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Estado de Minas

Soluções criativas avançam para conter crise na mobilidade urbana

Para especialista em transporte público da Deloitte do Reino Unido, os governos precisam convencer a população a esquecer o ''estigma do ônibus'' e deixar de dar importância ao carro


postado em 02/04/2019 06:00 / atualizado em 02/04/2019 08:27

No Brasil, a população tem preferência pelo transporte individualizado, já que a qualidade do coletivo deixa a desejar(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )
No Brasil, a população tem preferência pelo transporte individualizado, já que a qualidade do coletivo deixa a desejar (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )

Dados da Associação Nacional de Empresas de Transportes Urbanos (NTU) divulgados no ano passado mostram que o número de passageiros transportados por ônibus por dia, entre 1996 e 2017, encolheu 42%. Por outro lado, o Brasil viveu nas últimas décadas uma fase de grande estímulo à indústria de carros, com financiamentos a perder de vista.

Esses fatos mostram como o Brasil decidiu privilegiar o transporte individual em detrimento do coletivo. Como consequência, o que se vê é um aumento no consumo de combustíveis, na emissão de gases poluentes e de casos de problemas respiratórios, além de mais tempo gasto no deslocamento nas cidades.

Não se trata de uma situação registrada apenas no Brasil ou em metrópoles. O problema de excesso de carros com motor a combustão tem sido motivo de preocupação e fonte de estudo por parte de consultorias, empresas e universidades. A Deloitte acaba de divulgar um estudo sobre o futuro da mobilidade. Um dos coordenadores, Simon Dixon, explicou aos Diários Associados qual é o diagnóstico e como melhorar a vida da população nas cidades.

INOVAÇÕES PELO MUNDO
“Em nossa pesquisa, descobrimos que as principais inovações nessa área incluem estacionamento inteligente e emissão de bilhetes, pagamentos integrados, sistemas de trânsito inteligentes e infraestrutura de veículos elétricos. Há toda uma série de aplicações tecnológicas que pode ajudar as cidades a melhorar o deslocamento das pessoas e torná-lo mais eficiente, otimizando o planejamento de rotas e até mesmo projetando sistemas de transporte”, diz Dixon.

Para o sócio da Deloitte no Reino Unido a integração do planejamento de rotas e preços entre diferentes cidades, ou entre cidades e subúrbios, superando questões administrativas ou jurisdicionais, deve ser o ponto de partida para um rearranjo nessa área, antes mesmo dos investimentos em tecnologia. É o que Dixon chama e “construir uma base forte”.

“Mas para convencer as pessoas a trocarem seus carros pelo transporte público é preciso que haja uma mudança cultural”, destaca o executivo. “O papel da cultura também é muito mais importante para o desenvolvimento de um sistema de transporte do que normalmente supomos. Vimos cidades em todo o mundo sendo impactadas pela questão das atitudes sociais em relação ao transporte público, como o ‘estigma do ônibus’ e a importância da ‘cultura automotiva’. Ou seja, o público tem a percepção de que pegar um ônibus ou trem é uma opção de segunda classe”.

TRANSPORTE PÚBLICO PRECISA MELHORAR Para mudar essa forma de a população encarar o transporte público, o executivo da Deloitte defende que o poder público abrace pronunciamentos e mensagens fortes na sua defesa. Além disso, lembra, é preciso investir em transporte público, tanto na sua qualidade quanto na cobertura, para que passe a ser considerado uma alternativa confortável, conveniente e econômica de se locomover.

Apesar de parecer ser uma missão apenas do setor público, Dixon acredita que há muitas oportunidades para as empresas de diferentes tamanhos e que atendem a diferentes segmentos com serviços inovadores. O executivo lembra que atualmente já há uma grande quantidade de startups que atuam, por exemplo, com a oferta de scooters elétricos. Também há quem se dedique a oferecer planejadores on-line de rotas que ajudam a otimizar cada viagem. Muitas empresas grandes têm optado por novos modelos de negócios, como assinaturas em vez de vendas.

“Parece haver um aplicativo para tudo nos dias de hoje. As cidades estão experimentando diferentes mecanismos de determinação de preços, para regular o fluxo, por exemplo, e isso é possível graças a melhorias tecnológicas”, comenta o executivo da Deloitte. Ainda segundo Dixon, hoje é possível ver não apenas empresas, mas muitos dos serviços públicos de aluguel de bicicletas e scooters que estão surgindo em cidades de todo o mundo.

