
Na contramão do ajuste que as empresas têm feito para enfrentar a crise da economia brasileira, a MRV Engenharia, maior incorporadora brasileira do segmento de imóveis de baixa renda, encerrou o primeiro semestre do ano com resultados inéditos em sua história dos indicadores de lançamentos de imóveis e vendas contratadas.
“Olhando para frente, queremos fazer mais lançamentos do que no primeiro semestre e temos segurança de que a venda crescerá, por mais que haja mudança de regras e instabilidade no país. Acreditamos que o mercado voltado para a população de baixa renda tem muito a crescer”, afirma. A MRV lançou 16.381 unidades de janeiro a junho, número 16,3% superior ao do verificado no primeiro semestre do ano passado. O volume está avaliado em R$ 2,543 bilhões.
As vendas contratadas, por sua vez, somaram R$ 2,773 bilhões, avanço de 7,1% quando comparadas às do período de janeiro a junho de 2016. Dando partida às novas metas, a empresa informou que ter registrado um julho recorde de lançamentos, com 3.456 unidades, que significam volume de vendas de R$ 522 milhões.
“Começamos o terceiro trimestre já pisando no acelerador”, diz o presidente da MRV, seguro de que além de os planos de crescimento estarem centrados numa oferta menor frente à demanda na maioria das praças atendidas pela construtora no Brasil, surgiu no mês passado sinal importante de recuperação da economia e essencial ao mercado da construção civil.
O Ministério do Trabalho anunciou na quarta-feira saldo líquido de empregos em julho (mais contratações que demissões) de 35,9 mil vagas no Brasil. Convencido de que a pior fase da crise ficou para trás, Rafael Menin diz que a MRV se beneficia de uma demanda no segmento de moradias direcionadas à população de baixa renda com procura sempre maior que a oferta mesmo durante a fase recessiva da economia.
A resiliência desse mercado é vista em quase toda a área de atuação da companhia, que se estende por 148 cidades, e se junta a outro fator de ganho para a empresa, a baixa concorrência, de acordo com o executivo. “Nos próximos 10 anos, até 2027, nossos planos são de uma oferta de 500 mil moradias nessas 148 cidades”, afirma Rafael Menin. A companhia conta, ainda, com a característica de clientes em potencial que buscam o primeiro imóvel da família e conseguem encontrar prestações da casa própria em valores próximos aos do aluguel.
PLANEJAMENTO Os destaques do balanço do segundo trimestre, ainda na avaliação do presidente da MRV, estão ancorados no resultado do trabalho de preparação nos últimos três anos para o novo ciclo de expansão. O momento de expansão chega, inclusive, depois de a companhia ter adotado medidas aparentemente arriscadas, que levaram a aumento de despesas administrativas e financeiras. “Não puxamos o freio de mão durante a crise. Entendíamos que ela era passageira e fazia sentido continuar investindo em terrenos e na expansão geográfica da companhia”, observa Rafael Menin.
O volume de lançamentos cresceu no primeiro semestre estruturado sobre o banco de terrenos que a construtora ampliou nos últimos três anos. Considerando-se os imóveis residenciais e loteamento, a MRV encerrou o segundo trimestre com ativos de R$ 42,9 bilhões. Eles são suficientes, segundo Menin, para que a construtora suporte a expansão desejada durante os próximos seis anos.
A companhia tem 46 mil alvarás, sendo 16 mil com registro de incorporação. Em geral, são necessários três anos, em média, para a obtenção do alvará.
Ainda quanto ao cenário otimista desenhado pela empresa no ano que vem, período de eleições para presidente, o presidente da MRV diz esperar a “pacificação da política no país” e reconhece que a crise em Brasília e a instabilidade no Palácio do Planalto afetam toda a economia.
Empresas veem reação do negócio
A indústria mineira da construção civil reagiu em junho e voltou a mostrar dinamismo em seus indicadores, embora ainda tenha se mantido no campo negativo, de acordo com a pesquisa Sondagem da Indústria da Construção, realizada pelo sindicato do setor, Sinduscon-MG, e a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
Com base na consulta feita junto a 49 empresas de 3 a 12 do mês passado, o índice da atividade alcançou 40,6 pontos em junho, tendo recuperado parte da perda de 8,4 pontos observada na passagem de abril (47,7 pontos) para maio (39,3 pontos).
Ainda assim, como os indicadores variam da pontuação zero a 100, os resultados abaixo da linha divisória de 50 pontos significam queda e nível de insatisfação. Contudo, a sondagem mostrou aumento de 7,4 pontos no primeiro semestre e de 3,6 pontos em junho, frente a idêntico mês do ano passado.
Outro dado positivo foi observado no índice de evolução do emprego, que cresceu 1,2 ponto de maio, quando estava em 39,5 pontos, para junho, atingindo 40,7 pontos.
“Ainda que aponte recuo na força de trabalho do setor, ao permanecer abaixo da linha dos 50 pontos, o índice acumulou elevação de 9,1 pontos nos primeiros seis meses do ano e foi 3,3 pontos superior ao de junho de 2016”, observou o economista e coordenador do Sinduscon-MG, Daniel Furletti.
A análise do indicador de nível e atividade da construção em relação ao usual para o mês foi de 28,1 pontos em junho, o que representou queda de 1,4 ponto frente a maio (29,5 pontos). Apesar do recuo, o resultado foi o melhor para junho dos últimos três anos.
Reação pode ser percebida, também, nos índices de satisfação das empresas consultadas quanto à margem de lucro operacional e à sua situação financeira no segundo trimestre do ano, em relação ao período de janeiro a março último. Esses indicadores cresceram, respectivamente, 2,8 e 4,6 pontos, a despeito de não terem alcançado os 50 pontos.
Em relação às expectativas das empresas referente a julho, houve queda de 4,2 pontos ante junho, mês em que o índice ficou em 42,9 pontos, mas os empresários estão menos pessimistas na comparação com julho do ano passado.
Nessa base, houve, agora, crescimento de 2,8 pontos. Questionados sobre os problemas enfrentados pela atividade no segundo trimestre, 51% dos construtores disseram que a maior dificuldade está na demanda interna insuficiente.
Carga tributária alta e falta de capital de giro empataram no segundo lugar. O indicador que mede as perspectivas de investimentos somou 21,1 pontos em julho, representando recuo de 8,4 pontos ante junho (29,5 pontos).
