O pregão dessa segunda-feira (14) sucedeu com alta de 0,94% quatro quedas da moeda norte-americana, que foi cotada a R$ 3,6247 na venda. O câmbio fechou o mês passado em R$ 4. De lá para cá, em apenas dois dias o pregão terminou com a moeda passando por valorização em relação ao dia anterior. “O mercado é maníaco-depressivo. Se fizer um gráfico [dos últimos meses], vai parecer um eletrocardiograma. Ele tenta antecipar os movimentos”, afirma o professor de finanças Paulo Vieira. No caso, diz o especialista, a principal causa é a possibilidade de interrupção do mandato da presidente Dilma Rousseff. “A causa principal é a perspectiva de mudança no Pal[acio do Planalto. A avaliação do mercado é que esse governo deixa a desejar em matéria de política econômica”, reitera.
Não é o único fator, contudo, a exercer influência sobre o câmbio. Vieira aponta, ainda, no cenário internacional, os efeitos da campanha eleitoral nos Estados Unidos, com o avanço de Donald Trump resultando em desvalorização mundial do dólar e os sinais do governo chinês para criar incentivos visando à retomada do crescimento acentuado da economia do gigante asiático. Além da questão política, considerada o principal fator de influência, o analista fundamentalista da corretora de investimentos Rico, Roberto Indech, afirma que a retomada de preços das commodities em março é fator que também tem peso sobre a valorização do real.
Ao longo deste mês, os preços de minério de ferro e petróleo tiveram alta de 20% e 10%, respectivamente. Na segunda-feira da semana passada, o minério teve a maior valorização da história, atingindo US$ 62,60 por tonelada no mercado chinês. Indech reforça o argumento com a desvalorização do dólar frente as moedas dos países emergentes no período: México (-2%), China (-1%), Rússia (-7%) e Brasil (-9%).
VENDA DE RESERVAS Em tom diferente, o analista financeiro Miguel Daoud discorda dos demais que atrelam o jogo político à valorização do real nas últimas duas semanas. “A valorização foi muito forte para os fatos políticos [do período]”, afirma. Nos três dias que antecederam a publicação de reportagem na revista Isto É divulgando a suposta delação do senador Delcídio do Amaral, do PT, em que teria citado a presidente Dilma e o ex-presidente Lula, o dólar já havia perdido 3% frente ao real. A moeda era cotada a R$ 4 na segunda-feira da semana passada, tendo recuado para R$ 3,88 no fechamento do pregão da quarta-feira.
“Os investidores começaram a vender com muita intensidade no mercado futuro. A razão não é a possível saída da presidente. Isso não acontece como um passe de mágica. O que se tinha era a venda de reservas para investir no Minha casa, minha vida (programa do governo federal de subsídio a moradia para a população de baixa renda)”, afirma Daoud, ressaltando que o ex-presidente Lula teve várias reuniões com a equipe econômica nas últimas semanas e a venda de reservas tem sido comentada por membros do governo federal.