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Estado de Minas

"Os empresários abandonaram a política e agora é hora de voltar", diz filho de ex-ministro Hélio Beltrão

Autointitulado "empreendedor de ideias", filho de ex-ministro quer desburocratizar economia


postado em 09/02/2018 12:00 / atualizado em 09/02/2018 09:32

"O Brasil não é um país em que o novo presidente faz o que quer. Não é assim que funciona. O Brasil está em grande medida institucionalizado" - Hélio Marcos Coutinho Beltrão (foto: IMB/Divulgação)

São Paulo – Helio Marcos Coutinho Beltrão é o primogênito dos três filhos do ex-ministro Hélio Beltrão, que ocupou três pastas durante o regime militar (1964/1985). Morto em outubro de 1997, Beltrão ficou conhecido por ser o ministro para a Desburocratização, entre 1979 e 1983, do governo João Batista Figueiredo (1979/1985).

Na época, Marcos Beltrão era um pré-adolescente, mas ainda se lembra das conversas do pai sobre as medidas para reduzir a burocracia no país. “Sou muito orgulhoso do que ele fez e do que tentou fazer”, diz ele. Hoje com 50 anos e vários cursos de graduação no currículo, inclusive de economia e MBA em finanças pela Columbia University, Marcos Beltrão se autointitula “empreendedor de ideias”.

Responsável por gerir os negócios da família, entre eles uma participação acionária no Grupo Ultra (dono de marcas como Ipiranga e Ultragaz), o herdeiro de Hélio Beltrão preside o Instituto Mises Brasil (IMB), organização não governamental que defende o liberalismo. Em ano de eleições, o economista está se dedicando a formatar uma proposta que ajude a destravar a economia e a vida dos brasileiros.

“Trago essa história da desburocratização no DNA”, afirma. O projeto de desburocratização, segundo ele, poderá fazer parte da plataforma dos candidatos mais alinhados ao liberalismo econômico. “Já conversei sobre isso com o governador Alckmin e com o empresário (da Riachuelo) Flávio Rocha”. Outro que está na lista é o engenheiro João Amoêdo, do Partido Novo.

O IMB, que tem como objetivo impactar as políticas públicas a partir da visão da Escola Austríaca de Economia, já distribuiu mais de 120 mil livros, todos voltados para a defesa da teoria liberal. Na entrevista a seguir, ele fala sobre o papel do liberalismo na economia, analisa o quadro eleitoral e revela como o Estado pesado afeta a rotina das empresas.

 

As eleições podem atrapalhar a retomada da economia?
A economia e a política estão em seu ciclo próprio. O Brasil está um pouco mais institucionalizado e, por conta da recessão ter sido tão profunda, a dinâmica de volta ao crescimento tem vida própria.

O descolamento deve continuar mesmo com as eleições se aproximando?
Não vejo uma grande mudança na agenda reformista do presidente Temer. Se viesse alguém mais radical, de esquerda, talvez. Mas não estou vendo essa possibilidade, nem agora nem no futuro próximo.

Nem a possibilidade Lula?
Acho que o Lula vai se dissipar. Em pouco tempo, ninguém mais vai falar dele. Não vejo como ele retornar ao jogo. Vem mais oito ou nove processos por aí. A gente viu o que o ministro Luiz Fux falou (que só participarão das eleições candidatos com ficha limpa). Lula vai virar um não-assunto rapidamente.

Bolsonaro pode se tornar um não assunto também?
Talvez, porque a polarização entre os dois é o que fez a candidatura do Bolsonaro crescer. Acho que a grande atração do Bolsonaro é acomodar as frustrações da segurança pública. Do ponto de vista do eleitor massificado, o que atrai no Bolsonaro é a pauta com foco na segurança, mas isso tem uma parte boa e outra ruim. Essa história de falar que “bandido bom é bandido morto” é muito ruim porque despreza o processo legal. Bandido bom é bandido que primeiro é capturado, depois julgado e, se condenado, preso.

Mas algumas pesquisas mostram que os populistas têm chance.
Vejo Ciro e Bolsonaro, entre os que têm chance, como populistas mais perigosos, mas acho que os dois tendem a morrer pela boca.

Como assim?
Não se sabe qual o grau de populismo que pode ser aplicado caso sejam eleitos. O Brasil não é um país em que o novo presidente faz o que quer. Não é assim que funciona. O Brasil está em grande medida institucionalizado. Se o presidente for limitado o suficiente para implementar medidas populistas, vamos ter outro impeachment. O que quero dizer é que o grau de liberdade do eleito é muito menor do que as pessoas imaginam.

Muitos empresários estão se articulando para influenciar nas eleições. Na sua avaliação, qual deve ser o papel da classe empresarial?
Toda a pessoa que tem liderança deveria tentar de alguma forma participar do debate sobre política. Os empresários, depois do governo Fernando Henrique, se distanciaram e delegaram 100% da política para os políticos. Não foram só os empresários, mas os líderes religiosos, comunitários, intelectuais também tiraram o pé. Agora acho que é a hora de voltar.

Por que os empresários saíram da política? Eles não devem ter uma voz ativa na sociedade?
Eles saíram porque acharam que a pauta liberalizante do Fernando Henrique Cardoso, e que o Lula manteve no seu governo, era suficiente. E acharam que o Brasil estava num caminho muito institucionalizado, indo bem, e não precisavam participar. Aí foram surpreendidos pelo governo de Dilma Rousseff, que foi destrutivo para os empresários e para a população. Com os estragos do governo Dilma, perceberam que era hora de se envolver mais.

