No esforço para manter a economia longe do terremoto político que atingiu Brasília há uma semana, com as delações dos irmãos Wesley e Joesley Batista, donos da JBS, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles sugeriu ontem que a política econômica e as reformas serão mantidas independentemente dos desdobramentos da crise provocada pelas denúncias contra o presidente Michel Temer. O ministro ressaltou que tem notado preocupações dos agentes sobre os rumos da política econômica em meio à recente crise política, mas disse acreditar que existe consenso no país hoje de que esta política econômica de controle do gasto público e da inflação do governo Temer vai continuar, dando a entender que isso vai ocorrer mesmo se Temer vier a ser afastado do cargo.
A afirmação de Meirelles arrancou aplausos do auditório lotado no seminário da Associação Brasileira da Indústria de Construção de Base (Abdib), em São Paulo. Este foi o primeiro evento público do ministro desde o início da crise. Ironicamente, um dos patrocinadores do evento é a construtora Odebrecht, investigada na Lava-jato por envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras. “Estamos engajados nas reformas e vamos continuar”, afirmou Meirelles. “O Brasil viveu momentos diferentes e circunstâncias políticas diferentes no passado recente”, disse Meirelles, logo no início de sua apresentação.
O ministro citou a recessão de 2015 e 2016, causada por decisões erradas de política econômica do governo anterior. “Estamos saindo da crise”, disse ele, ressaltando que o Brasil hoje tem condições diferentes das que tinha há um ano. Entre as melhoras do governo de Michel Temer, Meirelles citou a medida que estabelece um teto para a alta dos gastos públicos. “No Brasil, a crise política gera uma crise econômica quando gera incerteza sobre a orientação da política econômica no futuro”, disse Meirelles. Com isso, o ministro mostra que, nesse momento, o governo aposta todas as fichas na estabilidade econômica como tábua de salvação para o presidente Temer.
Meirelles ressaltou que o crescimento voltou no primeiro trimestre e a inflação está caindo, incluindo a de serviços. Essa queda da inflação deve aumentar o poder de compra dos brasileiros, disse ele, ressaltando que famílias e empresas se focaram nos últimos meses em reduzir seus passivos. “A retomada do crescimento é lenta porque as pessoas estão pagando dívidas.” O poder de compra, de acordo com o ministro, subiu 3% depois de muito tempo de queda. O ministro praticamente repetiu pontos do primeiro pronunciamento do presidente Temer, na quinta-feira, quando foram divulgados os áudios das conversas dele com Joesley Batista.
Tranquilizar empresários e o mercado financeiro é a tarefa recebida de Temer pelo ministro da Fazenda e pelo presidente do Banco Central, Illan Goldfajn. Na semana que vem a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) decidirá a nova taxa básica de juros (Selic), hoje em 12,25% ao ano. O anúncio será feito na próxima quarta-feira e Planalto torce para um corte de um ponto percentual, o que é possível diante da queda da inflação, confirmada ontem com a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Ampo – 15 (IPCA-15), de 0,24% em maio, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE. Em 12 meses o indicador, uma prévia da inflação oficial, está em 3,77%, abaixo da meta de 4,5% fixada pelo governo.
E a queda dos juros deve ser anunciada um dia antes de o IBGE divulgar o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre deste ano. A aposta é que a geração de riquezas do país tenha voltado a crescer depois de oito trimestres de queda, com a economia começando a sair da pior recessão da história do país. “O Brasil está construindo um caminho para um novo ciclo de crescimento”, afirmou ontem Meirelles, ressaltando que a última coisa que o país precisa agora é a economia ter problemas por causa de questões políticas. “Estou com uma agenda ativa e reuniões intensas”, comentou o ministro ao encerrar sua palestra, que durou cerca de 40 minutos “Vejo um compromisso do Congresso. Eu aposto no futuro do Brasil e estou trabalhando dia e noite nesta direção”, acrescentou.
Mercado
Os números favorecem o governo. Depois de desabar mais de 10% e ver acionado o circuit break e ter os negócios interrompidos na quinta-feira, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), fechou ontem em alta de 1,60%, se recuperando do tombo de 1,54% na segunda-feira, movimentação vista como dentro da normalidade do mercado. Já o dólar comercial fechou em queda de 0,21%, contado a R$ 3,27, ainda 4,24% acima dos R$ 3,137 registrados na quarta-feira passada, mas 3,51% abaixo dos R$ 3,389 registrados um dia depois do estouro do escândalo envolvendo Temer. Para evitar o estouro do dólar, o Banco Central anunciou, na quinta-feira, a venda de contratos cambiais equivalentes à venda futura de US$ 2 bilhões por dia, na sexta, segunda e terça-feira, num total de US$ 6 bilhões. O BC contou ainda com o fluxo de dólares no país, que ficou positivo na quinta e na sexta-feira. (Com agências)
MEMÓRIA
“É a economia, estúpido!”
A frase dita pelo marqueteiro de Bill Clinton, James Carveille, em 1992, se transformou em case de marketing e sinônimo das situações em que a situação econômica define o rumo da política. Em 1991, o presidente dos Estados Unidos, George Bush, venceu a Guerra do Golfo e resgatou a autoestima dos americanos após a dolorosa derrota no Vietnã. Assim, era o favorito absoluto nas eleições de 1992 ao enfrentar Clinton, o desconhecido governador de Arkansas. Carville, apostou que Bush não era invencível com o país em recessão e cunhou a frase. E Clinton venceu a eleição. Trocando em miúdos, uma economia fraca não salva um governo.