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Estado de Minas

Sucesso de pequenos negócios depende muito da cautela

Apesar das facilidades em obter financiamentos para investir, é preciso buscar orientação financeira


postado em 28/04/2019 06:00 / atualizado em 29/04/2019 09:15

Maria Geralda vendia salgados e recebeu seu primeiro empréstimo de R$ 500 há 17 anos, para ampliar o negócio(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
Maria Geralda vendia salgados e recebeu seu primeiro empréstimo de R$ 500 há 17 anos, para ampliar o negócio (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)

Os brasileiros ganharam mais oportunidades de acesso a financiamentos para investirem  em  microempreendimentos  com  a ampliação dos recursos para o microcrédito, a partir  da regulamentação, no fim de março, da Lei 13.636, do  Programa de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO) e da sanção da Lei do Cadastro Positivo, neste mês, conforme mostrou o ESTADO DE MINAS. Mas, para o sucesso do negócio, não basta apenas ter   o dinheiro em  mãos. È   preciso saber investir os recursos, recomendam especialistas. Cientes desta situação, as próprias instituições financeiras  criaram estratégias para orientação dos clientes do microcrédito, oferecendo a eles treinamentos e cursos sobre a educação financeira, ação prevista na própria lei do PNMPO.

Com a iniciativa, muitos microempreendedores, que não sabiam nada sobre a gestão das finanças, não somente receberam o empréstimo com viés social como também aprenderam sobre o controle de gastos. O exemplo desse aprendizado é  Maria Geralda Paixão, dona de um serviço de bufê em Montes Claros, no Norte de Minas.  

Maria Geralda entrou para o programa de microcrédito Crediamigo, do Banco do Nordeste, há 17 anos.  Na época, vendia salgados e recebeu o primeiro empréstimo, no valor de R$ 500, para ajudar na compra de um freezer. Ela conta que  estudou até a sétima série do ensino fundamental e confessa que “não entendia nada” nada de finanças e, por necessidade, fez o curso rápido sobre gestão e controle financeiro, oferecido pela instituição responsável pelo crédito.

“No curso, aprendi que o controle de gastos é importante para qualquer negócio”, afirma a empreendedora. “As vezes, eu misturava as despesas da minha casa com o meu negócio. E isso não pode acontecer. As despesas pessoais devem ser separadas dos gastos do empreendimento”, diz Maria Geralda, que antes de montar o negócio, trabalhou no emprego de cozinheira em restaurantes e hotéis.

Ela ressalta outros ensinamentos financeiros que obteve. “A gente deve sempre analisar os custos antes de qualquer investimento. Mas, também devemos realizar uma   retirada todo mês, fazendo uma reserva para alguma emergência ou tratamento de saúde”, diz a microempreendedora.

“Sei que ainda preciso melhorar muito.  A gente precisa se capacitar,  pois, o mercado é cada vez mais exigente, declara Maria Geralda, que também confessa  a vontade  de fazer supletivos para concluir o ensino fundamental e o ensino médio para realizar o sonho de ingressar em um curso superior de gastronomia.

Maria Geralda relata que começou com a venda de salgados e cresceu aos poucos, montando o bufê,  com o qual, hoje, atende festas e fornece comida, salgados, doces e bombons. Em março do ano passado, ela perdeu o marido, Robson dos Santos, que ajudava a mulher e teve morte repentina,  vitima de um infarto fulminante.

Mãe de quatro filhos já criados, a microempreendedora disse que sofreu com baque. Porém, não desanimou. Depois de ter recebido (em janeiro passado), o último empréstimo, no valor de R$ 3 mil, aplicado na compra do o seu terceiro freezer (usado para armazenar salgados congelados), ela anuncia que pretende montar uma lanchonete e um pequeno restaurante em espaço na sua própria casa, no bairro Santa Rita, próximo à  região  central de Montes Claros.

BELEZA


Outra que recebeu o pequeno financiamento e recorreu a cursos de educação financeira para aplicar corretamente os recursos foi Rita de Cássia Calazans de Souza, de 44,  que trabalha como revendedora de produtos de beleza e de produtos plásticos de uso doméstico (marcas Natura e Tupperware) em  Montes Claros. 

“Devemos observar as tendências do mercado e saber quais os produtos dão mais lucros. Precisamos trabalhar com os pés no chão”, diz a microempreendedora ao falar do que aprendeu na área financeira. Ela disse que evita  formar grandes estoques, lembrando da concorrência das vendas diretas pela internet. “Hoje, as empresas  trabalham o APP (aplicativo de entrega de rápida). Então, não precisamos mais de grandes estoques. Tem que ter uma boa vitrine”, recomenda.

Rita de Cássia, que é mãe de tres filhos e mora no Conjunto José Correa Machado, na periferia de Montes Claros, destaca que conseguiu ajudar o marido (empregado como como motorista de caminhão a comprar a casa própria  e mais um lote. “Mas, acho que minha grande realização é poder trabalhar como revendedora e ao mesmo tempo continuar perto dos meus filhos”, comenta.

