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Estado de Minas ENTREVISTA

Adolfo Sachsida acredita que economia pode voltar a crescer de 3% a 4% ao ano

Secretário diz que agenda de produtividade aguarda reforma e aponta os principais entraves que impedem o avanço do PIB brasileiro


postado em 14/07/2019 04:07 / atualizado em 14/07/2019 09:27

(foto: Ana Rayssa/CB/D.A press)
(foto: Ana Rayssa/CB/D.A press)

O titular da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, admite que, sem reformas, o país estará condenado a crescer 1,5% ao ano “para sempre”. Ele reforça que, após a aprovação da reforma da Previdência, a agenda da produtividade e reformas estruturais entrarão na pauta e, se avançarem, farão a economia voltar a crescer em ritmo mais acelerado, de 3% a 4% ao ano, no longo prazo, de forma sustentável. “Nós temos um plano”, avisa. De acordo com o secretário, o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) tem “dois grandes problemas”: o desequilíbrio fiscal e a má alocação de recursos, que afetou a produtividade da economia. A agenda pós-reforma da Previdência será “pró-mercado e pró-consumidor”, com um novo regime tributário, que poderá ser feito em parceria com o Congresso, que tem propostas em andamento, abertura comercial, concessões 
e privatizações.

O mercado reduziu a projeção de crescimento deste ano 19 vezes e sinaliza que economia vai crescer menos que o 0,8%, mesmo se a reforma da Previdência for aprovada. Qual é o diagnóstico?
Os nossos estudos mostram que ocorreu um problema muito sério de misallocation (má alocação) na economia brasileira. Vou dar um exemplo caricatural. Quando você gasta R$ 2 bilhões para fazer um estádio de futebol, esse dinheiro não gera mais nada. Mas não é só isso. É preciso gastar R$ 40 milhões todo ano para manter o estádio. O problema é que não é só o investimento que foi ruim. É pior ainda. Se você quiser corrigir o problema, tem custo. Isso é muito sério.

Houve muito desperdício de dinheiro público?
É pior do que desperdício. No desperdício, você queima o dinheiro. Na má alocação, você não só queimou o dinheiro, como direcionou outros investimentos para outro local. E agora? A recuperação da economia brasileira está lenta. Algumas pessoas dizem que essa é a mais lenta recuperação da economia da história. Talvez o problema seja outro: o nosso nível de equilíbrio tenha caído. Foi colocado tanto dinheiro em locais tão errados que isso afetou de tal maneira a produtividade da economia que o novo equilíbrio, de repente, é esse.

O país não vai conseguir crescer mais do que está crescendo agora?
Se não mudarmos essa realidade, o futuro é crescer 1,5% ao ano para sempre. Isso é um problema muito sério de produtividade. Políticas monetárias e fiscais erradas do período de 2006 a 2016 diminuíram o crescimento potencial da economia brasileira. Precisamos corrigir isso, na nossa leitura.

Analistas se dividem sobre problema desse baixo crescimento entre demanda e oferta. Qual é a sua avaliação?
É oferta. Sem dúvida. Essa divisão é muito simples. Tem os economistas que levaram a economia ao caos que dizem que o remédio é fazer mais do que eles fizeram para corrigir o problema. Não deixa de ser irônico que pessoas que trouxeram o Brasil à situação atual continuem opinando e dizendo que temos que fazer mais do mesmo. Parece que não aprenderam nada com a recessão. Não tem essa discussão aqui.

Isso é um consenso na pasta?
É um consenso dentro da equipe econômica e dentro de um grupo de economistas razoáveis. O Brasil está nessa situação por um descontrole fiscal brutal. Não foi crise internacional, não foi terremoto. Hoje, o Brasil tem dois grandes problemas: o fiscal e a má alocação, que é o problema de baixa produtividade. Alguns economistas deveriam fazer um mea-culpa por terem jogado o Brasil nesta crise. Estou esperando eles se desculparem por ter gerado 13 milhões de desempregos. É importante isso. Este governo tem uma agenda urgente.
 
Qual é essa agenda?
É a agenda fiscal. Precisamos aprovar a nova Previdência. Não há solução para o nosso país sem corrigir o problema fiscal. E não há como corrigir o problema fiscal sem a nova Previdência. Depois disso, temos o problema importante, que é corrigir a produtividade da economia brasileira.

