
“As pessoas começaram a entender a grande pirâmide que é a previdência e passaram a se preocupar. Houve uma conscientização de que a Previdência Social é deficitária, sem sustentabilidade, e isso abriu os olhos para planos complementares”, diz o consultor da Rio Claro Investimentos, Victor Gonzales. O sistema privado é um benefício opcional que fornece renda extra durante a aposentadoria, proporcional à sua contribuição. Nos fundos privados, é possível escolher o valor da contribuição e a periodicidade dos pagamentos, e o valor investido pode ser resgatado a qualquer momento.
Há dois tipos: o Plano Gerador de Benefício Definido (PGBL) e o Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL). O primeiro é recomendado para quem faz a declaração completa do Imposto de Renda (IR), pois permite deduzir as aplicações. Já o VGBL é melhor para quem faz a declaração simples do IR, e permite contribuições em valores acima de 12% da renda bruta (veja no quadro ao lado).
A servidora pública Julia Almeida, 29 anos, começou a investir em fundo privado de previdência recentemente. “Pesquisei sobre a previdência privada e optei por contratar um plano simples, oferecido pelo meu banco. Os servidores costumam receber um valor maior, mas, com a reforma, os benefícios ficarão no teto do INSS. Preocupei em manter, na aposentadoria, o padrão de vida que tenho”, conta.
A contribuição que Julia faz é menor do que a da Previdência Social, fica em torno de R$ 250 por mês. “Na Social, falta clareza para o servidor sobre as regras e como a sua contribuição vai retornar no futuro. Na privada, a gente tem mais facilidade de encontrar informações”, explica a servidora.
Para Renato Follador, economista especialista em Previdência, todos que estarão recebendo acima de R$ 3 mil no fim da carreira devem procurar um fundo privado de aposentadoria. “A grande diferença da Previdência Social para a privada está nos juros. Se você fizer as contas, depois de 35 anos de investimentos em um fundo complementar, 5% da sua poupança previdenciária na hora da aposentadoria será incentivo tributário do governo, 26% será o dinheiro que saiu do seu bolso para contribuição, e 69%, juros do mercado financeiro”, afirma o especialista. “Essa é a grande vantagem.”
Porém, o economista explica que é importante se preocupar com a solidez da instituição que oferece o plano e com a taxa de administração financeira. “Se você faz um plano para se aposentar em 35 anos, a instituição contratada tem que existir até lá. Além disso, quanto menor a taxa de administração financeira da instituição, maior será a sua aposentadoria”, sustenta.
Lyndon Johnson Vieira, 51, é funcionário da Caixa e tem plano complementar do próprio banco desde 1990. “É vantajoso porque eu posso me aposentar com uma renda superior à do meu cargo atual, desde que contribuia para isso”, explica. “O fundo privado também me dá o benefício de resgatar empréstimos com juros mais baixos e prazos maiores.”
No entanto, há quem não recomende a previdência privada. Para o educador e terapeuta financeiro Jônatas Bueno, os sistemas disponíveis ultrapassados. “Só funcionam se tiver expectativa de vida e acumular durante todo esse período, além de ter penalidades para retirar antes. É mais vantajoso para o sistema financeiro”, diz. Bueno sustenta que uma cartela de investimentos diversificada é o melhor caminho para quem pensa a longo prazo. “Para ter uma velhice tranquila, o ideal é acumular patrimônio. Ao investir de maneira diversificada em vários ativos, diminui o risco e a rentabilidade pode ser bem maior do que o da previdência privada”, avalia.
Na última quarta-feira, o Banco Central reduziu a taxa de juros básica (Selic) para 6% ao ano, a menor desde início do regime de metas de inflação. A medida, segundo o economista Ricardo Follador, deve prejudicar os fundos da Previdência de servidores públicos, além de colocar a gestão dos privados em risco. “Todos terão o desafio de buscar rentabilidade em um cenário de juros muito baixos”, justifica.
*Estagiárias sob a supervisão da subeditora Rozane Oliveira