Planejamento antes de tudo


Para evitar dor de cabeça no futuro, os tomadores do microcrédito devem saber onde vão investir antes de montar o empreendimento. “A aplicação dos recursos deve ser muito bem estudada antes de fazer a solicitação para que o valor recebido seja suficiente para cobrir o orçamento, mas que não seja excessivo, para evitar custos desnecessários com juros”, recomenda o professor Ricardo  Teixeira, coordenador do MBA em Gestão Financeira da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O especialista orienta que o microempreendedor também deve elaborar um orçamento prévio antes de ir ao banco em busca do crédito. ”O crédito  deve ser solicitado a partir de um orçamento bem elaborado e da projeção do faturamento que permitirá amortizar, e mais adiante, quitar a obrigação financeira”, diz. Ele dá outra dica: “quando se contrai um empréstimo, deve-se evitar ter o capital de giro como item muito relevante no orçamento, salvo em situações especiais. O empréstimo deve ser para investimento e não para custeio”.

O analista do Sebrae Minas José Márcio Martins chama atenção para a importância da aplicação do financiamento naquilo que foi previsto, sem nenhum desvio. “Todo recurso que será tomado emprestado deverá ser aplicado para a finalidade que foi estabelecida antes de buscá-lo, ou seja, antes de buscar recursos em instituições financeiras”, observa Martins.

 “O empresário deve pegar o valor do microcrédito e investir  em equipamentos que permitam que ele tenha uma atividade empresarial. Pode ser uma máquina de costura para uma dona de casa que queira costurar para fora por exemplo.  Enfim tem que ser destinado para investir em algo que ou faça sua empresa crescer ou aumente a produtividade”, observa o professor Paulo  Feldmann, Paulo Feldmann, da Faculdade de Administração e Economia e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP).

O analista do Sebrae Minas Eric Darioli, que trabalha com o treinamento e cursos para microemprendedores no Norte de Minas, salienta que o tomador do microcrédito deve ficar atento também com os valores das parcelas a serem pagas. “É fundamental que a pessoa verifique, com antecedência,  se vai ter condições de arcar com os valores das parcelas dos empréstimos. Para isso, ela precisa ter uma organização financeira e fazer um planejamento, a fim de que possa usar o crédito de maneira consciente e não ficar apenas “apagando incêndios” em situações emergenciais”, recomenda Darioli.

Orientação dos bancos



Ao liberar os pequenos empréstimos, os bancos também  orientam os clientes sobre como gerir e investir os recursos contratados, por meio de cursos, treinamentos e palestras. A estratégia é adotada pelo Banco do Nordeste (BNB), que lidera as liberações do microcrédito (responde por 62% das operações), o qual pretende investir R$ 11 bilhões em 2019.
O presidente do Banco do Nordeste, Romildo Carneiro Rolim, ressalta que os agentes do “Crediamigo”, programa de microcrédito do BNB -   atuam diretamente junto aos microempreendedores, abordando diferentes questões dos seus negócios. 

“Os nossos assessores de crédito são treinados para oferecer orientação financeira para os clientes com palestras e atendimento personalizado, focando principalmente na gestão do capital de giro e finanças pessoais. Além de apresentar conceitos básicos de educação financeira, como orçamento e controle de despesas, tratamos de temas empresariais como controle de estoques, gestão do contas a pagar e receber e programação de investimentos”, afirma Rolim.

“Uma parte fundamental do processo de atendimento é sobre o uso do crédito e sobre como evitar as armadilhas do endividamento, auxiliando o empreendedor nas decisões financeiras mais importantes para o seu negócio”, assinala o presidente do BNB.


“O banco incentiva a capacitação dos nossos clientes. Estando eles capacitados também estarão  melhor preparados para a aplicar o crédito concedido. Consequentemente, terão melhor desenvolvimento no negócio”, acrescenta Crisiele Rezende Costa Cardoso, que atua como facilitadora de cursos na  Gerência de Microfinanças no Banco do Nordeste em Montes Claros.

Outra instituição financeira que também criou ações para capacitar os tomadores dos pequenos empréstimos é o Santander, que   é líder em microcrédito entre os bancos privados e atua no segmento há 16 anos, com desembolsos superiores a R$ 5.7 bilhões e cerca de 630 mil clientes atendidos. De acordo com Tiago Abate, superintendente da Prospera (empresa do Santander responsável pelo microcrédito), a instituição procura oferecer toda assistência aos microempreendedores. “O (nosso) agente não se limita a conceder apenas o microcrédito. Ele está preparado para entender a necessidade e auxiliar em qualquer demanda, com todo o leque de soluções financeiras oferecidas pelo Santander”, diz Abate.

O Banco do Brasil informou que também promove a orientação financeira ao seus clientes de microcrédito. “Essa orientação é realizada pelo agente de crédito e por canais virtuais, como complemento à orientação do agente, alcançando o empreendedor em local e horário da sua conveniência.

Por outro lado, destacou que, “para avaliação do crédito na medida certa”, são levantadas informações sobre o empreendedor e o empreendimnento, “buscando manter a adimplência do empreendedor ao longo da jornada do crédito. Assim, busca-se a oferta de crédito e educação financeira alinhadas às necessidades e condições do empreendimento”.

Preocupação de entidade de classe


O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Marcelo Souza Silva, lembra que o planejamento, visando a aplicação correta de empréstimos bancários pelos empreendedores também é uma preocupação da entidade. “A CDL/BH  entende  que  os  financiamentos  e empréstimos são essenciais para os empresários aumentarem seu capital de giro e promoverem o desenvolvimento  de  seus  negócios,  principalmente  para  os  microempreendedores. Mas, consideramos que é de suma importância para os empresários, antes de obter um empréstimo, que realizem  uma  análise  financeira  do  seu  negócio  para  verificar  se  a  empresa  tem  condição  de demandar  aquele  financiamento  e  se  o  valor desejado  realmente  é  o  necessário”, pondera Souza Silva.


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