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Estado de Minas

Oferta de empregos favorece carteira assinada

Contratações retomadas em fevereiro favoreceram principalmente trabalhadores do setor de serviços, que buscavam oportunidade há até mais de um ano, com grande aperto financeiro


postado em 27/03/2017 06:00 / atualizado em 27/03/2017 07:53

Eliana Gregório da Silva, 51 anos, recém-contratada pelo consultório do dentista Ciro Carvalho(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Eliana Gregório da Silva, 51 anos, recém-contratada pelo consultório do dentista Ciro Carvalho (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)

Na esquina das ruas Tamoios e Curitiba, Eliana Gregório da Silva, de 51 anos, se destaca da multidão. “Dentista, dentista. Orçamento sem compromisso, dentista”, anuncia a quem atravessa o cruzamento conturbado do Centro de Belo Horizonte. Das 8h30 às 18h, ela repete a mesma frase e convida pedestres ao consultório do dentista Ciro Carvalho, bem perto dali. O trabalho é exaustivo, mas sorri à toa. “É muito ruim ficar sem trabalho e depender dos outros. A gente entra em depressão”, diz Eliana, que, depois de um ano sem trabalhar, conseguiu colocação com carteira assinada. A contratação de Eliana, assim como de 1,25 milhão de brasileiros, sinaliza uma trégua no desemprego.

Pela primeira vez desde abril de 2015, em fevereiro as contratações superaram as demissões no Brasil e o balanço de empregos formais fechou aquele mês com saldo positivo de 35.612 vagas, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Especialistas ouvidos pelo Estado de Minas consideram que o indicador positivo significa um “respiro” para a economia, mas ainda é pouco para indicar a saída da crise num país de 12,3 milhões de desempregados, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Ao lado da funcionária, o dentista Ciro Carvalho, de 28, explica que a contratação de Eliana tem a ver justamente com a crise que afetou o consultório. “Como o movimento está fraco, precisei contratá-la para fazer propaganda e aumentar o número de clientes”, explica. Assalariada, Eliana já saiu da casa da sogra, onde estava morando por um favor, e alugou casa. “Também vou fazer um acordo para pagar cartão e as contas atrasadas”, diz.

O Caged apontou 1.250.831 contratações no mês passado, ante 1.215.219 demissões. As melhores respostas o que se refere à diferença de admissões e dispensas vieram das áreas de prestação de serviços, que criaram 50 mil postos. A administração pública (8.280) e a agricultura (6.201) também mostraram bom fôlego. Atualmente, 38,3 milhões de trabalhadores contam com a carteira assinada. São Paulo foi o estado com o maior saldo de empregos em fevereiro, num total de 25.412 vagas, seguido de Santa Catarina (14.858), Rio Grande do Sul (10.602), Minas Gerais (9.025) e Goiás (6.849).

Elaine Barros, 34 anos, recém-contratada em loja de roupas infantis(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Elaine Barros, 34 anos, recém-contratada em loja de roupas infantis (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)

O professor de finanças da Uni-Horizontes, Paulo Vieira, concorda se tratar de um bom sinal, mas considera que o número deve ser analisado com cautela. “É um bom indício, só que tem que botar o pé no chão. Um dado não configura uma tendência. Ele sinalizada que a economia está dando um respiro, entretanto temos mais de 12 milhões de desempregados”, reforça.

Vieira ressalta que o nível de confiança dos empresários melhorou, mas só será possível falar de recuperação da economia dentro de alguns meses. “As pessoas estão voltando aos poucos a comprar, o nível de confiança dos empresários melhorou. O emprego é o último item que responde. Temos que esperar os números se confirmarem nos próximos três ou quatro meses”, afirma o professor, que também considera ser preciso aguardar eventuais efeitos de uma aprovação do projeto no Congresso que autoriza o trabalho terceirizado.

DURA DISPUTA Assim como Eliana, Pâmella Maira da Silveira, de 25 anos, está cheia de planos. A jovem estava desempregada desde outubro e a oportunidade de emprego chegou no fim de janeiro, quando conquistou vaga de assistente financeira na empresa World Study. Antes da contratação, ela foi entrevistada pelo menos seis vezes. “Tem muita gente procurando. Muitos dos meus colegas de faculdade estão desempregados”, conta Pâmella, que concluiu no fim do ano o curso de administração. Com sorriso no rosto, ela faz planos para o salário. “Quero fazer uma pós-graduação”, diz.

