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Estado de Minas

Positivo, fabricante de computadores traça estratégia anticrise

Maior fabricante de computadores da América Latina, empresa investe em equipamentos de saúde e internacionaliza os negócios para enfrentar o avanço de tablets e smartphones


postado em 26/12/2017 12:00 / atualizado em 26/12/2017 08:05

Unidade em Manaus: embora ainda invista pesado nos computadores, a Positivo vem diversificando seus mercados de atuação(foto: Divulgação/Positivo)
Unidade em Manaus: embora ainda invista pesado nos computadores, a Positivo vem diversificando seus mercados de atuação (foto: Divulgação/Positivo)

São Paulo – Toda vez que alguém questiona o futuro do mercado de computadores diante da popularização dos dispositivos móveis, o presidente do Positivo Tecnologia, o paranaense Hélio Bruck Rotenberg, é objetivo na resposta.

“O dia em que nossos dedos encolherem, os computadores serão substituídos por smartphones e tablets”, diz o executivo, replicando uma frase famosa de Jean Paul Jacob, ex-executivo da IBM. A declaração de Rotenberg se baseia no desempenho da empresa que fundou, em 1989. A Positivo resistiu bravamente à crise da economia e às mudanças dos hábitos de consumo dos brasileiros.

Com faturamento de R$ 1,5 bilhão no acumulado de janeiro a setembro deste ano, as vendas estão equivalentes ao mesmo período de 2017, um feito e tanto ao levar em conta que o PIB encolheu 8,2% em três anos.

A receita total da companhia em 2016, somados os 12 meses do ano, chegou a R$ 1,75 bilhão. “Acredito que 2017 será melhor do que 2016, mas isso não significa que será um ano sensacional”, afirma Rotenberg. “O mais importante, e isso alimenta o nosso otimismo, é ver que a situação está melhorando gradualmente para toda a economia.”


A aposta de que os computadores não se tornarão obsoletos na disputa com os novos equipamentos não significa que Rotenberg esteja ignorando os riscos.

Ao contrário. Desde 2014, a Positivo vem diversificando seus mercados de atuação. Naquele ano, como forma de reagir à queda nas vendas totais de PCs no Brasil, que despencaram de 15,5 milhões de unidades, em 2012, para 4,5 milhões, em 2016, a empresa investiu pesado no lançamento de sua marca de smartphone, o Quantum.

Não à toa, a Positivo mais que dobrou sua fatia no mercado brasileiro de celulares. Em 2015, tinha um share de 2,3%. Em 2016, fechou com 4,8% – incluindo os features phones, aparelhos mais simples e com mecanismos limitados para acesso à internet, por exemplo.

“Graças a essa diversificação, a Positivo conseguiu equilibrar suas contas e reforçar sua credibilidade em um mercado dominado por pesos-pesados globais, como Apple e Samsung”, diz o consultor de tecnologia Breno Zani, da ESPM.

As mudanças de rumo não pararam por aí. No ano passado, a Positivo comprou 50% da startup Hi Technologies. Com isso, lançou o Hilab, um aparelho portátil que funciona como laboratório ambulante.

Com duas gotas de sangue misturadas em uma cápsula com um reagente químico é possível saber em instantes o resultado de exames como HIV, dengue, zika, hepatite, colesterol e glicemia, entre outros. “Graças à sinergia com a Positivo, temos o primeiro aparelho do mundo a oferecer análises com essa rapidez”, diz Marcus Figueredo, CEO da Hi Technologies.

Não bastassem os lançamentos de produtos e a estreia em novos mercados, a metamorfose da Positivo ainda inclui mudança de nome. Em abril deste ano, passou de Positivo Informática para Positivo Tecnologia, seguindo os passos da Apple, que resolveu tirar a palavra Computer de seu nome, em 2007, para se chamar apenas Apple Inc.

PELO MUNDO Outro pilar da cartilha anticrise da Positivo, segundo Rotenberg, foi a internacionalização dos negócios. Além de fábricas em Manaus e na Argentina, a empresa curitibana inaugurou operações próprias em Kigali (Ruanda), Nairóbi (Quênia) e em Zâmbia. Dois centros de pesquisa e desenvolvimento de produtos foram abertos em Xangai, na China, e Taipei, capital de Taiwan.

“Estar em vários mercados nos ajuda a equilibrar as contas quando há uma queda em determinado país”, afirma o presidente da Positivo. “O mercado africano nos surpreendeu positivamente, já que a utilização de computadores, tablets e smartphones ainda é bem menor do que no restante do mundo.”

