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Estado de Minas PESQUISA COMPROMETIDA

Embrapa enfrenta sua maior crise em 45 anos

Instituição tem seu orçamento ameaçado por corte de mais de 20% este ano


postado em 21/01/2018 01:00 / atualizado em 21/01/2018 07:53

(foto: Embrapa/Divulgação)
(foto: Embrapa/Divulgação)

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) enfrenta uma crise política, orçamentária e científica sem precedentes em seus quase 45 anos de história, a serem completados em abril. Maior instituição pública de pesquisa do país e responsável pela tropicalização de culturas como a soja, a Embrapa tem seu orçamento de R$ 3,5 bilhões ameaçado por corte estimado em mais de 20% este ano.

Cerca de 85% do orçamento é consumido com pagamento de salários e benefícios a 9,6 mil funcionários. As despesas com pesquisa (R$ 66,8 milhões) representaram 2% dos gastos da estatal em 2017. O valor é o menor desde 2010 e está 31% abaixo dos R$ 96,9 milhões investidos na área em 2016. Os contingenciamentos promovidos pelo governo federal, segundo a Embrapa, explicam a queda.

Recentemente, a estatal passou a ser criticada internamente por pesquisadores e até pelo ministro da Agricultura, Blairo Maggi. Ele costuma dizer que a Embrapa “vive dos louros do passado”. A crise interna se tornou pública no início do mês, no artigo “Por favor, Embrapa: acorde!”, do sociólogo rural Zander Navarro. O texto provocou a demissão de Navarro, pesquisador da Embrapa.

A saída para a crise também é polêmica e passa por uma reestruturação completa na empresa. Estão previstas desde medidas simples, como a redução de linhas de ônibus destinadas ao transporte de funcionários em sua sede, em Brasília, às mais radicais, como o fim de unidades, redução de centros de pesquisas e um Programa de Desligamento Incentivado (PDI) para reduzir em até 20% gastos com pessoal.

Com o PDI, a Embrapa pretende reduzir a folha de pagamento, mas manter o número de funcionários. A ideia é trocar empregados com altos salários que aderirem ao programa por funcionários contratados por concursos futuros e vencimentos mais baixos.

Algumas mudanças estruturais porpostas já começaram. As 15 unidades centrais foram transformadas em cinco secretarias. Os 46 centros de pesquisas espalhados pelo Brasil foram reduzidos para 42. A unidade de algodão, em Campina Grande (PB), está entre as que devem ser fechadas.

SUBSIDIÁRIA

Paralelamente, um projeto de lei para a criação da EmbrapaTec está na Câmara dos Deputados desde 2015. A proposta prevê a criação de uma subsidiária privada da Embrapa para operar no mercado de inovação, facilitar parcerias em pesquisas e até sociedades com outras empresas. O projeto enfrentou resistência no Legislativo e só começou a tramitação em comissões no fim do ano passado.

Maurício Antônio Lopes, presidente da Embrapa, rebate críticas à sua gestão e diz que a instituição está aberta ao diálogo(foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr )
Maurício Antônio Lopes, presidente da Embrapa, rebate críticas à sua gestão e diz que a instituição está aberta ao diálogo (foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr )
No cargo desde 2012, Maurício Antônio Lopes, o mais longevo presidente da Embrapa, defende as mudanças idealizadas no seu mandato. Ele garante que “a grande maioria dos pesquisadores foi consultada”, em comunidades virtuais da companhia e em videoconferências. “É uma falácia dizer que a Embrapa não é aberta ao diálogo”, disse ele, rebatendo as críticas à sua gestão. “São críticas da era da transparência radical e das mídias sociais. É ótima essa transparência, desde que não coloque a instituição no caos.”

Para ele, o comprometimento acima de 80% do orçamento com a folha de pagamento não pode ser tratado como um custo. “Não podemos cair no discurso de que salário em instituição de ciência é custo. O principal pilar (da Embrapa) é o cérebro do pesquisador e temos de desmistificar isso.”

O Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Instituições de Pesquisa Agropecuária e Florestal (Sinpaf) rebate Lopes. Edson Somensi, vice-presidente da entidade, diz que não há debate com os servidores da estatal.

Entre os pesquisadores da Embrapa, o clima é de medo com possíveis represálias. Sem querer se identificar, muitos deles comparam a Embrapa a universidades públicas. “A Embrapa não demanda pesquisadores; os pesquisadores têm suas próprias demandas. Isso é para a universidade, e não pode ocorrer em uma empresa que precisa dar resultados”, disse um dos pesquisadores, que participou da fundação da Embrapa. “A crise é brutal.”

A diretoria prega que a reforma na estatal desenhará a Embrapa do futuro, com foco em inovação e pesquisas em áreas nas quais grandes companhias não atuam.


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