começou em R$ 300, saltou para R$ 1.000. “Fiz compras em duas lojas (sapatos e roupas), me embolei, vieram outras contas e agora já tem mais de um ano que não pago. O FGTS pode ser uma opção”, afirma Paula.
Contas negativadas
Em média, essas pessoas têm duas contas negativadas que somam até R$ 500. Em Minas, os 2 milhões de consumidores com dívidas de até R$ 500 são os responsáveis por 3,8 milhões de contas a pagar. O estado fica atrás somente de São Paulo, com 4,5 milhões, e o Rio de Janeiro, com 2,2 milhões. No Brasil, se os 23 milhões de inadimplentes quitassem seus compromissos financeiros, 39 milhões de dívidas seriam extintas.
A situação de Gleiciane Diniz, de 34, é um pouco mais complicada. No ano passado, ela pegou um empréstimo de R$ 1,6 mil para alugar roupas de festas e pagar a viagem para o casamento da sobrinha, no interior de Minas. “Eu era madrinha, tive que pagar vestidos, hotel. A parcela era de R$ 150 por dois anos, mas fiquei desempregada e agora o banco me ligou dizendo que a dívida está em mais de R$ 10 mil”, conta Gleiciane. Ontem, ela distribuía seu currículo no Centro da cidade, à procura de uma vaga como balconista, atendente ou faxineira.
Gleiciane pretende usar o saque especial do FGTS para diminuir a dívida, mas tem receio de que isso atrapalhe sua poupança para a aposentadoria. “Qualquer dívida em atraso tem encargos e juros que são maiores que qualquer aplicação financeira. Se a pessoa estiver inadimplente, com a dívida em atraso, tem que regularizar essa situação. É a coisa mais urgente”, orienta o professor de finanças da Uni-Horizontes, Paulo Vieira. Ele alerta ainda que, antes de pagar, o consumidor deve negociar a dívida para tentar diminuí-la. “Os bancos querem recuperar o capital e, em alguns casos, fazem até campanhas de renegociação”, afirma Vieira.
Os juros são exorbitantes e é um perigo deixar de pagar uma dívida, porque até aquelas que não eram de um valor tão alto viram uma bola de neve
Luiz Rabi, economista
O economista do Serasa Experian Luiz Rabi afirma que quase 30% dos débitos em atraso se concentram no segmento de bancos e cartões de crédito. “Geralmente, é onde estão também as dívidas mais caras. Os juros são exorbitantes e é um perigo deixar de pagar uma dívida, porque até aquelas que não eram de um valor tão alto viram uma bola de neve”, diz. Se a inadimplência diminuir, quem está com as contas em dia também será beneficiado, segundo o especialista. “A tendência é de um barateamento das taxas de juros nos empréstimos”, explica.
Vendas no varejo estão estagnadas
Rio – A queda de 0,3% nas vendas do comércio varejista brasileiro em junho em relação a junho de 2018 foi puxada pelo chamado "efeito calendário", ou seja, pela ocorrência de dois dias úteis a mais em junho do ano passado do que no mesmo mês deste ano, afirmou ontem Isabella Nunes, gerente da Pesquisa Mensal de Comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Não teria sido negativo, teria sido (avanço de) 1%, não perderia o patamar de maio. O resultado tem pressão negativa vinda do efeito calendário. Ele tem base de comparação de junho de 2018, com dois dias úteis a mais que junho de 2019. É preciso relativizar esse resultado", recomendou Isabella Nunes. Na comparação com maio passado, as vendas do comércio varejista cresceram apenas 0,1%.
Cinco das oito atividades que integram o comércio varejista registraram recuo nas vendas em junho de 2019 ante junho do ano anterior. As perdas ocorreram em Móveis e eletrodomésticos (-6,5%), Tecidos, vestuário e calçados (-1,1%), Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,8%), Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-8,8%) e Livros, jornais, revistas e papelaria (-26,2%). Os avanços foram em Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (5%), Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,7%) e Combustíveis e lubrificantes (0,5%). "O varejo vem crescendo impulsionado por necessidades básicas", justificou Isabella Nunes.
No varejo ampliado, que inclui os segmentos de veículos e material de construção, as vendas cresceram 1,7% ante junho de 2018. O volume vendido por veículos, motos, partes e peças aumentou 10%, mas material de construção encolheu 3,6%.
O varejo tem mostrado baixo ritmo de crescimento no ano de 2019, em linha com a falta de dinamismo da recuperação econômica, avaliou Isabella Nunes. "A recuperação no mercado de trabalho vem se dando de forma lenta e com um perfil que não ajuda muito ao comércio. São vagas informais, com renda mais baixa. A renda disponível na economia se mantém estável", acrescentou Isabella. "É sempre um conjunto de fatores, nunca é isolado", completou.
Outro fator por trás das dificuldades enfrentadas pelo varejo é o endividamento das famílias. "Se a maior parte das famílias está endividada, antes de consumo, elas vão primeiro tentar resolver esse problema do endividamento", opinou.