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Estado de Minas

Estudo revela potencial solar em seis microrregiões de Minas Gerais

Atlas Solarimétrico destaca que capacidade para geração de energia solar no estado é praticamente o dobro do potencial da Alemanha


postado em 04/03/2018 07:00 / atualizado em 04/03/2018 08:32

Conjunto habitacional com painéis fotovoltaicos: Minas é líder em sistemas usados nas residências, no comércio e em pequenas indústrias(foto: MRV/Divulgação 3/11/17 )
Conjunto habitacional com painéis fotovoltaicos: Minas é líder em sistemas usados nas residências, no comércio e em pequenas indústrias (foto: MRV/Divulgação 3/11/17 )

Minas Gerais tem grande potencial para a geração de energia solar fotovoltaica, mais concentrado em seis microrregiões do estado. Três delas abrangem o Norte, onde o sol sempre foi considerado um castigo diante da seca histórica, e que agora vive a expectativa de receber grandes investimentos no aproveitamento da fonte limpa. O setor traz nova promessa de melhora do perfil da economia local.

 As perspectivas nessa área em expansão no Brasil constam do Atlas solarimétrico de Minas Gerais, desenvolvido pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). O estudo inédito revela que o potencial da irradiação solar para geração de energia no território mineiro é praticamente o dobro do potencial da Alemanha, pais que há anos se destaca pela produção e aproveitamento da energia proveniente da luz do sol.


De acordo com o levantamento, a radiação média das regiões mineiras varia entre 5,5 e 6,5kWh/m2 (Kilowatts/hora por metro quadrado) enquanto a radição solar na Alemanha é de 3kWh/m2. O avanço das fontes renováveis de energia foi mostrado na série de reportagens “Energia sem fim”, do Estado de Minas. Dados divulgados pela Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar) mostram que Minas tem liderança folgada na chegada geração distribuída de energia solar, daqueles sistemas em que o próprio consumidor produz a energia, instalados em telhados de residências, comércios, prédios, indústrias e propriedades rurais.


Minas Gerais é o estado com o maior número desses equipamentos, com o total de 3.540 sistemas, à frente de São Paulo (3.166 equipamentos). A capacidade instalada de geração distribuída do estado é de 37,9 megawatts, volume bem superior ao do segundo colocado, o Rio Grande do Sul, com 26 megawatts.


Segundo o estudo técnico da Cemig, as seis microrregiões com maiores potenciais de geração de energia solar no estado são: Janaúba; Januária; Pirapora e Unaí; Pirapora e Paracatu; Curvelo e Três Marias; Patrocínio e Araxá. O engenheiro de tecnologia Claudio Homero Ferreira da Silva, da Gerência de Gestão Tecnológica e Inovação da Cemig, explica que “o que determina a disponibilidade e o potencial de energia solar é a radiação solar que incide ou que chega em determinada região. Ou seja, radiação solar é a energia radiante emitida pelo Sol”.

Outros fatores foram ainda considerados pelos técnicos para estimar esse potencial. “As condições climáticas, meteorológicas e geográficas e a topografia também influenciam. A região Norte de Minas tem localização geográfica onde há maior insolação (horas de sol por dia), irradiação (radiação solar) devido às questões climáticas – menos nuvens e precipitações de chuvas”, observa.

 Homero Silva ressalta que o mapa solarimétrico mostrou que no Norte do estado os equipamentos de aproveitamento e geração de energia solar têm muito mais rendimento do que aqueles de outras partes do estado, como a Zona da Mata, por exemplo. No Norte de Minas, um determinado sistema voltaico (de 1kWp) produz 1.489kWh de energia em um ano, enquanto na Zona da Mata o mesmo equipamento produz 1.258kWh de energia ao ano, ou seja, 16% a menos.

Futuro

 

O engenheiro de tecnologia da Cemig destaca que as empresas investidoras em megausinas de geração de energia solar conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) analisam vários aspectos antes de decidir pela instalação de suas plantas. Elas têm atuado no setor por meio de leilões promovidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Esses empreendedores levam em consideração fatores como disponibilidade de área e topografia do terreno, uso e ocupação do solo, riscos de eventos naturais e disponibilidade de conexão com a rede elétrica.

 
“Do ponto de vista profissional, vejo a energia solar como uma forma de diversificar a fonte de energia e a matriz energética brasileira, aplicando os conceitos e diretrizes da sustentabilidade, das fontes renováveis e alternativas, da eficiência energética e da geração distribuída”, afirma Homero Silva. Ele chama atenção para a importância da fonte solar fotovoltaica. “Percebo a energia solar como a energia do presente e do futuro, capaz de fomentar o desenvolvimento regional e industrial, possibilitando o acesso à eletricidade ou mudando a forma de o consumidor se relacionar com o sistema elétrico”, avalia o especialista.

 

Pasto cede lugar a usinas

As potencialidades para a geração de energia solar criam expectativa de mudança e de atração de negócios no interior de Minas Gerais. A boa expectativa é percebida em Janaúba, a microrregião do estado que, de acordo com o Atlas solarimétrico de Minas, oferece melhores condições de irradiação do calor do sol. Assim como outros municípios norte-mineiros, Janaúba sofre com a seca. Agora, os agricultores têm a esperança de virar a página do sofrimento e dos prejuízos com a falta de chuvas, com o arrendamento de suas terras para futuros empreendimentos de geração de energia solar.