No caso de Elaine Barros, de 34, foram um ano e dois meses a procura de emprego. A saga encerrou 15 dias atrás, quando recebeu a ligação da loja de roupas infantis informando que a empresa precisava de uma vendedora. Apenas nesse estabelecimento, ela havia deixado currículo duas vezes. Como o marido também está desempregado, Elaine, mãe de três crianças, estava no vermelho. “Às vezes, conseguia fazer uma faxina ou então a Igreja ajudava”, conta. Com o primeiro salário, ela vai pôr a vida em dia. “Vou pagar as contas de água, luz, estão todas atrasadas. Tive também que cortar o telefone e quero ver se volto a ligar o aparelho, afirma.

Em pronunciamento após a divulgação dos resultados do Caged, o presidente Michel Temer comemorou os números. Ele atribuiu o resultado às medidas de corte de gastos públicos e citou a queda da inflação, a baixa dos juros, além da liberação dos saldos das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). “A confiança no Brasil está sendo recuperada. O caminho da responsabilidade começa a dar resultado”, disse.


As micro e pequenas empresas (MPEs) também registraram reação nas contratações em fevereiro. Levantamento do Sebrae Minas com base nos dados do Caged aponta que o saldo positivo nas empresas desse porte em Minas foi de 8.231 empregos.

O estado perdeu só para São Paulo, onde foram criados mais de 20 mil postos de trabalho. Em fevereiro, as MPEs contrataram 88.667 funcionários e demitiram 80.436. Médias e grandes empresas não conseguiram acompanhar o resultado e fecharam 282 vagas.

A confiança dos empresários na melhora da economia começa a abrir campo para admissões. Somente no restaurante Green Up, inaugurado este mês em Belo Horizonte, foram 14 vagas. “Só contratamos porque estamos acreditando no aquecimento. Nosso objetivo é testar um conceito de negócio em BH e, em seis meses, abrir a Green Up em outros locais”, reforça um dos sócios, Luiz Calfa.

Geisa Amize, de 24, foi um dos contratados pelo restaurante. Desde 2015, depois da formatura em design de interiores e sem interesse em atuar na área, ela vivia de “bicos”. “Estava fazendo eventos e trabalhos como free lancer, mas não estava achando nada fixo. Agora surgiu essa oportunidade e tinha essa vontade de construir uma carreira em gastronomia.”, reforça.

A analista da unidade de inteligência do Sebrae Minas Bárbara Castro, afirma que aos poucos, a economia vem dando alguns sinais. “Em relação ao mercado de trabalho, há um longo percurso a percorrer, pois temos saldo de fechamento de 20 mil vagas no acumulado de 12 meses”, afirma O setor de serviços concentrou as oportunidades de emprego, com balanço positivo de 4.568 oportunidades. O único setor a apresentar retração foi o da construção civil, que registrou perda de 43 vagas. As contratações se concentraram na Região Central do estado (2.337).

ANÁLISE DA NOTÍCIA

Longe de qualquer tendência

Marta Vieira

Chegar a alguma conclusão sobre os rumos do emprego e do desemprego com base nas vagas geradas além das demissões em fevereiro é jogar pouca luz numa economia mergulhada em nuvens de incerteza, especialmente carregadas pela crise política no país. Os dados que o IBGE deverá divulgar nesta sexta-feira referentes ao trabalho e à renda mediante apuração da PNAD Contínua devem gerar novas pistas sobre quem, de fato, conseguiu voltar a trabalhar com registro, qual perfil de idade, escolaridade e experiência anterior. A reportagem do EM mostrou que foram beneficiados as mulheres e jovens, dois dos segmentos mais afetados pelo desemprego elevado no Brasil. Outra boa notícia é que em Minas a indústria da transformação, atividade de peso no estado, contratou mais do que demitiu, um valor importante, já que este é, talvez, o ramo de empresas que mais mantêm empregos formais, portanto, os de melhor qualidade.


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