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Estado de Minas

Inadimplente leva mais de 1 ano para sair do sufoco, mostra CNDL

Com emprego escasso e dificuldade para renegociar dívidas, brasileiros que caíram na lista negativada dos SPCs precisam de 14 meses, em média, até retomar crédito na praça


postado em 23/06/2019 06:00 / atualizado em 23/06/2019 08:13

Uso inadequado dos cartões de crédito e dos crediários no comércio também tem feito crescer a fila dos consumidores endividados nos SPCs(foto: Oswaldo Reis/CB/D.A Press %u2013 13/10/10)
Uso inadequado dos cartões de crédito e dos crediários no comércio também tem feito crescer a fila dos consumidores endividados nos SPCs (foto: Oswaldo Reis/CB/D.A Press %u2013 13/10/10)
O Brasil tem quase 13 milhões de desempregados. A economia cresce mais lentamente do que o necessário e também milhões de brasileiros estão tendo dificuldades financeiras. Quem está com o nome sujo encontra dificuldade para voltar a ter crédito na praça. Levantamento de dados feito pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostra que, em média, as pessoas demoram 14 meses para quitar as dívidas que levaram à negativação dos CPFs.

Na hora de quitar as contas em atraso, os maiores obstáculos foram obter um bom desconto no valor total da dívida (27%) e negociar prazos e formas de pagamento (24%). Dos entrevistados, 19% disseram não ter conseguido renda extra para honrar os compromissos em atraso. Entre os motivos que impossibilitaram o pagamento dessas contas estão a redução da renda (42%), a perda de controle dos gastos (38%) e o surgimento de imprevistos (36%).
O desemprego é o principal fator que leva as pessoas a cair na inadimplência. É o caso de Vânia Caetano, de 43 anos. Sem renda frequente, ela viu o acúmulo das dívidas se transformar em pesadelo. “Acabei de sair de uma tentativa de negociação, na qual disse à moça que estou à espera de um trabalho, porque sem emprego não tenho como pagar. A gente faz bicos, uma faxina ali, vende espetinho, mas, em primeiro lugar, vem a comida e o gás dentro de casa. O resto vai ficando para depois. Não é fácil quando a gente não tem emprego e continua sendo honesto”, lamenta.

No entanto, muitos consumidores, mesmo tendo fonte de renda definida, acabam mergulhando em dívidas que não conseguem pagar. O educador financeiro da SPC Brasil José Vignoli aponta a falta de planejamento financeiro como um dos principais motivos do endividamento. “O uso inadequado do cheque especial, do cartão de crédito rotativo e dos crediários leva o brasileiro a ficar com o nome sujo”, explica. Além disso, existem problemas considerados menores, mas que também afligem os brasileiros, como os atrasos em serviços de telefonia ou TV por assinatura, inadimplência no aluguel ou mensalidade escolar.

Segundo Vignoli quem está endividado deve fazer uma análise de todos os gastos, para avaliar se o estilo de vida é compatível com a renda. “Muitas pessoas vivem acima de suas possibilidades. Com isso, acabam contraindo dívidas, fazendo muitos empréstimos, o que não é positivo”, afirma.

De acordo com o levantamento do SPC e do CNDL, entre as soluções encontradas por ex-inadimplentes para quitar dívidas destacam-se os cortes no orçamento (21%), o dinheiro do 13º salário (15%), os “bicos” para gerar renda extra (13%) e o uso de reserva financeira, como poupança e outros investimentos (11%).

acordo Entre os que economizaram para quitar as dívidas, 59% reduziram despesas com alimentação fora de casa e 54%, com lazer. Já 50% mencionaram ter controlado os gastos com vestuário e calçados (percentual que aumenta para 62% entre as mulheres), 39% com salão de beleza, serviços estéticos e cosméticos, enquanto 33% cortaram os serviços de TV por assinatura.

Outro dado mostra que 68% dos entrevistados tentaram negociar as dívidas que originaram a inclusão do nome em cadastros de restrição ao crédito. Desses, 43% procuraram o credor para propor um acordo e 24% foram procurados pela empresa para negociação.

A auxiliar de serviços gerais Irismar Silva, de 37 anos, descobriu recentemente que está com o nome no cadastro de negativados. “Tentei entrar em acordo, porque tinha um cheque meu na mão de uma empresa. Fui tentar negociar e parcelar, mas eles não quiseram. Fui ao banco e descobri que meu nome está no Serasa. Queriam que eu pagasse tudo de uma vez, mas não consigo pagar uma dívida de 1 mil, que é o mesmo valor do meu salário”, reclama.


* Estagiárias sob supervisão do subeditor Odail Figueiredo
 
DURA ROTINA 

Obstáculos para quitar dívidas

- Falta de desconto sobre o valor total do débito

- Obter prazo e formas de pagamento, na hora de negociar com o credor

- Dificuldade para conseguir renda extra que possibilite honrar os compromissos em atraso


Motivos do pendura Redução da renda

- Perda do controle dos gastos

- Imprevistos

Opções para pagar 

Cortou o orçamento e gerar sobra de recursos

Usou dinheiro extra, como o 13º salário

Fez “bicos” para esticar a renda

Lançou mão de reserva financeira, como poupança e outros investimentos

Fonte: CNDL e SPC 

Vendedora quebrou o cartão de crédito


De acordo com o especialista em finanças pessoais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Fábio Gallo Garcia, existem medidas que precisam ser tomadas para conseguir sair da “bola de neve” das dívidas. A primeira é levantar com o credor exatamente quanto se deve. “De preferência, pedir por escrito, até para conferir se a conta bate e ter certeza dos valores. Em muitos casos, os credores tentam incluir taxas que não fazem sentido”, alerta. Segundo ele, é interessante consultar um especialista dos órgãos de proteção ao consumidor para checar se está tudo regular.

A partir do momento em que se tem a conta exata, é necessário fazer um plano para sair da dívida, o que pode incluir buscar crédito mais barato ou alguma forma de realizar o pagamento de forma parcelada. “Além disso, é preciso resolver o problema da organização financeira. É necessário gerar economia e encaixar o planejamento da dívida no orçamento”, explica Gallo.

De todos os ex-inadimplentes, pesquisa do SPC Brasil e a CNDL indica que 89% acreditam ter melhorado a forma de administrar o orçamento após ter o CPF negativado — principalmente por passarem a pensar mais antes de comprar (38%) — e 31% disseram que procuram controlar os gastos (31%). Para José Vignoli, do SPC, é imprescindível priorizar os compromissos financeiros e aprender a organizar o orçamento. “Isso muda completamente a forma como se lida com o dinheiro”.

A vendedora Priscila Ferreira, de 31 anos, já enfrentou várias dificuldades e hoje se vê aliviada e livre das dívidas. “Eu devia muito e só consegui resolver o problema quebrando o cartão. Deixei de usar e, hoje em dia, nem tenho mais cartão de crédito. Do pessoal todo que conheço, acho que eu sou das únicas que não tem dívida, a não ser as fixas mensais, que são escola de filho, aluguel, água e luz”, disse. (BR e RG)


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