Com seus terrenos planos, situada a uma altitude de 516 metros, Janaúba se beneficia do brilho forte do Sol. A temperatura média da região está na faixa de 32 a 33 graus, com a sensação térmica passando de 40 graus na maior parte do ano.

“Já estamos cansados dos prejuízos de seis anos seguidos de seca. Acreditamos que essa realidade vai mudar com a geração de energia solar. Será mais uma opção de renda e vai diversificar as atividades econômicas da nossa região”, afirma o presidente do Sindicato Rural de Janaúba, José Aparecido Mendes.

Segundo ele, vários agricultores da região já foram procurados por empresários interessados em arrendamento de áreas rurais para a instalação de painéis de energia solar fotovoltaica no futuro. “Existem pecuaristas que perderam grande parte de suas pastagens com a seca e que agora vão arrendar a parte da fazenda onde acabou o pasto para usinas de energia solar e pretendem criar gado em outra área, sem ficar dependendo totalmente da chuva, que é pouca”, enfatiza Mendes.

 Um fator que gera boas expectativas em Janaúba é que vão passar pelo município duas linhas de transmissão de energia licitadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). As linhas de transmissão de energia partem da Bahia em direção a Minas e deverão contemplar também a conexão de fontes de energia eólica e solar fotovoltaica. Uma das linhas vai partir de Igaporã (BA) em direção a Presidente Juscelino, na região Central de Minas. Segundo a Aneel, deverá entrar em operação em fevereiro de 2020 mas a entrega pode ser antecipada pela empresa vencedora da licitação. O empreendimento facilita a distribuição da energia produzida nos parques eólicos (aproveitamento da energia gerada pela força dos ventos) instalados nos municípios de Caetité, Guanambi e Igaporã, no Sudoeste da Bahia, com a conexão ao Sistema Interligado Nacional (SIN).

Outra linha de transmissão sairá de Bom Jesus da Lapa em direção a Pirapora, no Norte de Minas. A rede deverá atender aos projetos de grandes usinas de energia solar fotovoltaicas instalados na região de Pirapora, viabilizando a conexão ao SIN. A expectativa é de que a linha Bom Jesus da Lapa/Pirapora entre em operação em 2019. Também no Norte do estado, está em implantação uma megausina solar fotovoltaica considerada a maior da América Latina, cujo investimento é de R$ 1,4 bilhão e que vai ocupar 800 hectares.(LR)

Nova fonte de lucro no campo

A esperança de atração de novos empreendimentos a partir do aproveitamento do potencial solar fotovoltaico também cresce em Paracatu, no Noroeste do estado, microrregião em destaque no Atlas solarimétrico. “A nossa expectativa é de vinda de grandes usinas de energia solar, que vão garantir mais emprego e renda”, afirma o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Paracatu, Marcos Plauto Ruas. Ele lembra a economia local é sustentada pela agricultura, mineração e o ensino nas faculdades particulares.

Em Paracatu, já existe gente rindo à toa devido às perspectivas dos investimentos na geração de energia solar. Uma espécie de prêmio da Mega-sena. É o que considera ter ganho o agricultor João Luiz Pinton, que arrendou uma propriedade de 323 hectares para a instalação de uma megausina de geração de energia solar. O empreendimento foi idealizado pela empresa espanhola Solatio Energia, que transferiu o projeto para uma empresa francesa, a Solarie.

João Luiz relata que sempre plantou lavoura de sequeiro (com soja) na área. Ficava na expectativa dos céus para ter uma boa safra. “Foi muito bom negócio. Agora, a gente não precisa mais ficar olhando para o tempo para ver se vai chover para colher e ganhar alguma coisa. Não tem mais risco”, comenta o produtor, lembrando que nos últimos anos as chuvas têm sido escassas no Noroeste do estado.

Ele arrendou 323 hectares por 35 anos e não revela o valor do negócio. Ele conta que um irmão dele também arrendou área de 500 hectares para a megausina. O empreendimento já começou a ser instalado em Paracatu, onde, atualmente, ocupa cerca de 300 trabalhadores. A reportagem do EM entrou em contato com um representante da Solarie para informar o valor do investimento e o volume de geração de energia, mas não teve retorno.

O trabalho da Cemig no mapeamento das possibilidades de geração de energia solar em Minas confirmou a disponibilidade do recurso de fonte limpa em Minas Gerais para aplicações de diversas tecnologias termossolares também em usinas de grande porte, enfatiza o diretor de relações institucionais e comunicação da Cemig, Thiago de Azevedo Camargo. “Cidades como Janaúba e Jaíba, por exemplo, apresentam valores médios de potencial de geração de energia comparáveis aos melhores resultados do país, que são encontrados no Nordeste. E mesmo a Zona da Mata, em comparação com outras regiões, pode ser considerada vantajosa para o aproveitamento da energia solar fotovoltaica e também outras tecnologias de geração solar”, observa.

O Atlas solarimétrico foi desenvolvido pela Cemig durante cinco anos, entre 2012 e 2017. O mapa de radiação solar média diária foi feito com base nas informações calibradas de satélites meteorológicos. O mapeamento da produção de eletricidade fotovoltaica teve como referência a análise de desempenho de sistemas fotovoltaicos conectados à rede elétrica (SFCRs). (LR)


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