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Estado de Minas

Crise afasta o país da atração de investimentos

Apesar da expectativa de passar a receber mais recursos estrangeiros, crise espanta prováveis interessados no Brasil


postado em 31/01/2016 06:00 / atualizado em 31/01/2016 08:32

Brasília – No ano passado, o real perdeu quase metade do valor em relação ao dólar em consequência da aguda crise de desconfiança que mergulhou o país em uma depressão econômica. Muita gente, principalmente do governo, argumentou que uma vantagem, a compensar parcialmente nossas agruras, seria a atração de investimentos estrangeiros. Haveria uma corrida para comprar companhias brasileiras ou iniciar operações aqui a partir do zero. Tudo pela metade do preço do fim de 2014. Não foi o que se viu. E, segundo especialistas, não se verá tão cedo.


O Investimento Direto no País (IDP) despencou 23% no ano passado, segundo dados apresentados na semana passada pelo Banco Central (BC). De acordo com os novos critérios da instituição, o volume total passou de US$ 96,9 bilhões para US$ 75,1 bilhões. O próprio BC espera não mais de US$ 60 bilhões em 2016.

“Não adianta o Brasil achar que, porque os ativos ficaram mais baratos, os investidores estrangeiros vão comprá-los. A concorrência aumentou. Outros países que também tiveram desvalorização de suas moedas estão muito mais atraentes do que o Brasil hoje”, afirma Heinz Ruettimann, estrategista em mercados emergentes do Banco Julius Baer, em Zurique, na Suíça.

Para Ruettimann, se um investidor for procurar um país da América do Sul para colocar dinheiro, vai optar pela Colômbia, que está em franco desenvolvimento. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 3% no ano passado, e, neste, mesmo com uma taxa ligeiramente menor, não deve fazer feio. Outro grande atrativo está no fato de o país fazer da parte do TPP, a Aliança Transpacífico, acordo de livre comércio que inclui os Estados Unidos e nações latino-americanas e asiáticas.

O Brasil não assinou nenhum acordo relevante para facilitar o comércio internacional e amargou no ano passado queda do PIB que deverá chegar a 4% – o número oficial será apresentado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no início de março. Neste ano, expectativa do mercado é de redução de 3%. Quando se olha para a renda per capita, será o terceiro ano seguido de queda, o que, tecnicamente, coloca o Brasil em uma depressão, algo bem mais grave do que uma recessão.

Ruettimann alerta para o fato de que os problemas do país se devem, sobretudo, à queda do preço das commodities, os produtos que se destacam nas exportações brasileiras, e à crise política. Mas a brusca retração do PIB, em consequência disso, passa a ser um problema em si: as pessoas não querem investir porque não contam com a ampliação do mercado local, ou mesmo com sua manutenção nos níveis atuais, considerando as perspectivas de alta do desemprego e de queda na renda.

“Pode ser muito mais interessante investir em um país em que os ativos estão caros, com uma taxa de retorno que é boa, do que em um país onde as empresas estão baratas, mas as chances de ganhar são pequenas, ou o investimento vai demorar muito para dar retorno”, aponta o responsável por operações de hedge da CM Capital Markets, Fernando Barroso. Ele alerta, porém, para o fato de que o problema é muito maior do que o fluxo de recursos externos para o país. “Não é por aí que virá a solução. O problema é a falta de investimento de modo geral, devido à crise de confiança que o país atravessa”, alerta.

Outros termômetros

Na divulgação das contas nacionais pelo IBGE, os olhos estarão voltados não só para o PIB em si, mas também para a Formação Bruta de Capital Fixo, o principal item quando se fala nos recursos destinados ao aumento em quantidade e qualidade da produção do país. No terceiro trimestre do ano passado, a queda foi de 4% em relação ao mesmo período do ano anterior, seguindo uma redução de 6% do segundo trimestre, também na comparação com igual ciclo de 2014.

Para o economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho, há grandes chances de as coisas piorarem. O problema não está só nas empresas, que estão se expandindo menos, ou que estão paradas. Há as que estão encolhendo ou mesmo fechando as portas. Velho vê risco considerável de o BC ter de elevar os juros nos próximos meses – algo que, por decisão política, evitou-se neste mês – para segurar a inflação, que resiste a cair. “Se isso ocorrer, a tendência de desinvestimento por parte das empresas é grande.”

Ruettimann, do Julius Baer, chama atenção para o desestímulo causado aos estrangeiros pelas perspectivas de que o real continue se desvalorizando. “Os ativos podem estar baratos, mas se vão estar mais baratos ainda daqui a algum tempo, para que comprar agora”, indaga. O dono de um fundo de gestão de ativos que prefere não ser identificado usou o mesmo argumento. “Não há incentivo para investir em uma economia que não está protegida pela moeda, caso do Brasil atualmente. É também, em grau muito menor, o caso da China. Todo mundo sabe que o yuan vai se desvalorizar gradualmente”, diz.

O economista João Saboia, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) vê perspectivas favoráveis para o Brasil, mas não para logo. “Não estamos condenados à recessão para o resto da vida, mas o crescimento dificilmente virá antes de 2018”, afirma. Na avaliação dele, é preciso que o se resolva o impasse que o país atravessa. “Temos um problema fiscal sério. Havia um superavit fiscal razoável até 2014, mas, depois disso, o governo tomou o controle. E o problema é que, atualmente, isso só piora, porque o PIB se reduz e a arrecadação cai em proporção ainda maior.” 


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