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Estado de Minas

Volta à ativa acirra disputa entre aposentados e jovens sem experiência

Num momento de baixa oferta de vagas, candidatos em idade madura se oferecem nas empresas, muitas vezes concorrendo às admissões no mercado formal com jovens que não têm experiência


postado em 01/05/2016 06:00 / atualizado em 01/05/2016 08:29

Aposentado há 13 anos, Silas Lima não pôde realizar o desejo de curtir vida tranquila e não pensa em parar de trabalhar, diante da perda do poder de compra dos seus rendimentos(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Aposentado há 13 anos, Silas Lima não pôde realizar o desejo de curtir vida tranquila e não pensa em parar de trabalhar, diante da perda do poder de compra dos seus rendimentos (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Diante de uma inflação mais alta, que corrói o benefício recebido da Previdência Social, e do desemprego batendo na porta de filhos e netos, homens e mulheres maiores de 75 anos entram na disputa no mercado de trabalho, em tempos de vacas magras. Sem poder usufruir da tranquilidade que a melhor idade deveria oferecer, eles brigam para voltar a trabalhar, seja formal ou informalmente. Segmentos da economia que costumam empregar trabalhadores maduros, a exemplo das redes de supermercado, perceberam a mudança na oferta de mão de obra.

“Há um ano, tínhamos que fazer parcerias para encontrar aqueles com mais de 65 anos dispostos a trabalhar. Hoje já não é necessário esse esforço. Com a crise econômica, veio a demanda espontânea deles e recebemos cerca de 150 currículos desses trabalhadores por mês em busca de alguma ocupação”, comenta a gerente-geral de recursos humanos do hipermercado Super Nosso, Viviane Veríssimo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego no país já ultrapassou a marca histórica dos 10%, afetando 10,4 milhões de brasileiros.

A quantidade de empregos com carteira assinada no setor privado caiu quase 4% no primeiro trimestre do ano, na comparação com idênticos meses de 2015. Já o rendimento médio de quem estava trabalhando no trimestre encerrado em fevereiro era de R$ 934, queda de 3,9% na comparação com o mesmo período do ano passado, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.

As oportunidades também ficaram escassas. Ainda de acordo com o IBGE, a população ocupada no Brasil, de 91,1 milhões de pessoas, diminuiu em torno de 1% entre 2015 e 2016. Isso ocorreu porque a quantidade de empregos com carteira assinada no setor privado sofreu redução de 1,5% entre setembro e novembro de 2015, e de 3,8% se comparados os mesmos meses de 2014. Foram fechados no Brasil 1,367 milhão de postos de trabalho com carteira assinada. As maiores quedas foram registradas na indústria (5,9%) e nos setores de informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (2,5%).

No hipermercado Super Nosso, foi criado no início de 2015 o Programa Sênior, que prevê a contratação de mão de obra com idade acima dos 65 anos. “Inicialmente, o projeto, como responsabilidade social e diante do envelhecimento da população, vinha suprir também a alta rotatividade entre os funcionários jovens”, comenta a gerente da rede, Viviane Veríssimo. Para contratar funcionários nessa faixa etária, a empresa fez parcerias com organizações governamentais.

“Contratando os idosos, percebemos que diminuiu a rotatividade e melhorou a qualidade do atendimento”, reconhece Viviane. Neste ano, com os efeitos da recessão, muitos candidatos se oferecem à rede para trabalhar. “Muitos moram com a família e estão diante de um desemprego do filho, da nora. Então, eles se sentem na obrigação de buscar alternativa de renda”, comenta.

ORÇAMENTO APERTADO Essa mão de obra tem as mesmas funções, inclusive, o mesmo salário, dos colegas mais novos, explica a gerente do Super Nosso. A rede oferece vagas para operador de caixa e embalador, entre outras. A remuneração varia de R$ 980 a R$ 2,5 mil, dependendo da função. Silas Pinto de Lima, de 78 anos, é um dos contratados. Ele trabalha no estabelecimento como embrulhador e diz precisar complementar sua renda. “Tenho uma filha de 11 anos para criar e, como todo aposentado, ganho pouco”, afirma.