SOLUÇÕES INTEGRADAS “Em um ambiente competitivo, ou onde o usuário não está familiarizado com o produto, pode haver muita competitividade nos preços para levar o cliente ao serviço. Um dos melhores caminhos para o lucro é juntar-se para formar uma solução maior e mais integrada. Agora, as empresas que podem orquestrar isso terão uma vantagem maior em termos de lucratividade do que aquelas que fornecem apenas um serviço, mas esse é um espaço amplo”, analisa o autor do estudo.

Dixon admite ter ficado surpreso ao constatar que o congestionamento nas ruas é um problema em todos os lugares, mesmo onde há uma proporção muito baixa de uso de carro particular, como em Hong Kong. Depois de analisar os dados, o executivo viu que os problemas de trânsito têm a ver não apenas com o volume de veículos, mas com a forma como as cidades foram construídas – muitas delas antes de começarem a surgir esse meio de transporte – e pela infraestrutura insuficiente para regular o fluxo de tráfego.

ESTRADA NÃO É SOLUÇÃO A saída para minimizar o problema de congestionamento, alerta, não é simplesmente construir mais estradas. Em muitos casos, a melhor alternativa é investir em novos tipos de transporte urbano – como o transporte rápido de ônibus (BRT) – ou programas de compartilhamento de bicicletas e scooters que possam ajudar a transportar mais pessoas.

A integração de sistemas pode exigir que se olhe para o transporte como um todo, afirma Dixon. “Aqui no Reino Unido, o Ministério dos Transportes é organizado em setores com base no modal – rodoviário, ferroviário, aéreo. Isso não ajuda os vários modais a funcionar como um todo integrado. Então, isso pode ser uma maneira de começar. Mover-se de um modelo “hub-and-spoke” (diferentes caminhos que se conectam a centrais) para um modelo mais de rede, como Helsinque fez com seu tubo e ônibus, é outra maneira de iniciar uma mudança incremental

Entrevista/
Felipe Calderón ex-presidente do México

“Com políticas públicas corretas, a mobilidade sustentável pode ser um bom negócio”

Felipe Calderón(foto: Fia/Divulgação )
Felipe Calderón (foto: Fia/Divulgação )

Ex-presidente do México, Felipe Calderón comanda atualmente a comissão de sustentabilidade e meio ambiente da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), criada recentemente com a missão de tornar compatíveis automobilismo e indústria automotiva com as políticas públicas, desde que estejam alinhadas com boas práticas ambientais.

Ele foi um dos convidados do evento promovido pela FIA na etapa mexicana de Fórmula E, em fevereiro. Aos Diários Associados, Calderón explicou que chegou ao cargo pela experiência anterior como presidente da Comissão Global de Economia e Clima, onde se buscava um modelo de crescimento sustentável que andasse junto com o desenvolvimento econômico, reduzindo os efeitos das mudanças climáticas.


É possível acreditar no diálogo entre poder público e iniciativa privada, especialmente na América Latina, onde falar de investimentos em projetos sustentáveis quase sempre esbarra na falta de orçamento e poucas informações?
Ao contrário do que se imagina, se encontramos as políticas públicas corretas, a mobilidade sustentável pode ser um bom negócio. Acredito que é possível conciliar esse tema com a viabilidade econômica e financeira. Esse tipo de investimento torna as cidades mais produtivas e o tempo passa a ser gasto de forma mais eficiente. Mas essas políticas públicas precisam prever incentivos para as empresas e assim se chega a um círculo virtuoso não apenas para o meio-ambiente, mas também para as finanças.

Que tipo de incentivo é necessário para as empresas?
Isso pode ser feito por meio de políticas fiscais que ajudem a mobilidade e aos veículos sustentáveis, além de políticas públicas que permitam a organização de empresas que atuam no setor de transporte, por exemplo, com o serviço de ônibus, para que sejam mais eficientes.

Essa política para melhorar a mobilidade deve estar na esfera estadual ou federal?
Alguns têm uma política federal. Outros, como os Estados Unidos, têm políticas estaduais, mais descentralizadas. Para mim, tem de ser uma política o mais local possível e federal apenas quando necessário.

Na sua opinião, montadoras tradicionais, como Ford, Fiat e tantas outras, têm procurado se movimentar em direção a veículos que utilizam energia limpa?
Houve muita resistência para se preservar os motores a combustão, mas agora elas têm se dado conta que o mundo tem avançado nessa direção e todos querem ser o primeiro a chegar, por isso essas empresas têm se dedicado a desenhar veículos elétricos e híbridos. As montadoras sabem que o motor a combustão vai desaparecer com o passar do tempo, por isso estão se dedicando a fazer uma transição que seja boa para elas.




Fia/Divulgação


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