Como o senhor vai se posicionar na eleição deste ano?
Como líder de ideias liberais, acho que tenho que contribuir com uma pauta específica. Passei dez anos da minha vida fazendo torre de marfim. Ideia pura, utopia liberal, coisas que não parecem práticas. Mas chegou um momento de transformar isso em algo efetivo, aproveitando que há agora um eco para as ideias liberais.

Qual será a sua atuação efetiva? O senhor vai se envolver com alguma candidatura?
Meu papel, não como líder, mas como cidadão, é colocar uma pauta de reforma do Estado e focar no que entendo melhor, até por afinidade genética, que é a desburocratização. O que a gente poderia fazer de simplificação burocrática no Brasil, redução de papelada, procedimentos, desregulamentação. A pauta de desburocratização é um assunto para o qual vou me dedicar com afinco.

Mas essa pauta tem uma linha política, partidária?
A pauta é multipartidária. É claro que alguém da esquerda não vai adotar, é difícil. A minha missão é ajudar a mudar o Brasil. A desburocratização tem uma grande vantagem: ela não tira receita. Pelo contrário, tende a criar receitas. Não estou falando só em reduzir, mas em criar mais oportunidade de negócios para o país.

O senhor considera que o momento é propício para privatizações? Esse tema costuma despertar polêmica nas campanhas e muitos candidatos que se dizem liberais acabam desistindo dele com receio do prejuízo eleitoral.
Está propício do lado da política, sem dúvida, e por necessidade. Existe uma pressão orçamentária que não é brincadeira. Entre diminuir um buraco de uma empresa pública e ainda por cima arrecadar, os políticos vão optar pelo óbvio.

É o caso da Eletrobrás?
É o caso da Eletrobrás, Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Correios. Este não sei nem se é viável ainda. Não se sabe o que vai acontecer com os Correios, R$ 2 bilhões de prejuízo anual em três, quatro anos é uma loucura. Então, está viável do lado da política e do lado da sociedade, também. Estamos vendo as pessoas mais liberais por algum motivo. As ideias estão em curso.

Muitos empresários têm falado em um candidato de centro capaz de aglutinar apoios.
Quando eles falam em candidato de centro estão falando de Alckmin. Agora, quando se fala em candidato liberal, estamos falando em Flávio Rocha e João Amoêdo, do Novo.

O senhor acha que a reforma da Previdência será aprovada?
O presidente Temer tem muito mais habilidade do que a gente imagina. Eu desconfio que a chance de a reforma passar agora, até o fim de fevereiro, é maior do que estão dizendo. O Temer é hábil, os caras que estão com ele são bons de negociar nos bastidores, de atender parlamentares. Em uma votação desse tipo, isso é fundamental.

O projeto que está na Câmara é o ideal para o Brasil?
Está longe do ideal, mas há uma melhora. Acho que a situação atual da Previdência é calamitosa. É melhor um passinho do que nada. O ideal seria um regime de capitalização com regra de transição para acomodar o passivo que ficou para trás. Por que não aproveitar o período de eleição, sentar na mesa e reconhecer o problema e resolvê-lo? Do jeito que está sendo feito, a cada quatro anos teremos que fazer uma nova reforma.

A Previdência é a mais urgente, mas ainda há as reformas política, fiscal e tributária, que vão ficar para o próximo presidente. Qual será a dificuldade para fazer as outras reformas?
Não acho que o Brasil tenha estômago para passar grandes reformas no estilo da Previdência e outros temas. Não dá para parir um negócio desses todos os anos. Veja a reforma fiscal. Há trinta anos se fala e nunca saiu nada, porque existe um jogo de balanceamento de interesses. Ninguém quer perder e, no final, todos querem ganhar. Esse tipo de reforma abrangente não passa. Tem que ser reforminhas pontuais e contínuas. Nesse sentido, seja qual for o presidente eleito, não vai ter grandes dificuldades de fazer, até porque o presidencialismo de coalizão leva para isso mesmo.

O senhor acha que o governo Temer está cumprindo o seu papel?
Dada a sua baixa popularidade, de como ele subiu ao poder, estou surpreso por ter aprovado o teto dos gastos e ter feito a reforma trabalhista, que está destravando uma enormidade de situações. Foi um milagre o que ele fez. E ele tem ainda a chance de aprovar a Previdência. É surpreendente.

O fato de o Estado ser tão pesado atrapalha os planos das empresas?
Totalmente. É muito difícil trabalhar com a asfixia burocrática e a carga tributária do governo. O Brasil vem caindo em todos rankings que medem os índices de liberdade econômica. Burocracia, tempo de abrir empresas, abertura comercial, carga tributária. Estamos em 150º lugar, muito perto Venezuela. A intromissão do Estado destrói o empresário brasileiro, mesmo aqueles que defendem uma economia mais fechada.

O senhor poderia dar um exemplo concreto?
O empresário brasileiro faz milagres, porque compra insumos em geral 50% mais caros que os concorrentes. Sem contar a mão de obra, que dobra o custo. Como vamos ser competitivos se estamos gastando duas ou três vezes mais o que os concorrentes pagam para produzir?


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