São Paulo – O italiano Antonio Filosa, presidente do grupo FCA para Brasil e América do Sul, não tem escondido sua empolgação com as perspectivas positivas para a economia brasileira e para o setor automobilístico nos próximos anos. Com a confiança característica de um bom napolitano, ele afirma que as marcas sob seu comando, que incluem Fiat, Jeepe, Chrysler, terão os melhores desempenhos do setor e serão os destaques do mercado nos próximos meses.
No primeiro dia de coletivas do Salão, 15 fabricantes apresentaram suas novidades. E todas exibiram algo em comum: o otimismo com o futuro da economia brasileira.
A confiança do executivo da FCA é sustentada por um robusto plano de investimentos. Filosa reafirmou que, até 2023, a montadora vai investir R$ 8 bilhões no Brasil, com lançamento de 15 novidades, entre novos modelos, motorizações e soluções de conectividade.
Junto com os investimentos, a FCA pretende lançar versões esportivas baseados nos compactos Argo e Cronos, além de um SUV compacto. A empresa não revela os detalhes de sua estratégia, mas crescem as apostas de que as marcas Alfa Romeu e RAM, famosa por suas picapes encorpadas, serão trazidas ao mercado brasileiro.
A confiança de Filosa não é exceção no setor automotivo – é quase uma regra. Os executivos da montadora alemã Audi também acreditam que o mercado vai recuperar o vigor do período pré-crise. Tanto é que a marca vai aproveitar o clima do Salão para lançar uma de suas mais ousadas estratégias comerciais da história.
Além disso, a Audi vai lançar os modelos Q8, A6, A7 e A8 em 2019. “Um evento como o Salão do Automóvel serve como vitrine para as nossas estratégias e, da parte do cliente, ajuda a motivar na compra de um novo veículo”, disse José Sétimo Spini, diretor da Audi do Brasil. “Além de expor os lançamentos, com o que há de mais moderno e tecnológico, estamos expondo nossa confiança e nossas condições especiais.”
Parte do otimismo se explica pela tão aguardada aprovação do programa Rota 2030, colocado na pauta da Câmara dos Deputados na noite de ontem. Até o fechamento desta edição, o programa ainda não havia sido aprovado. A medida provisória, criada em julho em substituição ao Inovar-Auto, perde a validade na próxima semana, mas sua aprovação é dada como certa pelos executivos das montadoras.
“Não há razões para os parlamentares não aprovarem. A lentidão em definir o programa e de aprovar no Congresso fez com que o Brasil perdesse para outros países projetos e investimentos das matrizes” afirmou o presidente da BMW no Brasil, Helder Boavida. “Com a aprovação do programa, o setor terá mais previsibilidade e poderá desengavetar seus investimentos.”
Para relembrar, o Rota 2030 prevê que as montadoras possam abater entre 10% e 15% de seu imposto de renda do volume de investimentos realizados em pesquisa e desenvolvimento no Brasil. O incentivo tributário será concedido de acordo com a redução da emissão de poluentes e aumento da eficiência energética dos veículos.
“A estrutura de custos do Brasil hoje tira a competitividade do país em relação a outras regiões do mundo. E em um mundo cada vez mais competitivo, isso é um problema que precisa ser combatido”, disse Carlos Zarlenga, presidente da General Motors (GM) no Brasil. “O texto original do Rota 2030 que trata disso, como carga tributária e custos de logística.”
Essa avaliação é compartilhada pelo executivo Antonio Megale, presidente da associação das montadoras a Anfavea. Segundo ele, muitos projetos não saíram do papel pela falta de previsibilidade. “Quanto mais cedo aprovado for o projeto, mais as empresas poderão tomar decisões de investimento”, afirmou.
Pelas projeções da Receita Federal, o Rota 2030 resultará em uma renúncia fiscal de mais de R$ 2,1 bilhões no ano que vem, e mais R$ 1,6 bilhão em 2020. Por outro lado, as montadoras calculam que os incentivos deveriam gerar uma desoneração de, no mínimo, R$ 5 bilhões.
Carro elétrico é aposta, mas preço é obstáculo
Nos próximos anos, o carro elétrico será uma realidade cada vez mais comum nas ruas e rodovias brasileiras. Pelo menos três montadoras já confirmam seus lançamentos no país em 2019: a GM, com o Bolt, a Nissan, com o Leaf, e a Renault, com o Zoe. Inicialmente, todos os modelos serão importados. “Estamos muito confiantes de que o nosso carro elétrico será um sucesso no Brasil, assim como tem sido em todos os mercados em que já foi lançado”, disse o presidente da Nissan do Brasil, Marco Silva.
Mas nem todos terão o privilégio de “reabastecer” na tomada. Até agora, todos custarão mais de R$ 149 mil no país – é o caso do modelo da Renault. Já o Bolt e o Leaf devem custar R$ 175 mil e R$ 178,4 mil, respectivamente. “Os custos tendem a cair confirme a demanda for subindo e os impostos revistos”, disse Silva.
O carro Nissan, lançado em 2010, é o automóvel elétrico mais vendido do mundo. O modelo é equipado com um motor de 150 cavalos e a recarga total da bateria, em tomada residencial, leva até 8 horas. Já o Bolt, apresentado nos Estados Unidos em 2016, tem como grande diferencial a autonomia, com mais de 300 quilômetros.
O carro mais adiantando no mercado brasileiro, no entanto, é o Zoe. O carro já foi homologado no Inmetro e deverá ser o mais acessível em termos de custo. “O Brasil está defasado nesse mercado de carros elétricos em, pelos menos, cinco anos na comparação com os países mais desenvolvidos nesse tema”, diz o economista Carlos Meneghetti, especialista em novas tecnologias pela FGV. “Está mais do que na hora de se criar políticas de eletrificação da frota e de incentivo a redução da queima de combustíveis fósseis.”