Não dava para adotar a agenda da produtividade em paralelo? No início, houve essa dúvida dentro do governo?
Durante a transição, não houve dúvida. Houve um debate intenso se deveríamos avançar com a agenda fiscal e a de produtividade juntas ou se deveríamos, primeiro, focar na agenda fiscal e, uma vez aprovada a nova Previdência, destravar a agenda de produtividade. Esses debates foram feitos. E quero dizer uma frase importante para os leitores que é nosso mantra: “Tenha um plano, confie no plano e mantenha o plano” (citou que ela é do técnico de futebol do filme Forrest Gump). Nós temos um plano.

Mas a reforma da Previdência não é a solução de todos os problemas da economia...
Isso está no nosso radar. Temos toda uma agenda. Como eu disse, o Brasil tem dois grandes problemas: o fiscal e o de produtividade. E como vamos corrigir isso? A parte fiscal, endereçada pela nova Previdência. E, a parte de misallocation, de produtividade, com as medidas pró-mercado, medidas que estimulem a oferta agregada.

E o que pode vir por aí? 
Bom, será anunciado, em breve, o novo regime tributário. Isso está em estágio adiantado.

O governo pretende apresentar uma proposta própria, mas há projetos de reforma no Congresso. Por que não aproveitá-los?
Temos que aproveitar o momento. Governo e Congresso são parceiros. Estamos à beira da aprovação da mais importante reforma do Brasil desde o Plano Real. É a parceria entre Executivo e Legislativo. A questão da reforma tributária é a mesma coisa. Se o Congresso achar por bem tocar a sua reforma, será maravilhoso. E conte com a nossa ajuda. Agora, nós, como Executivo, temos também que ter uma proposta. É natural.

Se o governo enviar uma proposta, ele não pode atrasar o debate?
Não. No final, as propostas são todas parecidas. Todo mundo sabe quais são os problemas tributários. Pode haver discordâncias pontuais. Uma conversa, um debate franco de ideias, resolve. A agenda econômica está muito bem alinhada.

A reforma da Previdência ainda corre o risco de sofrer desidratação no Congresso. Isso pode mudar o impacto da reforma na economia que o governo prevê, de 0,4% no PIB?
O impacto no PIB será de 0,4% anual. Neste ano, não vai ser isso, porque está demorando. É preciso saber quando essa reforma vai valer. Temos uma grande expectativa de que ela seja aprovada rapidamente na Câmara e rapidamente no Senado. Estamos confiantes de que ela passará na Câmara agora em julho. O Congresso está tentando isso de todas as maneiras. Mas a taxa de 0,4% anual está mantida, porque, quando fizemos a conta, a economia estava em R$ 1,1 trilhão (em 10 anos). A proposta que está no plenário da Câmara está muito próxima disso, em torno de R$ 900 bilhões.

Quando o senhor fala que o país está condenado a crescer 1,5% ao ano, é o cenário com ou sem reforma?
Esse é o cenário sem reformas. Se forem aprovadas todas as medidas econômicas que estamos pensando: reforma da Previdência, reforma tributária, abertura econômica, privatizações, concessões e toda uma gama de propostas que melhorem a produtividade da economia brasileira, podemos crescer entre 3% e 4% ao ano, em uma trajetória sustentável de longo prazo. Mas isso é com uma agenda ampla, pró-mercado.

O senhor falou de crescimento econômico, mas e o emprego e a renda, que estão em níveis muito baixos? Como solucionar esses problemas pós-reforma?
É uma agenda que nos preocupa. Aqui, temos que ser francos. Todo mundo tem parente que está passando por essa situação difícil, de aperto. E o que podemos dizer? Estamos planejando uma agenda importante para diminuir o custo de contratação em todos os setores e de maneira definitiva. Isso será detalhado quando a proposta da reforma tributária for apresentada. Será um grande estímulo ao emprego. Junto com a reforma da Previdência, com a abertura comercial, essa agenda beneficia o Brasil como um todo.

Poderia dar mais detalhes de outras medidas?
Não vamos arriscar nunca a nova Previdência por causa disso. Primeiro, é a reforma da Previdência. Só depois vamos dar detalhes específicos. Agora, saiba que esse é um governo pró-mercado, pró-consumidor. Tudo aquilo que fizer bem ao consumidor, fizer bem à produtividade, favorecer a livre iniciativa e possibilitar que cada trabalhador tenha seu emprego e tenha seu inalienável direito de perseguir a sua própria felicidade será estimulado nesse governo.


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