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Estado de Minas

"O bitcoin não é e nunca será uma bolha", diz André Montenegro, herdeiro do Ibope

Para empresário, polêmicas à parte, moedas virtuais são o futuro da economia mundial


18/01/2018 12:00 - atualizado 18/01/2018 12:24

'Posso dizer com absoluta convicção que o varejo mundial, aos poucos, passará a aceitar bitcoin como forma de pagamento'
"Posso dizer com absoluta convicção que o varejo mundial, aos poucos, passará a aceitar bitcoin como forma de pagamento" (foto: Karen Bleier/AFP - 29/11/17)

'Posso dizer com absoluta convicção que o varejo mundial, aos poucos, passará a aceitar bitcoin como forma de pagamento'
"Posso dizer com absoluta convicção que o varejo mundial, aos poucos, passará a aceitar bitcoin como forma de pagamento"
São Paulo – Filho de Carlos Augusto Montenegro, que presidiu o Ibope por 42 anos, Carlos André Montenegro diz que nasceu para empreender, a exemplo do pai e do avô, fundador da primeira empresa de pesquisas do país. Até os 20 anos, Carlos André alimentava o sonho de ser jogador de futebol e DJ de casas noturnas no Rio de Janeiro. Chegou a jogar por quatro anos nos juniores do Botafogo, mas a carreira de atleta não vingou.

“Joguei no Maracanã e fiz até gol. Quando era pequeno, meu pai ameaçava não pagar a mesada se eu não torcesse pelo Botafogo. Hoje, preciso tomar remédio para me acalmar se tem jogo importante”, diverte-se. Quando a internet ainda engatinhava, no final dos anos 90, teve a ideia de criar a primeira empresa de e-commerce de perfumes e cosméticos do país. Largou tudo que fazia, inclusive a faculdade de administração, emprestou do pai US$ 15 mil e fundou a Sacks numa sala de 12 metros quadrados no Rio de Janeiro.

Em pouco tempo, a empresa se tornou o maior site de venda de perfumes da América Latina. O sucesso foi tanto que, 10 anos depois, vendeu o negócio para o grupo Louis Vuitton, maior empresa de cosméticos do mundo, por R$ 285 milhões. Depois, vieram o Ibope, empresa da família, onde tinha assento no Board, a startup Farm, um nascedouro de empresas de tecnologia, e a Bitcoin Trade, uma das pioneiras entre as corretoras de criptomoedas do país. Foi também um dos responsáveis pela negociação que resultou na venda do Ibope para o grupo de mídia britânico WPP, em 2014.

Atualmente, mora em Miami, nos Estados Unidos, com a mulher e os dois filhos, de onde toca, junto com o sócio, a Bitcoin Trade. Na entrevista a seguir, ele diz por que acha que as moedas virtuais são o futuro da economia mundial e revela as razões que o levaram a investir em um negócio que desperta polêmica mundo afora.


Os últimos dias têm sido de muita agitação no mercado das criptomoedas. A Coreia do Sul anunciou que pode acabar com as corretoras no país. Alguns economistas dizem que o bitcoin é uma bolha prestes a explodir. Isso o preocupa?
A tecnologia por trás do bitcoin é ultradisruptiva e a minha opinião é de que ela chegou para ficar. Em relação ao bitcoin especificamente, não acredito que seja uma bolha. A moeda tem algumas características que me fazem crer que ela não é, e nunca será, uma bolha.

Que características são essas?

A primeira delas é que o bitcoin, assim como o ouro, serve como reserva de valor. Apesar de ainda ser bastante volátil, você consegue facilmente transformar bitcoin em moeda fiduciária. O bitcoin também serve para fazer remessas internacionais de uma maneira muito mais rápida e sem burocracia, com taxas de transferência infinitamente inferiores às taxas praticadas no mercado tradicional. Em terceiro lugar, posso dizer com absoluta convicção que o varejo mundial, aos poucos, passará a aceitar bitcoin como forma de pagamento.

Em quanto tempo isso acontecerá?
Isso deve se massificar nos próximos cinco anos e os motivos são simples. As transações com bitcoins, uma vez executadas, não podem ser desfeitas, eliminando um grande problema com o qual o varejo sofre desde sempre. Estima-se que o varejo mundial perca cerca de 2% do seu faturamento com transações fraudulentas. Além disso, as transferências via bitcoin podem custar uma fração dos valores cobrados por operadoras de cartão de crédito. Para o varejista, são dois ganhos: taxas mais baixas e zero risco de aprovar uma transação fraudulenta.

Na semana passada, a Comissão de Valores Mobiliários proibiu os gestores e administradores de fundos de investirem em moedas virtuais? É outro agravante, certo?

Vejo com naturalidade essa decisão da CVM. Quando o mercado estiver devidamente regulado, ela poderá rever essa decisão. Leio bastante sobre criptomoedas e uma das frases de que mais gosto é do gênio Bill Gates. Diz ele: ‘Falar de moedas digitais nos dias atuais é o mesmo que falar da internet em 1994. Todos sabem do potencial, mas ninguém sabe exatamente até onde essa revolução pode chegar.’ Estamos falando de um assunto sério, que já movimenta bilhões de dólares por dia.

