A indústria brasileira do cimento começa 2018 ainda bem distante da esperada reação à crise enfrentada pelo setor desde 2015 e que tem impacto sobre extensa cadeia produtiva, da extração mineral à construção civil e pesada. As vendas nacionais das cimenteiras não conseguiram sair do vermelho, tendo encerrado o primeiro trimestre do ano com queda de 3% em relação ao período de janeiro a março de 2017, informou ontem o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC). A boa notícia, em meio a indicadores preocupantes da atividade, veio do alívio do freio observado nessa retração, uma vez que a indústria encerrou 2017 com perda de 6,7% na comparação com 2016.
O consumo aparente, quer dizer, a soma do que as empresas venderam no Brasil e do volume de importações, totalizou 12,6 milhões de toneladas no trimestre terminado em março último, representando redução de 3,5% frente ao mesmo período de 2017. As perdas menores, de acordo com Camillo Penna sugerem melhora de desempenho e permitiram ao sindicato das empresas vislumbrar fechamento positivo neste ano, embora com cautela nas projeções, agora de 1% a 2% de expansão em 2018.
Trata-se de um “cenário de referência”, como define o presidente do SNIC, nem otimista, nem pessimista. “Nas nossas preocupações, deixaríamos de fechar no vermelho para pintar os balanços de azul, mas na realidade é uma recuperação ainda incipiente”, afirma o executivo. Para Minas Gerais, os números são mais sintomáticos e as preocupações tendem a ser maiores, tendo em vista que o estado é o maior produtor de cimento do país e o segundo consumidor, atrás de São Paulo.
Minas detém 22% da produção cimenteira nacional e 56% de todo o volume obtido no Sudeste. Do consumo registrado na região, participa com 26% e abriga longa cadeia de produção alimentada pelo produto, desde a mineração de calcário às edificações e construções de infraestrutura. “Acreditamos que este seja, provavelmente, o último trimestre negativo que vamos anunciar. Recuperamos quase quatro pontos percentuais (ainda em campo negativo), o que mostra uma tendência de reação. Numa visão realista, podemos encerrar o primeiro semestre com estabilidade ou algo positivo”, diz Camillo Penna.
A recuperação da indústria cimenteira é atribuída, em particular, ao segmento de edificações – as construções residenciais, comerciais e industriais, incluindo o chamado consumo formiguinha, das pequenas reformas – que responde por 85% da demanda do setor. O restante é composto pelas obras de infraestrutura, hoje mais ligadas à iniciativas de prefeituras municipais e de estados, a despeito de toda a promessa do governo do presidente Michel Temer de retomar grandes projetos de infraestrutura. “Talvez essa tenha sido a grande frustração do setor”, diz o presidente do SNIC.