Nos próximos anos, segundo Rotenberg, a Positivo continuará trilhando o caminho da diversificação, mas sem deixar de lado computadores e notebooks. Isso porque a superação da crise tende a estimular as empresas a voltar a investir em seus equipamentos de trabalho, o que deixou de ser feito nos anos mais agudos de instabilidade econômica.

A Positivo detém os diretos da marca Vaio no Brasil, que alguns anos atrás era uma divisão da poderosa Sony. A linha é voltada aos consumidores das classes A e B, enquanto a marca Positivo é segmentada à classe C.

“É verdade que o consumo de conteúdo está migrando para os dispositivos que cabem na bolsa ou no bolso, mas a utilização corporativa continua firme e forte no segmento de computadores”, diz o presidente.

Apesar da força de seu nome no universo da tecnologia, a Positivo começou no mercado da educação. Em 1972, nasceu como um curso pré-vestibular e uma gráfica, a Posigraf.

Nos anos seguintes, avançou para os ensinos médio e fundamental, além de lançar um sistema de ensino com apostilas e uma faculdade em Curitiba.

Apenas 17 anos depois da inauguração, Rotenberg criou a Positivo Informática. Naquela época, o mercado brasileiro era extremamente fechado a importações de componentes de tecnologia, o que dificultava o aprimoramento dos métodos de ensino em sala de aula.

Foi aí que surgiu o curso de informática das Faculdades Positivo, que, pouco depois, passou a montar computadores para o setor educacional. Com o sucesso da iniciativa, os equipamentos foram levados para todo o mercado.

Entrevista

Hélio Bruck Rotenberg
Presidente da Positivo Tecnologia


(foto: Guilherme Pupo/Divulgação)
(foto: Guilherme Pupo/Divulgação)

A Positivo vai sentir saudade de 2017?

O ano de 2017 foi muito melhor do que 2016, mas não quer dizer que foi bom. Tivemos uma crise muito forte no mercado de computadores entre 2014, 2015 e 2016. No primeiro semestre deste ano, as vendas voltaram a crescer. No segundo semestre, não tínhamos computadores para entregar. Faltou produto, algo que não acontecia há muito tempo. Esse ano o mercado já cresceu mais de 10% sobre o ano anterior. Se compararmos o segundo semestre de 2017 com o segundo semestre de 2016, a expansão já passa de 15%.

O senhor superestimou a crise?


A gente não imaginava que o mercado ia crescer como cresceu. Com a crise arrefecendo, com a expectativa de melhora da economia, as pessoas já passam a trocar o computador velhinho. A família que precisa do primeiro computador providencia um. O fato é que o mercado reagiu mais rápido do que todos esperavam. Assim, os fabricantes não tinham componentes suficientes para suprir essa demanda.

A tendência não é desaparecer, ou diminuir muito, o mercado de computadores pessoais?

Não compartilho dessa visão. O mercado corporativo é todo feito de computadores. O mercado doméstico, para determinadas questões, principalmente para a produção de conteúdo, é muito melhor do que um smartphone.

Qual foi a cartilha da Positivo na crise?


Adaptamos a empresa para o tamanho do mercado brasileiro. Internacionalizamos. Estamos na Argentina, no Uruguai, no Chile, no Peru. Temos também fábrica na África, com produção em Ruanda e Quênia. Ou seja, aproveitamos o período de crise para ir a outros mercados. Diversificamos. Tentamos compensar a queda de receita com computadores lançando outras iniciativas. Tanto é que nosso faturamento não caiu.

Como será 2018?


Estou otimista. Não voltaremos aos patamares de 2013, antes da crise. Naquele ano, o mercado vendeu 15 milhões de computadores. Em 2016, foram 5 milhões de unidades. Neste ano, devemos fechar em torno de 5,5 milhões. Mas o fato de ter um crescimento no horizonte é um alento.

Qual a sua análise do cenário macroeconômico?


Acho que juros em queda é algo sensacional. É tudo o que o empresário quer. Nós trabalhamos com capital de giro porque somos o país mais distante dos grandes centros produtores de componentes, como Coreia e Taiwan. Então, temos um ciclo de caixa muito longo no Brasil. Quanto mais se vende, mais capital de giro a gente precisa. Com uma Selic de 7%, é outro mundo. Agora a gente passou a ter um país decente para fazer negócio.

O que esperar da economia em ano eleitoral?


A indefinição do cenário é sempre um receio. Vimos nas eleições passadas que o mercado precifica essa incerteza. Há uma volatilidade muito grande, dependendo do resultado das pesquisas eleitorais. Isso é um temor, mas a gente torce para que seja um processo democrático tranquilo. Não podemos ter malucos na condução da economia brasileira.


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