Rio – Howard Schultz transformou uma cafeteria de Seattle numa rede global de 28 mil lojas presente em 77 países. Agora, ele quer devolver aos Estados Unidos um pouco do que o país lhe deu, e isso pode passar por uma candidatura a presidente.
“Eu quero ser sincero com você sem criar mais manchetes especulativas”, ele disse ele ao The New York Times. “Já faz algum tempo que eu estou profundamente preocupado com o nosso país – a crescente divisão interna e a nossa posição no mundo. Uma das coisas que eu quero fazer no meu próximo capítulo é descobrir se há um papel que eu possa desempenhar que me permita retribuir, mas eu não sei o que isso significa ainda.” A decisão de se aposentar foi comunicada ao conselho há um ano. Schultz fará 65 anos no mês que vem.
Quando o The New York Times perguntou a ele se estava pensando na Casa Branca, Schultz respondeu com aparente sinceridade. “Eu pretendo pensar em uma série de opções, e isso pode incluir o serviço público. Mas estou longe de tomar decisões sobre o futuro.” O Times disse que o Schultz “é frequentemente mencionado como um candidato potencial do Partido Democrata”, além de outros CEOs como Bob Iger (da Disney) e Jamie Dimon (do JP Morgan). Mas nenhum outro parece estar disposto para enveredar para o caminho político quanto Schultz.
Poucos empresários são tão venerados pelos acionistas quanto Schultz. Desde o IPO da Starbucks, em 1992, as ações da companhia se valorizaram 21.000%, segundo os mais recentes dados disponíveis. Significa que um acionista que tivesse investido US$ 10 mil na época teria hoje algo como US$ 2 milhões.
Mas Schultz avançou também em áreas menos quantificáveis: sob sua liderança, o Starbucks nunca se furtou de se posicionar em debates que outras companhias evitam, como direitos dos gays, relações raciais, direitos dos veteranos, a epidemia de violência desencadeada por armas de fogo e o alto custo da educação nos Estados Unidos, que gerou uma dívida estudantil considerada por muitos especialistas como impagável.
Um dos primeiros empresários a tentar exercer alguma liderança moral, Schultz sempre defendeu que as empresas devem buscar “o frágil equilíbrio entre lucro e consciência”. Não é um caminho fácil, diz ele, mas é o único a seguir.
O Starbucks foi a primeira rede de alimentação a oferecer seguro-saúde para todos os seus funcionários (tanto para os que trabalham em meio período quanto período integral) e parceiros. A generosidade veio da história pessoal de Schultz, que viu seu pai, um veterano da Segunda Guerra, voltar para casa e ter que dirigir um caminhão e um táxi para poder colocar comida na mesa.
Há menos de dois meses, o progressismo do Starbucks foi colocado à prova de forma brutal. Dois clientes negros foram presos dentro de um Starbucks na Philadelphia: como eles não estavam comprando nada, o gerente da loja os achou “suspeito” e chamou a polícia.
Respondendo à tragédia, Schultz ordenou que 8 mil lojas do Starbucks nos Estados Unidos fechassem mais cedo no último dia 29 para um treinamento contra preconceito racial. O treinamento será anual e atingirá os 350 mil funcionários que o Starbucks tem no mundo todo.
A partir do dia 26, Schultz passará a ser o chairman emérito da companhia, um título não mais do que honorífico, e Myron Ullman, que já presidiu o conselho da JC Penney, será o novo chairman do Starbucks.
Do zero ao bilhão
Howard Schultz é filho de um veterano da Segunda Guerra que precisou dirigiu um caminhão e um táxi para sustentar a família. Ele cresceu em um conjunto habitacional do Brooklyn, Nova York, e foi o primeiro membro da família a cursar universidade. Seu primeiro emprego foi como vendedor da Xerox. Mais tarde, foi contratado pela fabricante suíça de máquinas de café Hammarplast, e acabou sendo por intermédio dessa empresa que conheceu uma pequena rede de cafeterias de Seattle, a Starbucks. Em 1987, Schultz comprou a marca e em pouco mais de uma década a transformou num colosso global. Atualmente, a rede está presente em 77 países e possui 28 mil lojas.