Silas, que trabalhou em grandes empresas, como a Fiat Automóveis atua pela primeira vez no varejo. “Já havia procurado as indústrias, mas não me aceitam por causa da idade. Já fui gerente de manutenção de metalurgia e me aposentei há 13 anos”, diz. A inflação dos alimentos, os gastos com os cursos de inglês para a filha e outras despesas em casa pesam no orçamento da família de Silas, que não pensa mais em deixar de trabalhar. “Minha esposa é que cuida da casa. No supermercado, estou trabalhando das 7h às 15h20, inclusive, no fim de semana”, conta, sem reclamar. “É ótimo”, diz.

Problema para o Brasil do futuro
O retorno dos trabalhadores maduros, entretanto, engrossa a disputa de vagas, muitas vezes com quem está começando, destaca o analista de legislação e finanças do Sebrae, Haroldo Araújo. “Há um aumento do desemprego e mais gente disputando uma ocupação por necessidade. Isso gera o ‘nem, nem’, que são jovens que não trabalham nem estudam e vivem às custas dos mais velhos. Ou seja, os mais idosos cobrem o que os mais novos deveriam fazer”, afirma.

Araújo lembra que aqueles com mais de 65 anos procuram trabalhos que exigem conhecimento e habilidades, querem dar aulas de danças, ioga, natação, ou inglês, além de aceitar desempenhar outras funções. “O prazer ficou em segundo plano e os idosos agora fazem parte do grupo que procura uma alternativa de renda.” Essa pressão que fez com que as pessoas da chamada melhor idade voltassem ao mercado por necessidade é vista como um problema para o país, na visão de especialistas.

“Você tem uma população que deveria estar descansando e o que está havendo é pirâmide do trabalho invertida. Quem está embaixo não está conseguindo emprego. Quando volta alguém, alguém novo não está entrando”, comenta Araújo. Porém, para as empresas, como o hipermercado Super Nosso, isso não representa problema, mas, sim, solução.

Com 179 funcionários na faixa etária superior a 60 anos, a empresa mantém em seu quadro próprio um senhor de 79 anos, o mais velho. “Sempre temos vagas, mas, atualmente, houve uma redução porque não temos tanta rotatividade como antigamente e as pessoas pararam de sair do emprego devido à crise”, comenta a gerente Viviane Veríssimo. Ele afirma que os trabalhadores mais velhos têm comprometimento maior com o trabalho e apresentam menor quantidade de atestados médicos. “A faixa etária que mais nos entrega atestado é a de 20 a 29 anos. Além disso, os clientes elogiam a qualidade do atendimento dos idosos”, afirma, satisfeita.

Enquanto isso...
...reforma em jogo
Com a crise política no país, ficou em segundo plano, pelo menos por enquanto, o debate sobre a reforma da Previdência. As mudanças nas regras de aposentadoria estão sendo discutidas no Fórum da Previdência Social, que é composto por representantes do governo, dos trabalhadores (centrais sindicais), dos aposentados e dos empregadores. No ano passado, o Congresso Nacional instituiu a fórmula 85/95 – por meio da qual a mulher pode ter aposentadoria integral quando a soma do tempo de contribuição e da idade somem 85 pontos e o homem poderá obter o benefício quando a mesma soma for 95. O governo federal concordou com a fórmula, porém, na condição de progressividade. A partir de 31 de dezembro de 2018, mais um ponto será acrescido ao cálculo, que sobe com o passar dos anos. No fim de 2018, por exemplo, mulheres precisarão de 86 pontos e os homens de 96. Em dezembro de 2026, serão cinco pontos a mais – com as mulheres precisando de 90 pontos para se aposentar e os homens de 100.


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