As moedas virtuais têm sido acusadas de contribuir para a lavagem de dinheiro...
O mundo, desde que é mundo, tenta criar mecanismos de proteção e combate à evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Esses são assuntos que sempre estiveram na pauta e as moedas digitais trazem ainda mais complexidade para o tema. Dito isso, acho que os países de uma maneira geral ainda vão criar as suas regulamentações. Com regras claras e estabelecidas, veremos mais casos como o do CME Group, dono da bolsa de Chicago, que começou a negociar mercado futuro de criptomoedas e até mesmo a Nasdaq, que já sinalizou que planeja introduzir o bitcoin em sua bolsa.

Você investe seu dinheiro em criptomoedas?
Invisto em algumas criptomoedas, pois acredito nas suas tecnologias e suas finalidades. Investir em criptomoedas para mim é algo natural, e também mais uma maneira de diversificar o meu portfólio de investimentos. Hoje possuo aplicações em renda fixa, fundos multimercados, ações, LCIs e também criptomoedas. Sou disciplinado e criei uma regra que serve para mim. Meus investimentos em criptomoedas não passarão atualmente de 10% do meu patrimônio global, pois ainda são muito voláteis e algumas moedas podem morrer ao longo dessa nova revolução.


Além de bitcoin, que outras moedas virtuais você tem em sua carteira?
As que mais gosto são ethereum, monero e iota, por diferentes razões.

Em algum momento as moedas virtuais vão superar as tradicionais?  
Acredito que as criptomoedas terão um papel importante no futuro. Acho que os modelos de pagamento e transferência de valores vão coexistir. Minha opinião é que o cartão de crédito continuará existindo e o dinheiro em papel também, assim como o cheque. O que pode acontecer é que as pessoas comecem a usar cada vez menos um ou outro, como claramente acontece com o cheque hoje. Lembro-me dos meus pais na década de 90, quando tudo era pago com cheque. Hoje isso é literalmente coisa do passado.

O mercado brasileiro de criptomoedas tem potencial e estrutura para avançar?
Hoje nós estamos preparados para movimentar bilhões por dia na corretora. Tenho acompanhado os problemas que nossos concorrentes estão enfrentando. Infelizmente, e digo isso de coração aberto, porque os problemas deles afetam o mercado brasileiro de uma maneira geral. Eles estão sofrendo com o que a gente chama “dor do crescimento”. De repente, o assunto bitcoin se tornou uma febre mundial e nossos concorrentes não estavam preparados para atender à enorme demanda.

A falta de legislação para esse mercado não é um risco enorme para quem quer aplicar nessas moedas?
Não existe outra solução a não ser regular.

Você criou a Bitcoin Trade em um contexto de crise no Brasil. Quais são as perspectivas da corretora para 2018?

Muitos dos planos nós não divulgamos. Alguns que podemos divulgar são: inclusão de novas moedas, incluir gráficos e ferramentas de negociação e expandir para outros países da América Latina. O Brasil é um país ultraconectado. Somos um dos mais ativos nas redes sociais, um dos líderes em engajamento no Facebook. Com as criptomoedas não está sendo diferente. Meu sonho seria fechar o ano com 1 milhão de clientes ativos na Bitcoin Trade. É um sonho audacioso, mas dá para transformá-lo em realidade. Basta arregaçar as mangas e trabalhar.

O Brasil saiu da crise?
Tenho um pouco de receio em relação ao futuro do país. Tivemos duas excelentes oportunidades para crescer como nação: Copa do Mundo e Olimpíadas. Infelizmente, não aproveitamos as duas oportunidades. O que vimos no final foi uma corrupção desenfreada. Este é um ano importante, tem eleição para presidente. Precisamos começar a mudar o país nas urnas e nas nossas cabeças. A mentalidade tem que mudar. Só assim conseguiremos evoluir como nação.

Quais são os maiores entraves para empreender no Brasil?
Em 2018, completarei 20 anos como empreendedor. Sempre empreendi no Brasil. De uma maneira geral, o que mais me incomoda é que as leis, as regras do jogo, mudam constantemente. Para piorar, nem sempre são claras e muitas vezes podem causar dupla interpretação. Sonho todos os dias com regras mais claras e que não mudem a toda hora. Somente com um ambiente transparente e propício é que conseguiremos atrair mais investimentos para o país. Hoje moro nos Estados Unidos e vejo que o Brasil está começando a sair da pauta dos investidores mundiais. Isso me deixa entristecido e preocupado.

Que análise os investidores americanos fazem do Brasil?
As impressões são múltiplas. Uns adoram, acham que existe um mercado doméstico potencial enorme, e querem fazer negócios com o país. Outros acham muito burocrático, não entendem as leis, a língua e querem distância.

O Brasil tem jeito?
Sou otimista por natureza. Meu país tem uma série de problemas e isso me dá mais força para continuar trabalhando duro. Principalmente porque acredito fielmente que quem pode de fato mudar os rumos de um país são os empreendedores. Veja o exemplo dos Estados Unidos. Quem criou a maior revolução dos últimos tempos foram os caras do Google, Facebook, Amazon, Uber… Esses caras estão mudando o mundo. E precisamos tentar fazer o mesmo em nossas terras tropicais.

 


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